Descrição de chapéu animais

Crianças e biólogos pensam sobre o trabalho dos zoológicos no Brasil

Privação da liberdade e condições de vida estão entre principais preocupações de quem pensa no bem-estar dos animais

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São Paulo

Pedro Henrique D. O., de 9 anos, estudante de Ribeirão Preto, no interior paulista, adora viajar para lugares em que possa manter contato com a natureza. Recentemente, conheceu o parque da Serra da Canastra, em Minas Gerais. "Consegui ver muitos pássaros. Tinha também bastante lagartos, mas, infelizmente, não deu para ver o lobo-guará", conta.

Além de tênis para caminhada e jaqueta para se proteger do frio e do vento, Pedro sempre carrega consigo uma lanterna para observar os hábitos noturnos de insetos e anfíbios. "Gosto muito de ver os bichos soltos na natureza. Não gosto de ver animais presos. Quando fui a um zoológico, sei lá, achei que eles estavam meio desanimados, me pareceram com carinha triste. Acho que eles não são felizes presos."

Menino posa junto de cavalo. Eles estão em cenário rural, com grama alta verde. O cavalo é castanho e tem uma mancha branca no focinho. O menino é moreno e veste sunga azul, e faz sinal de "joia" para a câmera
Pedro Henrique, 9 anos, estudante de Ribeirão Preto, - Arquivo Pessoal

Pedro Henrique lembra que aprendeu na escola que zoológicos são espaços importantes para a reprodução de alguns animais ameaçados de extinção. "Só que eu penso que a gente deveria tentar fazer isso com eles livre na própria natureza", diz. "Se o homem gasta dinheiro com viagem até para o espaço, por que não pode investir em pesquisas e estudos que possam garantir a sobrevivência desses animais livres e soltos?".

A bisavó de Pedro mantém um pássaro-preto numa gaiola em casa. "Ela tem um amor muito forte pelo passarinho. Até conversa com ele", afirma. Nesse caso, no entanto, Pedro acha que o pássaro já está há muito tempo vivendo preso.

"Minha bisa fala que, se soltar, ele vai morrer de fome. Acho que se soltar na cidade, não vai dar certo, vai mesmo morrer. Eu queria encontrar um lugar para deixar ele livre, que tivesse bastante árvore e onde tivesse também comida para ele não morrer de fome."

Essa questão da liberdade e as condições de vida em zoológicos estão entre as principais preocupações de quem pensa sobre o bem-estar dos animais. Há pessoas, inclusive, que entendem que o ideal seria que este tipo de parque e entretenimento não existisse.

No último dia 10 de maio, a Costa Rica fechou dois zoológicos estatais (ou seja, do Estado, e não particular de uma pessoa).

Segundo disse Franz Tattenbach, ministro do Ambiente e Energia costa-riquenho, a decisão foi tomada porque a lei do país era antiga o suficiente para permitir "que os animais estivessem confinados de uma maneira não muito humanitária", disse ele em vídeo oficial. Com o fechamento, os 287 animais que moravam nos zoos foram encaminhados para um centro de resgate.

Igor Morais é biólogo e trabalha como gerente institucional do Foz EcoPark, um lugar dedicado à conservação e à educação ambiental. Na opinião dele, diversos zoológicos brasileiros não conseguem garantir boas condições de vida aos animais. O problema, diz Igor, seria a falta de recursos materiais e financeiros, as "leis que não fazem mais sentido", e questões na formação dos profissionais que trabalham nos zoos.

"O que predomina no Brasil é uma visão dos animais como 'itens de coleção' para exibir ao público", diz, lembrando que não se pode generalizar o problema, e que cada zoológico é único. Igor acha que, para que os zoológicos sejam lugares melhores, é preciso parar de achar que animais são uma forma de diversão.

O biólogo explica que o comportamento dos animais, seja na natureza ou em um zoológico, dependerá da qualidade do ambiente. Se há recursos como água, comida, abrigo, parceiros e coisas para estimular sua mente e seus sentidos, o animal pode prosperar. "Tais circunstâncias, contudo, ainda não são comuns nos zoológicos ao redor do mundo", afirma ele, que já trabalhou em mais de 25 zoos em vários países.

Eu acho triste porque os animais primeiro aprendem a viver na natureza, e é um espaço muito pequeno para eles. Eles não têm nada pra fazer lá, só ficam zanzando

Luíza P. C., 11 anos

estudante

Ele estima que hoje em dia existam de 7.000 a 10 mil zoológicos e aquários no planeta, e que, destes, só 5% mantenham os animais com ótimos níveis de bem-estar. "Eu não acredito mais no futuro dos zoológicos aqui no país. Hoje, direciono meu trabalho para criar algo novo. Algo que nos leve ou aproxime dos esforços pela conservação realizados na Europa, Oceania e Estados Unidos", diz Igor.

Luíza P. C., 11 anos, adora ir ao zoológico. "O que é mais gosto é de ver os animais de perto e poder meio que interagir com eles. Gosto muito de ver os hipopótamos, porque eles são muito grandes. Teve um dia que um hipopótamo ficou com a cabeça pra fora, e aí as pessoas no zoológico quase podiam encostar nele", lembra Luíza.

Ainda assim, ela diz que sente um pouco de dó dos bichos. "Eu acho triste porque os animais primeiro aprendem a viver na natureza, e é um espaço muito pequeno para eles. Eles não têm nada pra fazer lá, só ficam zanzando", afirma.

Fernanda Guida, bióloga chefe do setor de aves do Zoo São Paulo, conta que a maior parte dos animais que estão neste parque vem de outros zoológicos do Brasil ou do exterior. Também acontece de animais que são apreendidos pela polícia vivendo em situações ilegais (com pessoas que não cumpriram as leis) irem para lá depois de passar por centros de triagem.

"Quando as autoridades percebem que os animais não têm condição de voltar para a natureza, elas entram em contato com as associações e tentam achar um zoo para eles. Na nossa população também tem muitos animais que já nasceram sob cuidados humanos", afirma Fernanda.

"Aliás, hoje em dia não se usa mais a palavra cativeiro, porque ela não mostra um significado verdadeiro. Usamos 'in situ' quando o animal está na natureza, e 'ex situ' quando ele está fora do seu habitat natural."

Sobre os espaços que os animais ocupam, e que preocupam algumas crianças e adultos por conta de suas condições e tamanho, Fernanda diz que o Zoo São Paulo segue normas do estado de São Paulo, e que não se pode colocar um animal em um recinto que não tenha sido aprovado —recinto, aliás, hoje substitui a palavra "jaula".

"A parte da exposição dos animais ao público é muito importante. Assim, o público conhece o nosso trabalho e vê que estamos contribuindo para o trabalho de conservação. Não dá para saber como estará uma espécie daqui a 15 ou 20 anos, e a função do zoo é manter uma população de segurança dos animais ameaçados."

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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