S�o Paulo, segunda-feira, 25 de julho de 1994
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Autor foi muito mais que guru do LSD

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando estava perto do baque final, em 22 de novembro de 1963, Aldous Huxley pediu � sua mulher que lhe administrasse uma dose de
LSD. Laura lhe deu duas, e Aldous morreu sob os efeitos daquilo que agora � mais associado a seu nome.
Vivo, Huxley faria cem anos amanh�, e ser� lembrado como "guru das drogas", �dolo dos anos 60, e criador de "Admir�vel Mundo Novo", de 1932, em que profetiza uma sociedade controlada por v�cios.
Seus primeiros livros, principalmente "Antic Hay", surpreenderam o meio intelectual ingl�s nos anos 20, como Evelyn Waugh, o autor de "Furo!".
Raras vezes se tinha visto um senso de argumenta��o t�o sedutor, uma erudi��o t�o complexa e acess�vel ao mesmo tempo. Esse poder de fogo chegou ao apogeu em "Contraponto" (1928), sua obra-prima que marcou gera��es.
Com di�logos tira-f�lego e descri��es repletas de ambival�ncia, Huxley cativou leitores como se fosse mescalina. Adolescentes que provaram nunca mais esqueceram.
Al�m desses romances de id�ias, Huxley escreveu ensaios que lhe valeram a alcunha de "um dos maiores testa-altas do s�culo". Por sinal, um deles se chama "I am a highbrow" (Sou um testa-alta), e nele Huxley desmitificou muita coisa ao dizer que preferia Beethoven e Shakespeare simplesmente porque lhe davam mais prazer. N�o porque fossem "melhores" ou "edificantes".
Foi em 1933 que Huxley come�ou o namoro firme com a metaf�sica. O fruto de tr�s anos de questionamento foi "Sem Olhos em Gaza", seu romance mais autobiogr�fico.
As explica��es para esse namoro s�o muitas, a mais comum delas �o contexto hist�rico do entre-guerras� n�o � suficiente. Tampouco sua crescente cegueira, tratada em "A Arte de Ver" (1942). De resto, o pr�prio Huxley explicou isso melhor que ningu�m em seus livros, em especial "A Filosofia Perene" (1945). A editora Globo publicou no Brasil 13 dos seus 21 livros.
Mais justo com Huxley, neste centen�rio, � considerar que sua enorme inquietude jamais foi embotada por sua cultura enciclop�dica. Tal combina��o fez dele um dos intelectuais mais interessantes do s�culo. Como o outro que morreu naquele mesmo dia de 1963, o presidente americano John Kennedy, Huxley simbolizou uma �poca, sim. Mas a extrapolou.

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