Reuters
09/03/2002 - 16h44

"Quinto dos Infernos" cria pol�mica e questiona livros de hist�ria

da Reuters, no Rio de Janeiro

As aulas de hist�ria do Brasil podem sofrer reviravoltas apimentadas neste ano letivo. Se depender da pol�mica miniss�rie "O Quintos dos Infernos", da Globo, as sisudas figuras hist�ricas dos livros ser�o substitu�das por personagens mais humanas -e mais engra�adas.

O autor Carlos Lombardi mostra na miniss�rie global um Dom Jo�o 6� buf�o e atordoado, sendo sempre humilhado por Carlota Joaquina, sua mulher ambiciosa, prom�scua e um tanto louca. N�o escapam tamb�m os filhos do nobre casal, Dom Pedro e Dom Miguel. O primeiro � mostrado como um mulherengo inveterado, o oposto do segundo, com tend�ncias homossexuais e atra�do pelo irm�o.

Tais fatos, muitas vezes ignorados pelos mais conservadores livros de hist�ria, est�o dando dor de cabe�a a professores que acabam sendo contestados pelos alunos, esquentando o debate na sala de aula.

"Hist�ria � muito chata, s� decoreba. Sei a hist�ria da miniss�rie toda de cor. Em compensa��o, tenho muita dificuldade em guardar datas e nomes, que � o que se cobram nas provas e concursos", queixa-se Andr� Lu�s da Silva, aluno do segundo grau do Col�gio Federal Pedro Segundo, no Rio de Janeiro.

A colega Fabiana da Silva lamenta o atual modo de ensino: "Estou adorando a miniss�rie. Seria muito melhor a gente aprender hist�ria dessa maneira."

Realidade x mundo acad�mico
E os professores, est�o preparados para fazer essa distin��o?

M�rcio Christ, coordenador de cursos de extens�o da Faculdade H�lio Alonso, no Rio, acredita que sim. "O professor tem (na miniss�rie) uma excelente ferramenta para chamar aten��o para a mat�ria. Cabe a ele desfazer a confus�o que possa ocorrer."

Muitos especialistas no assunto concordam que os livros deveriam se aproximar mais da realidade e que pol�micas como a da miniss�rie podem significar um avan�o no processo de "humaniza��o" a hist�ria oficial.

Segundo Chico Alencar, deputado estadual do Rio pelo PT e professor de hist�ria, "a base da vers�o oficial foi formada durante o per�odo autorit�rio do Estado Novo, quando se construiu o mito do poder perfeito."

"J� est� em curso um processo de revis�o historiogr�fica. Mas isso n�o pode ser feito por lei ou decreto, mas sim de uma vontade do professor por mudan�a. E nisso a miniss�rie est� ajudando muito", acrescenta.

Colocando ainda mais lenha na discuss�o sobre a miniss�rie de Carlos Lombardi, o historiador Milton Teixeira, especialista em Fam�lia Real do Instituto Marc-Consultoria de Hist�ria do Brasil, alerta que a hist�ria real foi ainda mais quente do que a mostrada em "O Quinto dos Infernos".

Segundo ele, a personagem mais pr�xima da realidade � o Chala�a, enquanto o mais inventado foi Dom Pedro que, "apesar de ser conquistador nato, nunca fez muscula��o, n�o foi internado num hosp�cio ou brigou com a fam�lia daquele jeito. Por�m, a paix�o do irm�ozinho tarado era verdadeira". E continua: "A Carlota Joaquina original era muito mais prom�scua do que a mostrada no programa."

O autor Carlos Lombardi, respondendo a toda essa pol�mica, defende seu trabalho: "N�o estou achincalhando com a hist�ria. Estou apenas mostrando de forma romanceada o que o conservadorismo dos livros escolares n�o revelam. O que a miniss�rie apresenta s�o fatos hist�ricos engra�ados por si s�".

Retratada de "forma nua e crua" em "O Quinto dos Infernos", a fam�lia imperial brasileira n�o quis se pronunciar sobre o assunto.

 

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