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08/10/2006 - 18h44

Leia tr�s cartas da Imperatriz Leopoldina

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da Folha de S. Paulo

Leia tr�s cartas da Imperatriz Leopoldina que integram o livro "Cartas de uma Imperatriz", lan�amento da editora Esta��o Liberdade.

P. 393

Carta a Francisco I
[226]

S�o Crist�v�o, 7 de mar�o de 1822

Querido papai!

Embora seja muito penoso para mim escrever, j� que espero o nascimento para qualquer momento, considero meu dever mais sagrado lhe dar not�cias minhas, uma vez que conhe�o bem demais seu cora��o paternal para ter certeza de que minhas linhas t�m algum interesse para o senhor. Aqui reina um verdadeiro caos de id�ias e cenas, tudo surgido do logro chamado esp�rito de liberdade, e nas prov�ncias do Norte agora est�o assassinando todos os europeus; Deus (que disp�e tudo para o bem do homem) permita que a situa��o fique calma, como quer me parecer; meu esposo declarou que ficar� aqui; embora pensemos diferentemente em alguns aspectos, � melhor que me cale e observe silenciosamente. Beijo-lhe as m�os in�meras vezes, assim como as da querida mam�e, e permane�o sempre com fervoros�ssimo amor filial e respeito, car�ssimo papai, sua filha mui obediente.

Leopoldina


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P. 409

Carta a D. Pedro I
[251]


S�o Crist�v�o, 28 de agosto de 1822

Meu querido e muito amado esposo

Perdoe mil vezes que eu ralhei na minha �ltima carta, mas deve ser-lhe prova de amizade de ser muito triste de ter me deixado faltar not�cias suas; agora estou content�ssima com suas regras de Lorena; n�o � preciso recomendar-me as suas qualidades; seja persuadido, depois de dar-me tantas provas de confian�a antes perder tudo que faltar aos meus deveres e bem do Brasil; os pap�is se v�o imprimir na Gazeta.

Sinto muito dar-lhe not�cias desagrad�veis, mas n�o quero faltar � verdade, mesmo se � penoso a meu cora��o; a tropa de Lisboa entrou na Bahia, e dizem que desembarcou; a nossa esquadra n�o se sabe o que fez, se � falta de �nimo dela � preciso o mais rigoroso castigo, chegar�o tr�s navios de Lisboa, os quais d�o not�cias de que os abomin�veis portugueses querem sua ida para l� mesmo se voltasse ao Brasil outra vez, e que ia ao poder executivo a decidir se deve vir mais tropa para c�, � certo que aprontem a toda pressa dois navios; ontem deram a falsa not�cia que estava uma esquadra de Lisboa fora da Barra de modo que todo se aprontou para receb�-la com fogo e bala.

O Abreg�106 tem tido uma quest�o com o Martim Francisco107, o �ltimo deve [ter] toda a raz�o, e o primeiro tem sido muito atrevido, de modo que era preciso eu o fazer calar; eu lhe escrevo isto porque penso que lhe representaram em baixo de outro modo falso.

Deram um tiro no autor do Di�rio108, e o General Usley na qual diz ir�o que haviam de dar outro no amigo Jos� Bonif�cio; a Pol�cia j� anda vigiando este neg�cio.

Mandou-se dar castigo ao autor do Correio que estas tr�s �ltimas vezes tem sido o mais que poss�vel.

Chegou um certo Ver�ssimo109, dizendo que foi nomeado Encarregado dos Neg�cios dos Estados Unidos pelo Congresso de Lisboa; ele vem falar-me e o Jos� Bonif�cio me disse de eu ver se podia tirar-lhe alguma coisa pois soube que saiu mandado pelas Cortes, tr�s meses faz de Lisboa, desembarcou na Am�rica inglesa, tratando de neg�cios deles, e por ordem dos mesmos veio para c� at� mais ordenar, � muito mau sujeito, e espert�ssimo, de modo que anda sempre em companhia de espias nossos.

O povo e muitos outros falam no por os esquadr�es da cavalaria a p� com muito atrevimento e barulho cr� que era bom deixar este neg�cio em esquecimento. O Jos� Bonif�cio mais lhe falar�.

