Veja 8 fatos a ser celebrados no Dia da Mulher por sua relação com o feminismo

Saiba como a luta feminista modificou das heroínas da Disney ao mercado de trabalho

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São Paulo

Enfim chegou o Dia da Mulher, e esta é uma data a ser celebrada, sim, mas não com flores ou presentes. A ideia da celebração é pensar no que ainda precisa ser feito para garantir que as mulheres tenham todos os seus direitos garantidos e demandas atendidas, e não comprar e distribuir coisas entre elas.

Muito do que já se conquistou no Brasil e no mundo é fruto da luta do movimento feminista.

A princesa Moana, da Disney - Reprodução/Facebook/Disney

"O feminismo é um movimento de mulheres para as mulheres. É importante porque todas as conquistas, como voto, carreira profissional, escolher com quem se casar etc, aconteceram a partir de movimentos feministas de resistência e reivindicações", diz a pedagoga Zenilda Vilarins Cardozo, autora de "Preta Ainda de Greve - Lei Maria da Penha" (editora Fontenele, R$ 40, 20 páginas), e professora aposentada da rede pública de ensino.

O 8 de março se tornou referência para a luta feminista em 1917, quando operárias foram às ruas para protestar contra a fome e a Primeira Guerra Mundial. O protesto é conhecido como um marco para o início da Revolução Russa. A data foi oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1975.

Veja abaixo oito fatos que têm ligação com o feminismo e talvez você não saiba, e que merecem ser comemorados neste 8 de março.


Heroínas da Disney

Depois de décadas em que as protagonistas de suas histórias viviam em função de buscar um bom casamento, ou mesmo dependendo de príncipes para salvarem suas vidas —lembra a Bela Adormecida e a Branca de Neve em sono profundo aguardando o beijo libertador?—, os filmes da Disney resolveram apostar em tramas mais condizentes com o feminismo.

Fazem parte dessa, digamos, nova safra de princesas histórias como "Moana", em que a jovem precisa salvar sua aldeia da destruição e ser uma grande líder, e mais recentemente "Encanto", com Mirabel focada em recuperar a união da família. Prioridades, né?

Futebol é coisa de menina, sim

Em um decreto-lei de 1941, o governo brasileiro proibiu que mulheres praticassem esportes "incompatíveis com as condições de sua natureza". O que isso queria dizer? Que elas não tinham permissão para fazer nada que fosse considerado naturalmente masculino no campo dos esportes —e o futebol estava incluído nisso.

Foi só em 1983 que o futebol feminino foi regulamentado no país, depois de muita luta de jogadoras que batalharam por essa conquista. Ainda assim, tanto tempo de proibição custou um preço alto, pago até hoje: enquanto o futebol masculino tem relevância e incentivo, o feminino ainda sofre, por exemplo, com menos patrocinadores e, consequentemente, menos dinheiro.

E trabalho também é!

"Antigamente, as mulheres já nasciam com seu futuro traçado. Suas vontades e seus sonhos não eram considerados", lembra Zenilda. A entrada feminina no mercado de trabalho foi uma conquista construída aos poucos, à custa de muita batalha do movimento feminista.

Tudo começa em 1827, quando uma lei de 15 de outubro autoriza meninas a ingressarem nos colégios e estudarem além da escola primária. Em 1879, as mulheres adultas têm acesso à universidade —antes disso, não se podia ter uma profissão além daquelas da esfera doméstica.

Em 1962, muitos e muitos anos depois, é criado o Estatuto da Mulher Casada, que dá às mulheres a permissão para trabalhar sem precisar que o marido autorizasse isso.

"É legal ver mulheres em outros lugares: jornalistas, caminhoneiras, juízas, policiais, médicas, engenheiras. Elas provaram que são capazes de desempenhar outros papéis", avalia Zenilda.

"Quantas mulheres fantásticas iniciaram outros caminhos, ocupando lugares importantes, abrindo possibilidades para que outras chegassem também? Você, menina, qual é o seu sonho? O que quer conquistar? Com certeza, já tem uma mulher que lhe inspira."

Flores, não

Até hoje é comum ver empresas, restaurantes e centros comerciais que entendem que o 8 de março é uma data em que as mulheres esperam ser presenteadas. O movimento feminista, no entanto, busca conscientizar as pessoas de que este é um dia de luta e de reflexão, em que elas gostariam muito mais de ver suas demandas atendidas do que receber uma flor com um cartão escrito "Parabéns pelo seu dia".

