Organizações sociais continuam atuando para ajudar vítimas das fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul e se preparam para a fase de reconstrução do estado, com ações voltadas para educação, saúde, alimentação e acolhimento de crianças.
Exemplos disso são a ONG Comunitas, que criou um fundo para a retomada da educação, a SAS Brasil, que deslocou para Porto Alegre uma unidade móvel de saúde, e a Expedicionários da Saúde, que levará atendimento médico a Eldorado do Sul, uma das cidades mais afetadas pela calamidade.
Já o Movimento União BR, que tem promovido ações como distribuição de refeições e doações de cestas básicas, roupas e itens de higiene pessoal, planeja levar ambulatórios itinerantes, serviços de telemedicina e lavanderias comunitárias para auxiliar na reconstrução do estado.
Outros projetos, de caráter mais emergencial, também estão sendo executados. A ONG Visão Mundial criou espaços seguros para crianças e adolescentes que perderam a moradia e está distribuindo alimentos e kits de higiene. Já a Gastromotiva passou a integrar uma frente de cozinhas solidárias, que chega a produzir 8.000 refeições diariamente.
Saiba mais sobre a atuação de cada uma das organizações:
Retomada da educação
Criado em maio deste ano, o fundo educacional da ONG Comunitas vai apoiar as redes de ensino estadual e municipais, viabilizando a compra de móveis, equipamentos e materiais didáticos para escolas. O objetivo da iniciativa é acelerar a retomada do ensino no Rio Grande do Sul.
"Desastres climáticos destroem infraestruturas escolares e desestabilizam a vida diária das crianças e famílias, forçando, muitas vezes, a suspensão das aulas por períodos prolongados. Isso pode contribuir para o abandono escolar e para a entrada precoce no mercado de trabalho", diz Regina Esteves, fundadora e presidente da Comunitas.
Com apoio dos governos estadual e municipais, doadores privados e organizações da sociedade civil, o fundo arrecadou R$ 200 mil para a Casa Violeta, espaço de acolhimento para crianças e mulheres afetadas pelas enchentes em Porto Alegre (RS). O abrigo é integrado às redes públicas de saúde, educação e assistência social.
"O fundo apoiou a montagem da infraestrutura necessária para oferecer um ambiente seguro e digno a essa parcela da população durante o período transitório, que pode se estender por até um ano", explica a líder da organização que atua estimulando parcerias entre setor privado e poder público.
Atenção à saúde
A SAS Brasil levou uma de suas carretas itinerantes à capital gaúcha para complementar os serviços da Unidade Básica de Saúde Santa Marta.
A estrutura tem sido usada pela equipe de saúde local para atender a população e deve permanecer na cidade até o fim de junho. Até o momento, já foram realizados mais de 4.000 atendimentos.
A organização está produzindo um mapeamento de novas regiões que precisam de atendimento e se prepara para deslocar a carreta até áreas antes inacessíveis. Outro plano é atuar junto ao SUS (Sistema Único de Saúde) para promover mutirões de atendimentos presenciais e remotos com voluntários.
Foi criado, ainda, um programa de amparo psicológico a profissionais da saúde na linha de frente. "Nossa equipe foi a campo e uma das primeiras impressões foi a sobrecarga emocional a que os profissionais estão sendo submetidos", diz Marina Cardoso, gerente de engajamento da entidade.
A ONG Expedicionários da Saúde, por sua vez, levará, em julho, duas unidades móveis de atendimento médico a Eldorado do Sul, município que teve 80% da população afetada pelas enchentes, com clínicos gerais, pediatras e enfermeiros.
"O hospital inundou em Eldorado, assim como os postos de saúde. Dos dez, 8 foram alagados. O sistema de saúde está completamente colapsado", conta Ricardo Afonso Ferreira, médico ortopedista e presidente da organização.
A ação acontecerá até setembro, podendo ser prolongada conforme a demanda.
