S�o Paulo, quarta-feira, 26 de fevereiro de 1997
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Brasiliense enfrenta crise financeira

ERIKA SALLUM

free-lance para a Folha
Fundada em 1943 pelo historiador Caio Prado Jr. e pelo escritor Monteiro Lobato, a editora Brasiliense atravessa uma das piores crises financeiras de sua hist�ria.
Atualmente presidida por Danda Prado, filha de Prado Jr. -que assumiu a empresa depois da morte de seu irm�o, Caio Graco Prado, em 1992-, a Brasiliense j� viveu per�odos de gl�ria.
Seu �pice foi na d�cada de 80, quando passou a publicar a cole��o "Primeiros Passos", que chegou a vender mais de 2,5 milh�es de exemplares, oferecendo aos leitores textos acess�veis sobre temas acad�micos, como "O Que � Ideologia", de Marilena Chaui.
A editora tamb�m foi respons�vel pela introdu��o no pa�s da literatura beat de Jack Kerouac e Charles Bukowski, entre outros autores que revolucionaram o mercado brasileiro.
Diferentemente de 1981, ano em que foram lan�ados 415 t�tulos, de acordo com a obra "Movimentos do Livro no Brasil" (�tica), hoje quase n�o h� novas publica��es; e, segundo a Folha apurou, muitos funcion�rios n�o recebem seus sal�rios em dia.
Procurada pela reportagem v�rias vezes, Danda Prado se recusou a dar entrevistas. Em resposta a fax enviado pela Folha no �ltimo dia 19, a atual presidente da editora preferiu manter sil�ncio sobre a crise da empresa.
Em reportagem publicada na "Gazeta Mercantil" do �ltimo dia 22 de janeiro, ela disse que est� negociando a associa��o da companhia com um banco e que um de seus planos � relan�ar v�rias obras.
Detentora de um important�ssimo cat�logo, com cerca de 800 t�tulos, a editora, por falta de verba, perdeu muitos de seus escritores.
Um caso que ilustra bem a situa��o da Brasiliense � o do ensa�sta e tradutor Paulo C�sar de Souza, que recebeu da empresa uma carta avisando que seu livro "Sigmund Freud e o Gabinete do Dr. Lacan" iria sair do cat�logo.
Por uma certa quantia, a Brasiliense ofereceu ao escritor a compra do fotolito e dos cerca de mil exemplares que restavam da obra.
Interessado em apenas parte dos exemplares, Souza ficou indignado quando, ao procurar a editora, soube que os livros j� haviam sido vendidos, por cerca de R$ 1 cada, a pequenos comerciantes.
"Tenho apenas um volume do livro, mas levo tudo na esportiva. Creio que n�o houve m�-f�, mas sim total desorganiza��o", diz.
O tradutor e professor de literatura Modesto Carone � outro que se afastou da editora: "� uma pena que ela esteja mal das pernas, pois teve presen�a enorme na divulga��o de novos autores".
� bastante complexo entender os motivos da crise financeira da Brasiliense e precisar os valores de suas d�vidas.
H� diversas vers�es para explicar por que ela est� em dificuldades, mas ningu�m fala abertamente sobre o tema.
Segundo a Folha apurou, uma das vers�es aponta como falha a falta de profissionalismo que sempre acompanhou a hist�ria da empresa, mesmo antes da morte de Caio Graco, agravada por s�rios desentendimentos familiares.
Ainda segundo essa vers�o, os preju�zos econ�micos se devem muito ao fracasso do projeto Casa do Livro, de Graco, esp�cie de supermercado em que as obras eram vendidas a pre�os menores.
Outra explica��o credita a crise � atual administra��o, de Danda, uma pessoa com qualificada forma��o intelectual, mas sem habilidades para gerir uma editora.
Nessa linha de pensamento, a Brasiliense, antes da morte de Graco, estava em situa��o est�vel, e a Casa do Livro, apesar dos preju�zos, n�o poderia ser apontada como a respons�vel pela crise.

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