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Empresas batem União e hoje são o maior caixa dos partidos
Em 2008 empresários deram R$ 130 mi ao PT e PSDB -65% das receitas das duas siglas
Balanços das siglas revelam aumento das doações após chegada do PT à Presidência; para tesoureiros, empresas sofrem "cerco da imprensa"
RUBENS VALENTE
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A leitura dos balanços financeiros produzidos ao longo de
12 anos por dois dos principais
partidos, o PT e o PSDB, revela
que as empresas se converteram na principal fonte do caixa
das siglas, ultrapassando o próprio Fundo Partidário.
O levantamento feito pela
Folha confirma a percepção de
que o poder atrai recursos de
empreiteiros que mantêm contratos públicos. Após o PT assumir a Presidência, em 2003,
os diretórios estadual paulista
e nacional da sigla se tornaram
o destino preferencial das doações privadas, superando, ano a
ano, arrecadações do seu mais
direto adversário, o PSDB.
As empresas despejaram, só
no ano passado, R$ 130,2 milhões nas contas do PT e do
PSDB -R$ 82 milhões desse
total foram para os petistas. O
valor inclui os diretórios nacionais e os estaduais de São Paulo. Isso representou 65% das
receitas totais obtidas pelas
duas siglas. A maioria dos recursos foi revertida para campanhas eleitorais, no sistema
das doações ocultas, e a outra
parte ficou no caixa partidário.
O valor de 2008 é muitas vezes superior à normalidade dos
outros anos, sem paralelo na
história dos partidos. O levantamento feito pela Folha revelou que ao longo do período
1997-2002, o PT, por exemplo,
havia recebido, ao todo, meros
R$ 370 mil de empresas.
No sentido contrário, os balanços partidários demonstram o fracasso da arrecadação
de recursos entre os filiados.
Recordista
Nos registros públicos do
TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o empresário Rogério Ricco Bertoni, dono de uma empreiteira em São Paulo, é um
entre os centenas de doadores
individuais nas eleições de
2008. Teria doado R$ 100 mil
para o comitê financeiro de vereador do PTB paulistano.
Contudo, as contas do diretório estadual do PT paulista
-que não estão abertas na internet- revelam que o empresário foi muito além: Ricco Bertoni foi o maior doador individual a um partido político no
ano passado em todo o Estado,
com R$ 1,35 milhão entregue,
como pessoa física, ao caixa dos
petistas.
A empresa de Bertoni, a Logic Engenharia, doou mais R$
900 mil para o mesmo partido.
Bertoni, que foi procurado
pela Folha ao longo de cinco
dias, mas não deu retorno a um
pedido de entrevistas, expressa
um fenômeno que ganhou corpo nos últimos três anos, a doação direta ao caixa partidário.
Desde 2002, o TSE adotou
como norma divulgar ao final
das eleições, pela internet, os
nomes dos doadores. Os empresários passaram então a
procurar o caixa das siglas, que
só divulgam seus balanços no
ano seguinte à eleição.
Ramo de Bertoni, a construção civil foi a principal fonte de
financiamento dos partidos no
ano de 2008.
Levantamento
A Folha pesquisou 443 doações feitas por empresas aos
partidos em 2008 -um recorte
que compreende 97% do total
dos recursos envolvidos. As
empreiteiras foram responsáveis por 53% dos recursos, cerca de R$ 67 milhões do total de
R$ 126 milhões pesquisados.
Apesar da onda de doações
empresariais sem precedentes,
os partidos reclamam. Para o
ex-deputado federal Márcio
Fortes (RJ), tesoureiro da campanha do governador José Serra em 2002 e do diretório nacional do PSDB até 2008, está
mais difícil captar recursos
agora, "especialmente para
quem está na oposição".
Segundo o ex-tesoureiro estadual do PT paulista Danilo
Camargo, a revelação sobre o
mensalão em 2005 e a Operação Castelo de Areia, que investigou supostas doações eleitorais ilegais feitas pela empreiteira Camargo Corrêa -a empresa nega ter cometido irregularidade-, acabaram por dificultar a arrecadação para as
campanhas eleitorais.
Tanto o presidente do diretório regional do PT, Edson
Edinho Silva, quanto Danilo e
Márcio Fortes afirmaram que
as empresas doam diretamente
para os partidos para escapar
da pressão dos candidatos.
"Em vez de negociar no varejo,
as empresas doam para o atacado", explicou Edinho.
Doações ocultas
Integrante do comitê financeiro de campanhas do PSDB,
como as de Alckmin, o secretário-adjunto do Gestão do governo de São Paulo e tesoureiro
do PSDB, Marcos Monteiro,
apontou que muitos empresários optam por contribuir diretamente para partidos porque a
divulgação dos doadores acontece depois da campanha.
Além de temporariamente
preservados dos holofotes, empresários não querem ser associados diretamente a uma candidatura, até para não sofrer represálias dos adversários. "Sabe-se que a empresa doou. Mas
não quem é o beneficiário do
dinheiro", diz Monteiro.
"Não é da tradição brasileira
as pessoas doarem. A contribuição privada é necessária.
Em ano eleitoral, os partidos
fazem esforço maior para arrecadar. Nos anos sem eleição,
partidos não têm como sair pedindo doação, fica meio esquisito você estar procurando dinheiro", disse o vice-presidente
executivo do diretório nacional
do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira.
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