|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MILITARES
Concorrência para novos caças sai por US$ 700 mi; empresas norte-americanas e sueca também estão no páreo
Rússia ameaça França na licitação da FAB
IGOR GIELOW
COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHA
Uma batalha aérea, envolvendo
europeus, russos e norte-americanos, começou na quarta-feira
passada sobre o Brasil. Envolvendo US$ 700 milhões, a concorrência para a escolha dos novos
aviões de combate da FAB (Força
Aérea Brasileira) é um dos principais negócios do gênero em curso
no mundo.
Os franceses da Dassault e seu
Mirage 2000 pareciam ser os favoritos para ganhar o negócio, especialmente pelo fato de prometerem construir o avião no Brasil,
em parceria com a Embraer.
Mas o jogo pode sofrer uma reviravolta. A fabricante russa Sukhoi revelou à Agência Folha que
está pronta para negociar um
acordo de transferência tecnológica total para vender seu avião, o
Su-27 Flanker -um produto militarmente mais tentador que o
Mirage, por ter desempenho considerado superior.
""Estamos prontos para entregar
ao Brasil não só o avião, mas também transferir as tecnologias para
construção e reparo para a aeronave e os sistemas de combate",
afirmou o diretor-geral adjunto
do Complexo de Aviação Militar
Sukhoi, Alexander Klementiev.
Transferência tecnológica é a
palavra mágica. ""As empresas deverão apresentar propostas de
compensação comercial, garantindo que os valores a serem pagos pelo Brasil na compra das aeronaves serão reinvestidos, por
aquelas empresas, na transferência de tecnologia que permita à
FAB manter os softwares da aeronave de forma autônoma", diz o
Comando da Aeronáutica.
Fabricar avião no país não é garantia de transferência. ""Restaria,
à Embraer, a tecnologia de dobrar
algumas latas e apertar alguns parafusos na "linha de montagem"",
escreveu sobre a eventual produção do Mirage no Brasil, em dezembro de 1999, o major-brigadeiro-do-ar Aluízio Weber.
Probabilidade
O relatório, que era reservado,
mas vazou, condenava a venda de
20% da Embraer aos franceses
-e lhe custou o assento no conselho da empresa. A Dassault divide com outros três grupos franceses o controle dessa fatia da fabricante paulista.
""Ainda assim, o negócio mais
provável é com os franceses",
analisa Terence Taylor, diretor do
escritório norte-americano do
Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (Londres). ""O
Brasil deverá se preocupar, e com
razão, sobre peças e manutenção,
que não são exatamente um ponto forte dos russos", completa.
Já para Ruslan Pukhov, diretor
do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias em Moscou, a
Sukhoi está numa nova fase, e os
acordos com a China e com a Índia, que produzem Su-27 em seu
próprio território, são prova disso. ""Além disso, um negócio desses precisa de aprovação presidencial, o que está garantido, uma
vez que o Brasil não é inimigo."
EUA
Silenciosamente na disputa estão os EUA. Duas empresas se
apresentaram na retirada da proposta de compra, em Brasília. A
Boeing deve oferecer o F/A-18, e a
Lockheed, o popular F-16.
A estratégia dos norte-americanos, segundo a Agência Folha
apurou, é a de esperar a concorrência. O maior problema é a indisposição do governo dos EUA
em ceder material com tecnologia
de ponta para outros países que
não aqueles que possam ter alguma utilidade estratégica -caso
de Israel e Taiwan.
Exemplo recente disso é a concorrência chilena Caza-2000,
muito semelhante à brasileira. Os
F-16 ganharam, mas o fato de os
norte-americanos terem apresentado uma versão antiquada do caça levou o processo a um impasse.
O problema não é só com os
EUA. Uma eventual vitória francesa levanta insinuações sem
comprovação, entre analistas, de
uma compensação pela perda para os norte-americanos da concorrência do Sivam (Sistema de
Vigilância da Amazônia).
O Brasil está trocando sua frota
de 18 Mirage F-103, que vai caducar em 2005. A idéia é comprar
entre 12 e 24 aviões com capacidade de interceptação supersônica
de longo alcance.
O orçamento para o programa
F-X, como é chamada a compra,
se estende por oito anos e faz parte de um plano maior de modernização, de US$ 3 bilhões -parte
já está sendo gasta na troca do recheio eletrônico dos caças táticos
F-5, que, com a reforma, devem
durar até 2015 no ar.
Suecos
Além dos franceses e russos, devem apresentar um programa de
transferência de tecnologia os
suecos da Saab, que querem vender seu jato Gripen. A venda é feita por meio da BAe (British Aerospace) e pode ter moldes semelhantes à concorrência ganha pelo
Gripen na África do Sul, onde empresas locais produzem peças para o avião.
Segundo John Neilson, chefe de
comunicação da BAe, a empresa
ainda não irá se pronunciar. Pesa
contra o Gripen o fato de ser uma
aeronave menor e de raio de combate limitado, mais adequada ao
céu sueco do que ao brasileiro.
A FAB fará uma pré-seleção até
novembro. As propostas podem
ser entregues até outubro. Entre
novembro e dezembro, sairá o
vencedor. O contrato final, informa a Aeronáutica, só será assinado em junho de 2002, permitindo
negociações sobre transferência
de tecnologia e financiamentos.
Completam a lista de empresas
interessadas o consórcio europeu
que fabrica o Eurofighter
Typhoon e a russa RAC, que vende os famosos MiG-29 ao exterior.
O problema do primeiro é o custo
da aeronave, mais de US$ 50 milhões. Já o MiG-29, um avião considerado um dos melhores de sua
geração, sofre com o envelhecimento do projeto e a péssima experiência de governos como o do
Peru, que comprou os aviões e enfrentou depois a falta de peças.
Colaboraram LEONARDO CRUZ, de Londres, e MARTA SALOMON, da Sucursal
de Brasília
Texto Anterior: Pernambuco: Ex-prefeito de Recife troca o PFL pelo PSDB Próximo Texto: Negócio tem implicação estratégica Índice
|