|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PERSONALIDADE
Escritor teve enfarte em seu apartamento em Nova York; corpo será enterrado na sexta-feira no Rio
Morre aos 66 o jornalista Paulo Francis
CLÁUDIA TREVISAN
de Nova York
O jornalista e escritor Paulo
Francis, 66, morreu ontem em Nova York às 6h25 (9h25 em Brasília)
depois de sofrer um enfarte.
O corpo de Paulo Francis deve
ser enterrado na sexta-feira à tarde
ou no sábado de manhã, no cemitério São João Batista (Botafogo,
zona sul do Rio), de acordo com as
informações fornecidas por Lúcia
Nolasco, sua cunhada.
No mesmo cemitério, já estão
enterrados os pais de Francis. Na
quinta-feira, haverá um velório
em Nova York, das 11h às 14h, na
casa funerária Krtil.
A mulher de Francis, Sônia Nolasco, ouviu o jornalista reclamar
de dores por volta das 6h. Ele estava trabalhando no andar inferior
do dúplex onde vivia. Sônia estava
no andar superior.
Francis disse que sentia dores no
ombro esquerdo e que estava com
dificuldade para respirar. Sônia
chamou o serviço médico de
emergência de Nova York.
Quando os paramédicos chegaram ao apartamento, Francis ainda estava vivo, mas respirando
com muita dificuldade.
Os paramédicos tentaram reanimá-lo, sem sucesso. Francis morreu poucos minutos depois.
Velório
O corpo foi retirado do apartamento às 11h45 e levado a uma funerária no Brooklyn, onde será
embalsamado e preparado para o
velório de amanhã. O corpo será
levado ao Brasil no vôo da Varig
que sai de Nova York às 21h45.
Francis vinha sentindo dores no
ombro esquerdo há alguns dias.
Acreditava que se tratava de uma
bursite (inflamação).
O jornalista Lucas Mendes, com
quem Francis fazia o programa
"Manhattan Conection", da
GNT, disse que ele reclamou de
dores na sexta-feira pela manhã,
antes da gravação do programa.
No mesmo dia, Francis tomou
uma injeção para dor receitada por
seu médico, Jesus Cheda.
Anteontem, Francis trabalhou
normalmente. Por volta das 15h,
foi até o escritório da Rede Globo
gravar sua coluna diária para o
"Jornal da Globo". Segundo funcionários da emissora, ele estava
bem-humorado e falante.
No fim do dia, voltou a reclamar
de dores no ombro. À noite, Francis jantou com Sônia em um restaurante chinês perto de sua casa e
marcou um almoço para ontem
com o amigo Roberto Moritz.
Melhor momento
As pessoas que estiveram ou
conversaram com Francis nos últimos dias disseram que ele estava
muito bem, apesar de eventualmente reclamar da dor no ombro.
Na opinião de Lucas Mendes e
Caio Blinder -outro companheiro do "Manhattan Conection"-
Francis estava em um dos melhores momentos de sua vida.
Lucas Mendes foi uma das poucas pessoas que puderam entrar na
casa de Francis na manhã de ontem. Ele e Dario Campos, funcionário do consulado brasileiro em
Nova York, ajudaram Sônia nos
procedimentos burocráticos.
O cônsul do Brasil em Nova
York, Marcus de Vincenzi, chegou
ao apartamento às 11h15.
O corpo de Francis foi liberado
depois de ser examinado por um
médico do Escritório de Exames
Médicos de Nova York (equivalente ao Instituo de Medicina Legal
brasileiro) e pelo médico Alvin
Freymen, que há anos trabalha para o consulado brasileiro.
Segundo Mendes, várias pessoas
ligaram para Sônia durante a manhã, entre elas o presidente FHC, o
governador do Rio Grande do Sul,
Antonio Britto, e o senador Eduardo Suplicy.
"É uma tremenda tragédia",
disse Mendes, que era uma das
pessoas mais próximas de Francis
em Nova York. "Com aquelas
contradições, aqueles disparates,
ele era brilhante e dava vitalidade,
despertava a inteligência das pessoas", acrescentou.
Os amigos de Francis faziam
questão de falar da diferença entre
a imagem pública do jornalista
-muitas vezes agressiva- e seu
comportamento na intimidade.
Livros inéditos
O jornalista Paulo Francis preparava um romance histórico sobre o
período de Getúlio Vargas na história política do país.
Segundo o editor Luiz Schwarcz,
da Companhia das Letras, o livro
receberia o nome de "O Homem
que Inventou o Brasil".
Além desse trabalho, Francis
preparava "Cabeça", a terceira
parte da trilogia "Cabeça de Papel" e "Cabeça de Negro".
Schwarcz disse ainda à Folha
que, em janeiro, o jornalista lhe
disse que tinha a intenção de escrever um livro de contos, com narrativas bem curtas.
Paulo Francis publicou dois livros pela Companhia: "Trinta
Anos Esta Noite - 1964: O Que Vi e
Vivi" (1994, 30 mil exemplares
vendidos) e "Waal - Dicionário da
Corte de Paulo Francis" (1996, 10
mil exemplares).
Médico
Para o jornalista Nelson Motta,
amigo de Paulo Francis há 20 anos
e seu colega no "Manhattan Connection", a última edição do programa, gravada na sexta-feira passada, foi "a mais engraçada".
Antes do início do programa, relatou o jornalista, Francis queixou-se de uma dor no braço. "Ele
achava que era bursite e eu até recomendei que ele fosse ao meu
acupunturista, mas o Francis não
acreditava em nada disso."
No mesmo dia, Francis se consultou em Nova York com seu médico particular, Jesus Cheda. Segundo relato feito à família da viúva, Sônia Nolasco, Cheda teria
aplicado uma injeção para a dor
que Francis sentia no ombro.
"O dr. Cheda até costumava
brincar, dizendo que ele (Francis)
tinha um colesterol de ouro", disse Lúcia Nolasco, irmã de Sônia.
De acordo com ela, Cheda teria
ficado chocado com a morte de
Francis. Procurado pela Folha em
sua casa e em seu consultório no
Rio, Cheda não foi localizado. Segundo um funcionário, ele estaria
em viagem a São Paulo.
Colaborou Reportagem Local e Sucursal do Rio
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|