São Paulo, terça-feira, 24 de março de 2009

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crítica

Banda inova em arranjos e interpretações

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

A grande façanha do Radiohead no show de anteontem, na Chácara do Jockey, em São Paulo, foi ter dado coerência ao conjunto de sete álbuns tão diferentes que compõem seu repertório, ao mesmo tempo em que ousou nos arranjos de faixas que soaram mais modernas do que nos registros de estúdio.
As facetas roqueira, eletrônica, sombria, etérea, pop e "difícil" formaram um só hino tortuoso e mágico, pontuado por hits de formato um pouco mais tradicional, como "Karma Police", "Fake Plastic Trees" e o cântico universal dos "losers", "Creep", que fechou a noite.
Mesmo estas, porém, o talentoso Thom Yorke conseguiu mostrar de um jeito diferente. O pequeno vocalista, que mal podia ser visto por quem estava mais atrás no espaço, esgoelava-se em sua melancolia da mesma forma que nos discos. Só que, de cima do palco, levou o coro de presentes que sabiam de cor as letras para direções diferentes das originais.
No palco, tubos que lembravam estalactites de uma caverna tinham uma viva iluminação, que mudava de acordo com o clima de cada canção. O telão dividia-se em quatro ou em múltiplos quadros e mostrava detalhes dos artistas em ação ou as expressões faciais de Yorke.
Conhecidos por incluir ruídos na textura de seu som, o grupo jogou trechos de transmissões de rádio, em português, em passagens entre faixas. O set list privilegiou o álbum mais recente da banda, "In Rainbows", e teve dois blocos de bis.
Yorke e sua trupe não interagiram com a plateia. Ficaram no "boa noite" e alguns "obrigados". A frieza, porém, não pegou mal para os fãs, que comparavam listas de concertos anteriores, por vezes celebrando a inclusão de canções inesperadas, noutras lamentando ausências.
Enquanto escrevo este texto, blogs musicais e sites noticiosos já fervem na rasgação de seda com relação ao concerto. Ainda assim, vale reforçar que foi algo histórico. Tendo recebido, nos últimos tempos, uma pancada de artistas reciclando glórias do passado, como Elton John ou Duran Duran, o público brasileiro pôde ver uma banda de alta qualidade no auge de sua carreira. Os dois shows (no Rio, na sexta, e em São Paulo, anteontem) já são um divisor de águas.

Ressalva
A única ressalva fica por conta de a banda ter dado demasiado espaço para o supervalorizado "In Rainbows" e deixado de lado belas faixas do semi-esquecido "The Bends" (1995) e do clássico "OK Computer" (1997). Numa apresentação de quase duas horas e meia, não há desculpas por não tê-las lembrado com mais carinho.


Avaliação: ótimo


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