Basta uma olhadinha nas notícias para perceber que tivemos nos últimos meses a chegada de diversas espaçonaves-robôs à Lua.
Enviadas por vários países e empresas, elas são o primeiro passo para futuras viagens feitas por astronautas até lá, onde eles vão pesquisar, trabalhar e morar —ao menos por alguns dias ou semanas.
Esse cenário incrível, que mais parece filme de ficção científica, vai mudar para sempre o modo como pensamos na Lua. Mas foi um longo caminho até chegarmos lá.
A ERA DA ESPECULAÇÃO
Milhares de anos atrás, os humanos olhavam para o céu e tentavam entender o que estavam contemplando.
Os gregos antigos, puxados especialmente por Aristóteles, chegaram à conclusão de que o universo era dividido em duas esferas diferentes, a sublunar (abaixo da Lua) e supralunar (acima da Lua).
Em resumo, acreditavam que tudo que estava sob a Lua era feito de quatro elementos —terra, fogo, ar e água; já o que estava acima, incluindo a própria Lua, seria feito de um quinto elemento, diferente de tudo, chamado éter.
Para Aristóteles e os gregos antigos, a Lua, os outros planetas, as estrelas e tudo mais lá em cima eram permanentes e perfeitos, jamais mudavam com o passar do tempo.
Na época dos gregos antigos, a mitologia fazia menção aos perigos de voar alto demais e cruzar a esfera sublunar. Em uma lenda, um jovem chamado Ícaro constrói asas para si e acaba num acidente aéreo quando tenta chegar perto demais do Sol.
A ERA DO SONHO
A ideia da Lua como parte de um arranjo perfeito só foi desafiada para valer quando um sábio italiano chamado Galileu Galilei ouviu falar de uma invenção holandesa —uma luneta. É um tubo com um par de lentes que serve para aumentar uma imagem e, com isso, enxergar mais longe.
Ao tomar conhecimento da ideia, Galileu projetou sua própria versão do equipamento, em 1609, e fez algo diferente: decidiu apontá-la para o céu.
Com imagens aumentadas, ele fez diversas descobertas, como a existência de luas girando ao redor do planeta Júpiter, o fato de que o planeta Vênus tinha fases, como a da Lua, e que a faixa leitosa que vemos no céu e chamamos de Via Láctea na verdade era composta por muitas estrelas.
Quanto à Lua, Galileu confirmou o que alguns desconfiavam: ela lembrava muito a nossa própria Terra, com montanhas, crateras e planícies. Ela era, essencialmente, um lugar —um que talvez pudéssemos um dia visitar.
Ninguém na época tinha a mais vaga ideia de como seria possível deixar a Terra e ir até a Lua. Mas alguns filósofos e cientistas começavam a pensar em como seria estar lá. Um ano antes das primeiras observações do italiano com a luneta, em 1608, um astrônomo alemão chamado Johannes Kepler imaginou como seria visitar a Lua e o que se poderia ver estando lá.
Seu livro, chamado "Sonho", é considerado por muitos um dos primeiros, senão o primeiro, livro de ficção científica.
Até então, quase todo mundo acreditava que a Terra era o centro de tudo. Mas Kepler e Galileu mostraram que ela era só mais um planeta de vários, girando ao redor do Sol, e a Lua era só um satélite natural da Terra. Foi a confirmação da hipótese formulada por outro astrônomo, o polonês Nicolau Copérnico, pouco
menos de um século antes.
A ERA DOS FOGUETES
O cientista que juntou todas as descobertas de Galileu e Kepler foi o inglês Isaac Newton. No século 17, ele construiu as bases da física moderna, ao decifrar a lei da gravidade e demonstrar que a mesma força que faz uma maçã cair de uma árvore é responsável pelo giro dos planetas ao redor do Sol e pela órbita da Lua em torno da Terra.
Também foi Newton quem formulou uma das leis mais famosas da física: a lei de ação e reação. É o que torna foguetes possíveis e permite viagens ao espaço. Eles andam para frente cuspindo gases para trás —exatamente como faz uma bexiga cheia, mas sem a ponta amarrada, que soltamos no ar.
Desenvolver foguetes maiores, capazes de impulsionar espaçonaves para além da atmosfera, levou um bom tempo e só foi acontecer nas primeiras décadas do século 20.
Até que, em 1957, a antiga União Soviética (hoje Rússia) lançou o primeiro satélite artificial da Terra —um objeto que, como a Lua, fica dando voltas ao redor do planeta, mas desta vez feito por seres humanos. E não demorou para que eles tentassem levar uma espaçonave até a Lua.