O Movimento União BR também levará quatro carretas de saúde com consultórios e desenvolverá projeto de telemedicina focado em saúde mental.
Acolhimento de crianças
A Visão Mundial criou, em parceria com a Prefeitura Municipal de Canoas, "espaços amigáveis" —locais de recreação para crianças e adolescentes que estão vivendo em abrigos. No total, já foram implementados 20 deles, em universidades e escolas.
Representantes do Conselho Estadual de Mulheres do Rio Grande do Sul relataram abusos contra meninas e mulheres em abrigos para vítimas das enchentes. Em reunião com a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, entidades do estado cobraram a criação de canais de denúncia. No início de maio, seis pessoas foram presas sob suspeita de terem cometido crime de estupro em abrigos.
Esse cenário motivou a ONG a criar os espaços seguros, que visam oferecer proteção e apoio psicossocial, além de contar com programação diversa, incluindo brincadeiras, jogos e atividades educativas. Psicoterapeutas, educadores e pedagogos estão presentes nas unidades.
"O objetivo é garantir que as crianças tenham um lugar só delas, onde possam passar o dia todo. Isso diminui a possibilidade de sofrerem algum tipo de violência ou abuso", explica Thiago Crucciti, diretor nacional da Visão Mundial Brasil.
Outro intuito é promover a socialização. "Queremos estimulá-las a ter uma rotina de desenvolvimento e mostrar que elas não estão sozinhas, que há outras crianças na mesma situação", diz.
Além disso, mais de 10 mil kits de higiene e 240 toneladas de alimentos foram entregues à população afetada até o momento.
Doações e reconstrução
O Movimento União BR está presente no Rio Grande do Sul desde setembro de 2023, quando o estado também sofreu com chuvas. Desde então, a entidade especializada em criar hubs de emergência pelo país tem ajudado a reconstruir casas e escolas.
Na tragédia mais recente, foram doados 25 purificadores de água, capazes de filtrar 10 mil litros, além de 30 mil cestas básicas, 2 milhões de refeições, 20 mil cobertores e 4.000 colchões. A organização também usou 40 barracas para montar abrigos provisórios.
Foram doados, ainda, mais de 20 contêineres com sanitários para abrigos.
As próximas ações de reconstrução serão focadas em habitação, saúde e escolas, explica Tatiana Monteiro de Barros, fundadora do Movimento União BR.
"As doações caíram muito. As pessoas estão voltando às suas vidas normais, e isso é compreensível, mas as doações não podem ser esquecidas. Ainda tem muito a ser feito, principalmente na parte assistencial. A gente tem que ter muita força e pessoas engajadas na reconstrução, que será muito necessária."
Cozinhas solidárias
A Gastromotiva atua no apoio a cozinhas solidárias no estado, as quais chegam a produzir 8.000 refeições diariamente.
"Nos unimos à Frente SOS Cozinhas Solidárias RS para contribuir com o acesso à comida saudável e de qualidade para pessoas que sofreram com as enchentes", diz David Hertz, fundador e presidente da entidade.
A ONG fez parceria com a Plataforma de Gastronomia FeedMe e o chef Ricardo Dornelles para organizar a logística de distribuição das refeições. Cozinheiros como Júlio Ritta do Cozinheiros do Bem, Ícaro Conceição, Fabrício Goulart, Frank Bin e Thalyta Koller, do MasterChef Brasil, estão engajados na produção dos pratos.
Com a iniciativa Cozinha de Recomeços, que terá início em julho, a Gastromotiva também irá ajudar pessoas que perderam seus negócios devido às enchentes, incluindo cozinheiros e donos de restaurantes.
Serão oferecidas aulas gratuitas sobre temas como reaproveitamento de alimentos, empreendedorismo na gastronomia e ficha técnica de menus.
Além disso, participantes receberão consultorias personalizadas sobre gestão de recursos, fotografia de alimentos e marketing. Pessoas que não têm experiência na área, mas que desejam reconstruir suas vidas por meio da gastronomia, também poderão participar.
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