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crítica
Banda inova em arranjos e interpretações
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
A grande façanha do
Radiohead no show
de anteontem, na
Chácara do Jockey, em São
Paulo, foi ter dado coerência
ao conjunto de sete álbuns
tão diferentes que compõem
seu repertório, ao mesmo
tempo em que ousou nos arranjos de faixas que soaram
mais modernas do que nos
registros de estúdio.
As facetas roqueira, eletrônica, sombria, etérea, pop e
"difícil" formaram um só hino tortuoso e mágico, pontuado por hits de formato um
pouco mais tradicional, como "Karma Police", "Fake
Plastic Trees" e o cântico
universal dos "losers",
"Creep", que fechou a noite.
Mesmo estas, porém, o talentoso Thom Yorke conseguiu mostrar de um jeito diferente. O pequeno vocalista,
que mal podia ser visto por
quem estava mais atrás no
espaço, esgoelava-se em sua
melancolia da mesma forma
que nos discos. Só que, de cima do palco, levou o coro de
presentes que sabiam de cor
as letras para direções diferentes das originais.
No palco, tubos que lembravam estalactites de uma
caverna tinham uma viva iluminação, que mudava de
acordo com o clima de cada
canção. O telão dividia-se em
quatro ou em múltiplos quadros e mostrava detalhes dos
artistas em ação ou as expressões faciais de Yorke.
Conhecidos por incluir
ruídos na textura de seu som,
o grupo jogou trechos de
transmissões de rádio, em
português, em passagens entre faixas. O set list privilegiou o álbum mais recente da
banda, "In Rainbows", e teve
dois blocos de bis.
Yorke e sua trupe não interagiram com a plateia. Ficaram no "boa noite" e alguns
"obrigados". A frieza, porém,
não pegou mal para os fãs,
que comparavam listas de
concertos anteriores, por vezes celebrando a inclusão de
canções inesperadas, noutras lamentando ausências.
Enquanto escrevo este
texto, blogs musicais e sites
noticiosos já fervem na rasgação de seda com relação ao
concerto. Ainda assim, vale
reforçar que foi algo histórico. Tendo recebido, nos últimos tempos, uma pancada
de artistas reciclando glórias
do passado, como Elton
John ou Duran Duran, o público brasileiro pôde ver uma
banda de alta qualidade no
auge de sua carreira. Os dois
shows (no Rio, na sexta, e em
São Paulo, anteontem) já são
um divisor de águas.
Ressalva
A única ressalva fica por
conta de a banda ter dado demasiado espaço para o supervalorizado "In Rainbows" e deixado de lado belas faixas do semi-esquecido
"The Bends" (1995) e do clássico "OK Computer" (1997).
Numa apresentação de quase duas horas e meia, não há
desculpas por não tê-las lembrado com mais carinho.
Avaliação: ótimo
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