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PT NO DIVÃ
Presidente prometeu verbas às Forças Armadas, mas chamou generais de "bando'; palavra foi retirada da transcrição
Lula comete gafe em almoço com militares
WILSON SILVEIRA
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A informalidade do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva rendeu-lhe uma gafe no almoço de fim de
ano com cerca de 140 oficiais-generais das Forças Armadas, no
Clube do Exército. No discurso,
Lula referiu-se aos generais como
um "bando", termo em geral associado ao conceito de quadrilha.
"Não adianta ter um bando de
generais e um bando de soldados,
se eles não têm sequer pólvora ou,
quem sabe, uma bala para usar
em caso de necessidade", disse o
presidente ontem, ao prometer
que até o fim de seu governo, em
2006, as Forças Armadas poderão
festejar avanços nas políticas econômica e social e a recuperação da
sua capacidade operacional.
As Forças Armadas enfrentam
uma crise. Um sinal dela foi a dispensa, em novembro, de recrutas
do Exército antes do tempo previsto, por falta de verba. O ministro da Defesa, José Viegas, já declarou que o Orçamento 2004
-R$ 4,1 bilhões para custeio e investimentos- é insuficiente. Segundo ele, R$ 7 bilhões é o mínimo para os projetos prioritários.
Na transcrição oficial do discurso divulgada pelo site do Palácio
do Planalto, a palavra bando, nas
duas vezes em que foi dita, foi trocada por grupo. É comum a Secretaria de Imprensa do Planalto
"corrigir" os discursos do presidente antes de divulgá-los. Isso
também ocorria no governo Fernando Henrique Cardoso.
Um general que não quis ser
identificado disse a jornalistas
que não esperava um discurso
machadiano (referindo-se ao escritor Machado de Assis), mas
considerou o presidente deselegante. Segundo ele, os oficiais relevam esse linguajar, por se tratar
de um presidente "espontâneo".
Lula começou o discurso com
uma piada da qual ninguém riu:
"Na reforma ministerial, vamos
arrumar um jeito de diminuir o
nome do ministério do general
[Jorge] Félix", disse o presidente,
referindo-se ao Gabinete de Segurança Institucional. O trecho foi
suprimido da transcrição oficial.
Batalhas
Lula disse que, quando assumiu
o governo, o país não tinha "um
dólar sequer" para financiar suas
exportações e que encerrava o
ano com um superávit comercial
de quase US$ 24 bilhões: "Esse fato por si só me dá condições para
dizer às autoridades aqui presentes, aos generais da três Armas
[Forças], aos meus ministros e a
vocês, que nós vencemos a primeira batalha. A guerra que nos
propusemos a enfrentar será feita
de algumas centenas de batalhas".
"E nós teremos de ter cuidado,
cautela, maturidade, pensar antes
de falar, falar apenas aquilo que é
possível e necessário fazer, para
que a gente consiga atingir nosso
objetivo, que é colocar o Brasil no
patamar dos países desenvolvidos, como nação economicamente viável, tecnologicamente viável
e politicamente respeitada", disse.
Lula fez um balanço dos 11 meses de governo e disse que "os
passos futuros serão muito maiores, em solos mais seguros e em
terras mais férteis". Repetiu que
não pode e não vai errar, "porque
a história não dá duas oportunidades a um único ser humano".
Segundo ele, "alguém poderia
se dar por contente" se conseguisse realizar em quatro anos o que
seu governo fez em 11 meses:
"Avançamos numa coisa que parecia impossível: avançamos no
tratamento de reformas estruturais que vinham sendo há muito
tempo adiadas, mas que, na verdade, eram simplesmente inadiáveis". Ele disse que espera ir à promulgação das reformas previdência e tributária no próximo dia 19.
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