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22/06/2001
-
07h28
SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo
Um cigarro de maconha flagrado pelo pai custou ao estudante Neto (Rodrigo Santoro) a interna��o em um hospital psiqui�trico, anos de medica��o controlada e sess�es de eletrochoque.
Baseado no relato testemunhal "Canto dos Malditos" (editora Rocco), "Bicho de Sete Cabe�as" � o longa de estr�ia da diretora La�s Bodanzky, 31, que tem cinema no curr�culo por heran�a (� filha do cineasta Jorge Bodanzky) e conquista -dirigiu "Cart�o Vermelho", entre outros seis curtas e v�deos. Com o marido, Luiz Bolognesi, roteirista de "Bicho", Bodanzky empreendeu o projeto de exibi��es p�blicas e gratuitas Cine Mambembe, em pra�as do pa�s. Filme para o p�blico � a divisa da cineasta, que realizou o seu primeiro t�tulo com R$ 1,5 milh�o e foco no espectador adolescente.
Folha - Qual dos temas abordados em "Bicho de Sete Cabe�as"- tratamento manicomial, rela��es familiares, intoler�ncia, incomunicabilidade- mais lhe interessa? Que hist�ria queria contar?
La�s Bodanzky - Vejo no filme dois temas centrais: a quest�o manicomial no Brasil hoje e a dificuldade de di�logo em fam�lia. Eu participava de um grupo de pesquisa sobre a quest�o manicomial para a produ��o do document�rio "Loucura e Cidadania", de Roberto d'Avila. Descobri como era preconceituosa com o tema, a caricatura que tinha do universo da loucura. Fiquei decepcionada comigo mesma e emocionada com essa realidade. No meio da pesquisa, chegou �s minhas m�os o livro "Canto dos Malditos", de Austreg�silo Carrano Bueno. Esse foi o arremate. O livro � um desabafo. Escutei-o e tive certeza de que tinha de contar essa hist�ria, de fazer com que muitas pessoas soubessem desse grito para que a hist�ria n�o se repetisse. Hoje existem 70 mil internos em hospitais manicomiais no Brasil. � um n�mero desproporcional. N�o faz sentido essa quantidade de leitos, essa pol�tica de interna��o.
Folha - Sup�e-se que as interna��es ocorram por dist�rbios mentais existentes. No caso abordado em "Bicho", n�o havia doen�a.
Bodanzky - Sem d�vida. Foi um erro m�dico. Mas, assim como esse erro ocorreu com Carrano, ele se repete hoje em diversas facetas. Esse � um dos grandes perigos do mundo da psiquiatria, que � um mundo abstrato, com um discurso poderoso, que a gente n�o tem como criticar ou fiscalizar. Quando o sofrimento mental justifica uma interna��o? O movimento antimanicomial n�o � contra a interna��o, mas defende que ela ocorra apenas em caso de crise. � claro que isso d� mais trabalho.
Folha - A capta��o de recursos para a produ��o estendeu-se por quase tr�s anos. Que aspecto do roteiro afugentava os investidores?
Bodanzky - Acho que a quest�o manicomial foi sempre o que incomodou mais. O filme n�o levanta tanto a quest�o da droga. Embora ela provoque a virada, seja o grande absurdo que coloca a posi��o radical da fam�lia e modifica a vida desse adolescente, n�o nos detivemos sobre isso, porque n�o era nossa quest�o central.
Folha - A escolha de Rodrigo Santoro para interpretar o protagonista foi sua primeira op��o?
Bodanzky - Nunca pensei em outra pessoa. Dois anos antes das filmagens, Paulo Autran leu o roteiro e me perguntou se eu j� tinha o ator protagonista. Eu ainda n�o pensava a respeito, e ele me indicou Rodrigo Santoro, com quem havia trabalhado na miniss�rie "Hilda Furac�o". Disse que era um excelente profissional, muito concentrado e com o perfil do personagem. Eu nem sabia direito quem era Rodrigo e fui assistir a "Hilda Furac�o". A� me "caiu a ficha", tinha de ser ele.
Folha - Com 16 pr�mios conquistados em festivais, o filme aponta para uma carreira de p�blico amplo, embora seja voltado para adolescentes. A inten��o era fazer um filme para o p�blico juvenil?
Bodanzky - Desde o in�cio. Com a experi�ncia do Cine Mambembe [projeto de exibi��es cinematogr�ficas em pra�as p�blicas", eu e o roteirista Luiz Bolognesi percebemos o quanto � importante a empatia do p�blico com a hist�ria e com o personagem central. Como nosso protagonista era um adolescente, definimos que o filme seria para adolescentes.
Folha - Cineastas sempre lamentam a impossibilidade de corrigir falhas perpetuadas em seus filmes. Qual o defeito que voc� observa em "Bicho de Sete Cabe�as"?
Bodanzky - Colocamos o roteiro e a montagem para serem criticados por adolescentes. A partir dos coment�rios, algumas cenas sa�ram e outras foram inclu�das. Quando voc� mostra um filme em que acredita para ser criticado, � uma crise. H� o impacto; voc� o absorve e muda. Passei por isso. N�o sei dizer quantas vezes vi o "Bicho". A-do-ro esse filme. Estou lambendo a cria. Gosto de cada detalhe. Sou incapaz de citar um defeito. N�o consigo.