Divórcio

Até dezembro de 1977, mulheres que desejassem terminar um casamento não tinham essa opção: a lei não deixava que elas se divorciassem. A Lei do Divórcio, de nº 6.515/1977, tornou isso possível. Ainda assim, por muitos anos as mulheres divorciadas eram mal vistas pela sociedade, o que podia fazer com que várias delas preferissem continuar em casamentos infelizes a se divorciar e correr o risco de julgamento popular.

Lei Maria da Penha

"A criação da Lei Maria da Penha surgiu da luta de uma mulher, vítima de violência doméstica, que lutou sozinha pela condenação do seu agressor", ensina Zenilda, contando um pouco da história da farmacêutica e bioquímica Maria da Penha Maia Fernandes, que em 1983 foi vítima de dupla tentativa de feminicídio por parte de seu companheiro à época, Marco Antonio Heredia Viveros.

Em 1996, ele foi condenado à prisão, mas a sentença não foi cumprida porque seus advogados disseram que tinha havido problemas no processo. Em 1998, o caso de Maria ganhou repercussão internacional, mas mesmo assim nada foi feito.

Em 2001, o Estado brasileiro foi responsabilizado por negligência, omissão e tolerância em relação à violência doméstica praticada contra as mulheres brasileiras. Um ano depois, várias ONGs (organizações não-governamentais) feministas se juntaram para criar uma lei de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher.

Em 7 de agosto de 2006, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei 11.340, a famosa Lei Maria da Penha. "A lei está ligada aos maus tratos sofridos especificamente por mulheres", diz a professora Zenilda.

"Ela trouxe a possibilidade de proteção às mulheres das violências que sofrem em suas casas ou em seus relacionamentos, a possibilidade de contar com o poder público para garantir, segurança, qualidade de vida e a própria sobrevivência em casos mais complicados."

Zenilda lembra que a violência contra a mulher pode acontecer de várias formas. "É o grito, a humilhação, não ter domínio sobre seu dinheiro, não poder trabalhar, estudar ou sair, tudo isso também é considerado na lei", explica. "E ainda precisamos avançar muito."

Propagandas

Até pouco tempo atrás, no Brasil, os comerciais de produtos em geral colocavam a mulher em posições degradantes. Quase sempre reduzidas ao trabalho doméstico, como donas de casa que só poderiam se interessar em consumir coisas úteis ao seu desempenho dentro do lar, e, o que era pior, invariavelmente submetidas aos homens como seres inferiores.

Servindo café, arrumando a roupa do marido, se arrumando para ficar bonita para ele: essa era a função feminina na publicidade até os anos 1960. Uma marca de gravatas, por exemplo, usava o slogan "Mostre a ela que o mundo é dos homens".

Mais tarde, já nos anos 2000, era comum ver comerciais de bebidas alcoólicas, por exemplo, que usavam o corpo da mulher como um produto valioso, colocando-a em situação de objetificação.

Depois de muita reclamação e conscientização, hoje em dia as marcas são muito mais cuidadosas e procuram evitar propagandas que não exaltem a mulher como ser de igual valor ao dos homens.

Eleições

"O voto é a expressão do seu desejo, é como se fosse a sua voz dizendo exatamente o que você quer. Para conquistar esse direito, as mulheres tiveram que lutar muito", conta Zenilda.

Enquanto aos homens foi garantido, na Constituição Republicana de 1891, o direito de votar para presidente e vice-presidente, o direito do voto só foi concedido às mulheres em 1932.

E não é que elas apenas esperaram passivamente que isso acontecesse -houve muita luta e mobilização dos movimentos feministas desde o final do século 19.

"Com o poder do voto, as mulheres iniciaram uma história de conquistas para o futuro, inclusive o poder de serem ouvidas nas reivindicações dos seus direitos. É claro que não foi uma mudança num passe de mágica, mas foi um passo importante para outras conquistas", diz Zenilda.

Em 1932, o Código Eleitoral só permitia que mulheres casadas votassem, e ainda era preciso que o marido delas concordasse com isso. Viúvas e solteiras precisavam ter renda própria, ou seja, ganhar o próprio dinheiro e não depender de ninguém, o que restringia bastante a permissão.

Em 1934, essas restrições foram eliminadas, e só em 1946 o voto passou a ser obrigatório também para as mulheres, assim como já era para os homens. Uma das justificativas pra barrar o voto das mulheres era de que, com ele, seria decretado o fim da "família brasileira."

O primeiro país a garantir o direito de votar às mulheres foi a Nova Zelândia, em 1893. Na França, a permissão aconteceu em 1944, e na Suíça, em 1971.

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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