Recebo neste instante sua carta de Taubat� que muito lhe agrade�o em lhe merecer a amizade que me prova sendo certamente todo meu ser, n�o falando das muitas saudades suas que eu tenho, pedindo-lhe que n�o fique mais ausente que um m�s; o Jos� Bonif�cio lhe dir� o mesmo; a sua presen�a � muito preciso sendo S�o Paulo muito longe para dar prontas.

Receba mil abra�os e as express�es do mais terno amor e amizade desta sua esposa que o ama ao extremo

Leopoldina


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P. 451

Carta a Maria Lu�sa
[315]

S�o Crist�v�o[?], 8 de dezembro de 1826, �s 4 horas da manh�

Minha adorada mana!

Reduzida ao mais deplor�vel estado de sa�de e tendo chegado ao �ltimo ponto de minha vida em meio dos maiores sofrimentos, terei tamb�m a desgra�a de n�o poder eu mesma explicar-te todos aqueles sentimentos que h� tanto tempo existiam impressos na minha alma. Minha mana! N�o tornarei a v�-la! N�o poderei outra vez repetir que te amava, que te adorava! Pois, j� que n�o posso ter esta t�o inocente satisfa��o igual a outras muitas que n�o me s�o permitidas, ouve o grito de uma v�tima que de tu reclama - n�o vingan�a - mas piedade, e socorro do fraternal afeto para meus inocentes filhos, que orf�os v�o ficar, em poder de si mesmos ou das pessoas que foram autores das minhas desgra�as, reduzindo-me ao estado em que me acho, de ser obrigada a servir-me de int�rprete para fazer chegar at� tu os �ltimos rogos da minha aflita alma. A Marquesa de Aguiar, de quem bem conheceis o zelo e o amor verdadeiro que por mim tem, como repetidas vezes te escrevi, essa �nica amiga que tenho � quem lhe escreve em meu lugar.

H� quase quatro anos, minha adorada mana, como a ti tenho escrito, por amor de um monstro sedutor me vejo reduzida ao estado da maior escravid�o e totalmente esquecida pelo meu adorado Pedro. Ultimamente, acabou de dar-me a �ltima prova de seu total esquecimento a meu respeito, maltratando-me na presen�a daquela mesma que � a causa de todas as minhas desgra�as. Muito e muito tinha a dizer-te, mas faltam-me for�as para me lembrar de t�o horroroso atentado que ser� sem d�vida a causa da minha morte. Cadolino, que por ti me foi recomendado, e que me tem dado todas as provas da maior subordina��o e fidelidade, � quem fica encarregado de entregar-te a presente, e declarar-te o que por muitos motivos n�o posso confiar a este papel. Tendo ele todas as informa��es que s�o precisas sobre este artigo, nada mais tenho a acrescentar, confiando inteiramente na sua probidade, honra e fidelidade.

Faltaria ao meu dever se, al�m de ter declarado ao Marechal e a Cadolino que tenho d�vidas contratadas (ou contra�das?) para sustentar os pobres, que de mim reclamar�o algum socorro, e para as minhas despesas particulares, n�o dissesse a ti que o Flach, de quem tenho muitas vezes escrito, � digno de toda tua considera��o e de meu Augusto Pai, a quem pe�o-te remeter a inclusa.

Este virtuoso amigo, al�m de ter se sacrificado e comprometido a si mesmo e seus neg�cios para me servir, n�o desprezou meio algum para me procurar socorros. Pe�o-te por quanto tens de mais sagrado de lhe prestares todo o aux�lio, de modo que ele possa satisfazer aquelas d�vidas que por mim tem contra�do. Recomendo este exemplo da mais virtuosa amizade. Cadolino te dir� qual foi o procedimento de Marechal para comigo. A Marquesa de Aguiar fica encarregada de dar a ti os mais mi�dos detalhes sobre quanto diz respeito �s minhas queridas filhas. Ah, minhas queridas filhas! Que ser� delas depois da minha morte? � a ela que entreguei a sua educa��o at� que o meu Pedro, o meu querido Pedro n�o disponha o contr�rio. Adeus minha adorada mana.

Permita o Ente Supremo que eu possa escrever-te ainda outra vez, pois que ser� o final do meu restabelecimento.

L. S. B. Marquesa de Aguiar Escrevi.
 

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