"Bicho de Sete Cabe�as" testa seu f�lego comercial no pa�s
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da Folha de S.Paulo
Um cigarro de maconha flagrado pelo pai custou ao estudante Neto (Rodrigo Santoro) a interna��o em um hospital psiqui�trico, anos de medica��o controlada e sess�es de eletrochoque.
Baseado no relato testemunhal "Canto dos Malditos" (editora Rocco), "Bicho de Sete Cabe�as" � o longa de estr�ia da diretora La�s Bodanzky, 31, que tem cinema no curr�culo por heran�a (� filha do cineasta Jorge Bodanzky) e conquista -dirigiu "Cart�o Vermelho", entre outros seis curtas e v�deos. Com o marido, Luiz Bolognesi, roteirista de "Bicho", Bodanzky empreendeu o projeto de exibi��es p�blicas e gratuitas Cine Mambembe, em pra�as do pa�s. Filme para o p�blico � a divisa da cineasta, que realizou o seu primeiro t�tulo com R$ 1,5 milh�o e foco no espectador adolescente.
Folha - Qual dos temas abordados em "Bicho de Sete Cabe�as"- tratamento manicomial, rela��es familiares, intoler�ncia, incomunicabilidade- mais lhe interessa? Que hist�ria queria contar?
La�s Bodanzky - Vejo no filme dois temas centrais: a quest�o manicomial no Brasil hoje e a dificuldade de di�logo em fam�lia. Eu participava de um grupo de pesquisa sobre a quest�o manicomial para a produ��o do document�rio "Loucura e Cidadania", de Roberto d'Avila. Descobri como era preconceituosa com o tema, a caricatura que tinha do universo da loucura. Fiquei decepcionada comigo mesma e emocionada com essa realidade. No meio da pesquisa, chegou �s minhas m�os o livro "Canto dos Malditos", de Austreg�silo Carrano Bueno. Esse foi o arremate. O livro � um desabafo. Escutei-o e tive certeza de que tinha de contar essa hist�ria, de fazer com que muitas pessoas soubessem desse grito para que a hist�ria n�o se repetisse. Hoje existem 70 mil internos em hospitais manicomiais no Brasil. � um n�mero desproporcional. N�o faz sentido essa quantidade de leitos, essa pol�tica de interna��o.
Folha - Sup�e-se que as interna��es ocorram por dist�rbios mentais existentes. No caso abordado em "Bicho", n�o havia doen�a.
Bodanzky - Sem d�vida. Foi um erro m�dico. Mas, assim como esse erro ocorreu com Carrano, ele se repete hoje em diversas facetas. Esse � um dos grandes perigos do mundo da psiquiatria, que � um mundo abstrato, com um discurso poderoso, que a gente n�o tem como criticar ou fiscalizar. Quando o sofrimento mental justifica uma interna��o? O movimento antimanicomial n�o � contra a interna��o, mas defende que ela ocorra apenas em caso de crise. � claro que isso d� mais trabalho.
Folha - A capta��o de recursos para a produ��o estendeu-se por quase tr�s anos. Que aspecto do roteiro afugentava os investidores?
Bodanzky - Acho que a quest�o manicomial foi sempre o que incomodou mais. O filme n�o levanta tanto a quest�o da droga. Embora ela provoque a virada, seja o grande absurdo que coloca a posi��o radical da fam�lia e modifica a vida desse adolescente, n�o nos detivemos sobre isso, porque n�o era nossa quest�o central.
Folha - A escolha de Rodrigo Santoro para interpretar o protagonista foi sua primeira op��o?
Bodanzky - Nunca pensei em outra pessoa. Dois anos antes das filmagens, Paulo Autran leu o roteiro e me perguntou se eu j� tinha o ator protagonista. Eu ainda n�o pensava a respeito, e ele me indicou Rodrigo Santoro, com quem havia trabalhado na miniss�rie "Hilda Furac�o". Disse que era um excelente profissional, muito concentrado e com o perfil do personagem. Eu nem sabia direito quem era Rodrigo e fui assistir a "Hilda Furac�o". A� me "caiu a ficha", tinha de ser ele.
Folha - Com 16 pr�mios conquistados em festivais, o filme aponta para uma carreira de p�blico amplo, embora seja voltado para adolescentes. A inten��o era fazer um filme para o p�blico juvenil?
Bodanzky - Desde o in�cio. Com a experi�ncia do Cine Mambembe [projeto de exibi��es cinematogr�ficas em pra�as p�blicas", eu e o roteirista Luiz Bolognesi percebemos o quanto � importante a empatia do p�blico com a hist�ria e com o personagem central. Como nosso protagonista era um adolescente, definimos que o filme seria para adolescentes.
Folha - Cineastas sempre lamentam a impossibilidade de corrigir falhas perpetuadas em seus filmes. Qual o defeito que voc� observa em "Bicho de Sete Cabe�as"?
Bodanzky - Colocamos o roteiro e a montagem para serem criticados por adolescentes. A partir dos coment�rios, algumas cenas sa�ram e outras foram inclu�das. Quando voc� mostra um filme em que acredita para ser criticado, � uma crise. H� o impacto; voc� o absorve e muda. Passei por isso. N�o sei dizer quantas vezes vi o "Bicho". A-do-ro esse filme. Estou lambendo a cria. Gosto de cada detalhe. Sou incapaz de citar um defeito. N�o consigo.
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