O volume de investimentos de impacto socioambiental no Brasil chegou a 18,7 bilhões em 2021. O número representa um crescimento de 60% em relação ao ano anterior quando o total investido foi de R$ 11,5 bilhões.
Os dados são do Relatório de Investimentos de Impacto no Brasil de 2021, recém-divulgado pela Ande (Aspen Network of Development Entrepreneurs) com patrocínio da Fundação Grupo Boticário, Fundo Vale e Potencia Ventures.
Lançado em maio, o estudo mostra que a pandemia de Covid-19 alavancou o volume investido em causas sociais.
"Os investidores estão respondendo às profundas consequências da pandemia, como desemprego, empobrecimento das profissões e dificuldades de acesso à digitalização, entre outros", afirma Itali Colini, da Potencia Ventures.
O contexto pandêmico também influenciou as causas com maior volume de investimento, explica Colini. "Observando os dados, vemos um aumento do interesse pelos temas da pobreza, trabalho decente e educação."
O relatório também destaca que os setores de agricultura, seguido por educação; saúde; e biodiversidade e conservação de ecossistemas estiveram no foco dos investidores em 2021.
Apesar do grande interesse em biodiversidade por parte dos investidores, ainda há pouco aporte concretizado nesse setor. Isso reforça a importância do esforço direcionado e gradativo para obtenção resultados.
As alterações climáticas continuam se destacando entre causas norteadoras de negócios que receberam investimentos.
Segundo a pesquisa, 71% dos investidores realizaram, entre 2020 e 2021, alguma ação de fomento a negócios de impacto voltados para os desafios das mudanças climáticas, e 26% deles só investiram em projetos deste segmento.
Na análise do perfil dos investidores, a Ande avaliou o aspecto de diversidade na composição das organizações. Entre os 162 representantes com cargo de conselho, apenas três são não-brancos. Além isso, entre os funcionários com cargos de liderança apenas 22 não são brancos em um total de 210 consultados.
A diversidade de gênero também se revelou um desafio nas organizações de investimento analisadas. Dos 250 conselheiros citados, 167 são homens, e entre os 240 profissionais com cargos de liderança, apenas 71 são mulheres.
Sobre este cenário, Itali Collini explica que o fato de muitos dos investidores não serem latinos -55 dos 93 consultados- pode ter influenciado o resultado, mas reconhece que a pauta preocupa.
"O perfil dos tomadores de decisão ainda é branco e masculino. O acesso da mulher no mercado de investimento cresceu nos EUA e na Europa. Porém, o tema racial não é visto com a mesma força por lá, o que impacta as pressões por aqui, onde 53% são negros. A pesquisa mostra que a diversidade é uma questão urgente."
De acordo com o relatório, mais de um terço dos investidores que responderam sobre gênero e raça e cor ainda não coletam essas informações sobre seus conselhos de administração ou na liderança.
Apesar do quadro desafiador, Henrique Bussacos, presidente do conselho da Ande Brasil, afirma que o relatório pode ajudar encontrar soluções para este e outros aspectos identificados no setor.
"O estudo ajuda identificar os desafios enfrentados pelo ecossistema de impacto. Isso o torna uma ferramenta importante para analisar o contexto e tomar decisões para ação coletiva neste campo."
O relatório pode ser consultado na íntegra no site da Ande Brasil.
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