Quer saber qual o cheiro da flor mais fedida do mundo? Pois vou contar, mas antes preciso apresentar esse vegetal gigante, que fica mais alto que um homem e pesa mais que um urso panda.
A planta tem nome e apelido, os dois bem curiosos. Os cientistas a batizaram de Amorphophallus titanum, que significa “pênis gigante malformado” —por causa de seu bulbo vertical amarelado, que se parece com um pinto, principalmente quando a flor está fechada.
Já o apelido é “planta-cadáver”. Adivinha por quê? Claro, por causa do fedor que a flor exala, que dizem ser parecido com o de carniça —bicho morto há muito tempo.
A flor fedorenta, também chamada de arum gigante, ficou por lá, desconhecida, até ser descoberta por um italiano, Odoardo Beccari, há mais de 200 anos.
Na Europa, ela passou a ser cultivada em estufas, e hoje em dia está em 76 jardins botânicos do mundo. Um deles fica perto de onde eu moro, numa cidade chamada Meise, na Bélgica (procure na internet!).
Imagine minha alegria quando recebi um e-mail dizendo assim: “A 'flor' do arum gigante começou a abrir no Jardim Botânico de Meise em 11 de maio de 2021 às 13h30”. Finalmente eu iria poder matar minha curiosidade! Mas, tinha que correr: a floração só acontece uma vez a cada três anos, mais ou menos, e dura no máximo três dias.
Antes de falar do cheiro... você notou que no e-mail eles colocaram a palavra flor assim —“flor” —, entre aspas? Na verdade, ela é uma inflorescência, explicou uma cientista brasileira chamada Cassia Sakuragui. Mas, como assim, inflorescência?, perguntei.
É que aquela enorme pétala que tem cara de flor na verdade é uma folha que protege várias florzinhas, presas na base do bulbo comprido. Embaixo ficam flores femininas, rosadas, e por cima há uma faixa de flores masculinas, amarelo-claras.
Para que a planta-cadáver se reproduza, o pólen das flores masculinas tem que chegar até as flores femininas de uma outra planta, o que não é fácil na floresta de Sumatra, pois elas estão longe umas das outras. É aí que entra o fedor: ele atrai insetos que gostam de bicho morto.
Pensando que vão achar carniça, os insetos entram na inflorescência e ficam com o corpo coberto de pólen. Depois, voam atrás do fedor de uma outra planta, e deixam o pólen cair sobre as flores femininas.
Fertilizadas, as florzinhas se transformam em frutos vermelhos, que são comidos por pássaros. Finalmente, as aves espalham as sementes ao fazer cocô.
Já pensou em quanta coisa tem que dar certo para a flor-cadáver se multiplicar? Por isso, ela ficou em risco de desaparecer quando as florestas de Sumatra foram desmatadas. Mas os jardins botânicos trabalham para preservá-las.
Aqui, quem cuida da flor que eu visitei é o jardineiro Stijn Stappaerts —que, como a professora Cassia, é um especialista em Aráceas (é uma família grande! Só em Maise há mais de 120 “primos” diferentes, como antúrios e copos de leite, que talvez você já tenha visto). A planta veio da Alemanha ainda pequena, com menos de um quilo, em 2007.
Hoje, pesa quase 27 kg (mais ou menos como uma criança de oito anos) e está com 2,19 metros de altura (pense no mais alto jogador de basquete que você já viu). Mas ainda pode crescer muito: as fedidas chegam a 130 kg, o peso de uma leoa, e seu bulbo passa de 3 metros (mais alto que o teto da sua casa).
O Stijn cuida para que a estufa nunca fique abaixo dos 25 º C e o sol não bata direto na planta-cadáver. Para um ser vivo que cresce tanto, é preciso comida —uma terra bem bem nutritiva e soltinha. Depois que “flor” fecha, a planta entra em descanso, e então Stijn a tira do vaso, verifica seu peso e a reacomoda em um novo solo. Também cuida para que ela não seja atacada por fungos e um tipo de verme chamado nematóide.
Confesso que estava preocupada antes de entrar na estufa da planta-cadáver. Não sei se você já sentiu cheiro de carniça, mas eu já, e acho horrível. Já estava de máscara, por causa da pandemia, e coloquei mais uma por cima, com medo de vomitar.
Mas vi que as crianças, que não precisam usar máscaras, não estavam tapando o nariz. Apenas riam e diziam “eca, parece queijo velho”, ou “que cheiro de peixe podre”, então resolvi arriscar. Passei para o lado de trás da flor, onde não havia ninguém, levantei a máscara e respirei bem fundo.
Vou te contar: ela solta aquele cheiro horrível do nosso tênis depois de uma semana bem quente em que a gente correu bastante. Ao menos para o meu nariz, o nome mais adequado para essa flor deveria ser “planta-chulé”.
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