A ERA DO RECONHECIMENTO
Em 1958, os soviéticos lançaram missões de naves-robôs à Lua. As primeiras falharam, mas, a partir de 1959, os sucessos vieram. A Luna 1 passou perto da Lua, a Luna 2 conseguiu colidir com a superfície da Lua, e a Luna 3 passou por trás da Lua, tirando as primeiras fotos do lado afastado, que não pode ser visto da Terra.
Já reparou que a "cara" da Lua parece sempre a mesma vista daqui, não importando quando a gente olha?
Isso é porque ela gira ao redor de si mesma na mesma velocidade com que gira ao redor da Terra. Ou seja, ela sempre está com a mesma "cara" voltada para nós. E nunca vemos "as costas" dela daqui. Os soviéticos foram os primeiros a fotografar esse lado afastado e revelar que ele é bem diferente do lado próximo, com menos daquelas manchas mais escuras que dá para ver daqui, mesmo sem uma luneta.
Os Estados Unidos, naquela época, estavam numa competição com a União Soviética para determinar qual país era melhor em várias coisas –de esportes a arsenais, passando pela exploração do espaço.
Então logo começou a desenvolver suas missões robóticas à Lua. Primeiro, voaram as sondas Ranger, entre 1961 e 1964. Elas tinham como objetivo tirar fotos até bater no solo lunar. Depois, vieram os Lunar Orbiters, para ficar dando voltas ao redor da Lua, como um satélite artificial do satélite natural da Terra. E, com eles, as primeiras tentativas de pouso suave com robôs, os Surveyors, a partir de 1966.
O primeiro pouso suave soviético aconteceu um pouquinho antes do americano, em 3 de abril de 1966, com a Luna 9. Os americanos dariam o troco com seu programa para enviar astronautas até a Lua —um sucesso que até hoje nenhum outro país conseguiu.
A ERA APOLLO
A Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, foi encarregada no começo da década de 1960 de vencer os soviéticos. O presidente americano, John F. Kennedy, queria ver americanos pisarem no solo lunar antes de 1970, o que levou a um investimento brutal de dinheiro para tocar o programa, batizado de Apollo.
Em 20 de julho de 1969, os astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin se tornaram os primeiros humanos a caminhar sobre a Lua, na Apollo 11. Eles trouxeram rochas de lá, para serem estudadas pelos cientistas. Várias outras missões foram conduzidas, até a Apollo 17, realizada no fim de 1972, e mais de 300 kg de rochas lunares foram trazidas de volta para a Terra.
Os soviéticos tentaram levar seus cosmonautas (é assim que os russos chamam seus astronautas) até a Lua também, mas não deu certo. Tiveram de se contentar com robôs, capazes de trazer só um pouco de poeira e rochas lunares.
Ao fim dessa primeira corrida, os cientistas concluíram que a Lua era estéril —ou seja, não tinha nenhum tipo de vida— e que seria difícil viver por lá, porque não havia nem ar nem água. Por isso, os astronautas que mais tempo passaram na Lua ficaram só três dias antes de retornar. Todo mundo ficou meio desanimado, e nosso satélite natural passou um tempão sem ser visitado.
A ERA DA OCUPAÇÃO LUNAR
As coisas só começaram a mudar em 1998, quando os militares americanos, em parceria com a Nasa, divulgaram resultados de uma missão conjunta chamada Clementine.
Era uma nave-robô que entrou em órbita da Lua em 1994 e descobriu sinais do que poderia ser a presença de água —na forma de gelo— no fundo de crateras nos polos lunares. E com água você pode produzir ar para respirar, alimentar cultivos de plantas e até produzir combustível de foguete!
Uma estimativa da época dava conta de que a quantidade presente, preservada congelada em regiões onde a luz do Sol nunca bate, seria suficiente para abastecer uma colônia humana na Lua.
Diversos países, além de Estados Unidos e Rússia, manifestaram intenção na exploração, e China e Índia já realizaram pousos com naves-robôs.
Os chineses planejam construir uma base para astronautas no polo sul lunar, mesmo objetivo que têm os americanos, com o seu programa Artemis —uma versão das missões Apollo, mas mais ambiciosa, em que humanos passarão semanas seguidas na Lua.
Além dos países, várias empresas começam a explorar o interesse pelo solo lunar, criando suas próprias naves-robôs, o que já está produzindo vários lançamentos por ano, e o ritmo deve aumentar.
O programa Artemis espera levar astronautas para dar a volta ao redor da Lua no ano que vem, e o primeiro pouso com astronautas em 2026. Os chineses projetam o primeiro pouso tripulado para 2029.
Quem vai chegar primeiro? Os dois vão conseguir? Outros vão se juntar na empreitada?
Só o futuro pode dizer. Mas já é possível prever que a Lua deve se tornar um lugar cheio de vida, graças à humanidade, num futuro bem próximo.
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