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"COLE PORTER - ELE NUNCA DISSE..."
Espetáculo de Charles Möeller traz boa música e pouco teatro
KIL ABREU
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Cole Porter - Ele Nunca
Disse Que me Amava"
pretende tratar não apenas de um
tema americano, a vida e obra do
notável compositor. Pretende
também trazer ao palco certa
idéia sobre o musical. Mas cumpre apenas em parte a característica -marcante na cultura americana de espetacularização da vida
e estetização da imagem, aqui facilitada pelo caráter biográfico do
espetáculo.
Em cena, a vida de Porter (1898-1964) é contada sob o ponto de
vista de cinco das mulheres que o
acompanharam e uma personagem simbólica, a morte. O formato do espetáculo, despretensioso,
não se compromete propriamente com uma dramaturgia e intercala trechos narrativos com números musicais, ao tempo em que
desenha, em traços rápidos, a
imagem do biografado.
Em um primeiro momento,
Porter é o compositor de talento
incomum, compulsivo na criação, alegre e fútil nas relações. Em
seguida, depois da amputação de
uma das pernas devido a um acidente, vem o Cole Porter amargo
e solitário.
A direção de Charles Möeller
acomoda-se ao esquematismo da
narrativa e ao convencionalismo
das soluções cênicas. A cenografia, inspirada em Mondrian, tenta
uma ambientação "clean", em
contraste ao mundo de informações dos detalhados figurinos. O
diálogo anuncia-se promissor,
mas, no decorrer das cenas, torna-se enfadonho.
Em compensação, "Cole Porter" sustenta-se muito bem naquilo que é essencial ao gênero. A
direção musical proporciona ao
público o que de melhor o espetáculo oferece. Com um elenco de
excelentes intérpretes, Claudio
Botelho explora sem receios os diferentes registros vocais, criando
uma dinâmica que, tanto nos
standards quanto nas canções
menos conhecidas, consegue a
adesão do público.
Entre as atrizes/intérpretes, não
há como não se surpreender com
Gottsha (Ethel Merman, a atriz/
cantora favorita) e, sobretudo,
com Ivana Domenico (Elsa Maxwell, a melhor amiga), esta revelando extraordinária voz e irresistível talento cômico.
Ignez Vianna é a que consegue
firmar melhor o personagem, talvez por desconfiar da sofisticação
coquete da mãe do compositor e
fazer dela uma figura cativante,
apesar da frivolidade.
Por fim, "Cole Porter - Ele Nunca Disse Que me Amava", ao duplicar o já conhecido simulacro
do compositor, resulta ótima diversão musical, mas não se preocupa em ser um grande espetáculo de teatro.
Cole Porter - Ele Nunca Disse
que me Amava
Texto e direção: Charles Möeller
Com: Ada Chaseliov, Alessandra Verney,
Gottsha, Ignez Vianna, Ivana Domenico e
Stella Maria Rodrigues
Quando: sex. a dom., às 21h. Até 25/3
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de
Andrade Filho, 722, tel. 5693-4000)
Quanto: R$ 15 a R$ 40
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