A ONG fundada pelo sociólogo e ativista Betinho completa 30 anos de existência com o lançamento de um fundo patrimonial para garantir a perenidade das ações de combate à fome no Brasil.
Os recursos aplicados, que somam quase R$ 45 milhões em doações, darão fôlego para projetos da Ação da Cidadania que, em três décadas, atendeu 26 milhões de pessoas e distribuiu 55 milhões de quilos de alimentos.
"O Fundo Betinho vai financiar o combate à fome de maneira perene, pois as doações têm altos e baixos e a fome é todo dia", afirma Rodrigo ‘Kiko’ Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania.
Segundo a entidade, o volume de recursos aplicados torna o Fundo Betinho um dos cinco maiores geridos por organizações da sociedade civil no país.
O ‘Panorama dos Fundos Patrimoniais no Brasil’, publicado em 2022 pelo Idis - Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social, mostra outras iniciativas com volumes semelhantes.
Entre elas, o Fundo Baobá (R$ 58 milhões), o Fundo Fundação Amazônia Sustentável (R$ 58 milhões) e o Fundo Perpetuidade SOS Mata Atlântica (R$ 68 milhões).
"Nossa meta é ser o maior fundo patrimonial do país entre as organizações da sociedade civil", diz Kiko. "Isso permite independência em relação a governos e a momentos de queda nas doações."
Fundos familiares e de grandes fundações, que somam até R$ 1 bilhão em patrimônio aplicado, não entram na métrica apontada pelo executivo.
Parte das contribuições que a entidade recebe no modelo conhecido como "endowment" serão aplicadas no Fundo Betinho, e apenas os rendimentos —que giram em torno de 1% ao mês, segundo a ONG— serão resgatados para financiar ações de combate à fome.
Entre os doadores, Jayme Garfinkel, ex-presidente do conselho de administração do Grupo Porto Seguro, que recentemente destinou R$ 5 milhões para o fundo patrimonial da Ação da Cidadania.
Combatendo a fome de 1993 a 2023
A ONG fundada por Betinho em 24 de abril de 1993 completa 30 anos no front de combate à insegurança alimentar no Brasil.
Com o agravamento da fome, que voltou a patamares da década de 1990, segundo levantamento publicado em 2022 pela Rede Penssan, a entidade se articulou para enfrentar o que chamou de "tragédia social".
"É uma frustração depois de toda a luta que tivemos em décadas. O cenário é pior do que quando Betinho e a sociedade se indignaram contra a fome, quando a Ação da Cidadania foi lançada", disse Kiko à época.
A ONG ampliou a rede de entidades atendidas em todo o país, lançou a campanha ‘Brasil sem Fome’ e inaugurou cozinhas solidárias. Em 2020, a campanha ‘Ação Contra o Corona’, destaque no Prêmio Empreendedor Social daquele ano, arrecadou quase 2,7 mil toneladas de alimentos para pessoas em insegurança alimentar.
Mais recentemente, atuou nas emergências em estados afetados por catástrofes e desastres naturais —como em Petrópolis (RJ) e no sul da Bahia— e enviou 20 toneladas de alimentos para os yanomamis em Roraima.
Em outro front, a entidade propõe debates e interage com autoridades públicas, com propostas para o combate à fome. A Agenda Betinho, lançada em 2022, apresenta 92 propostas para o fortalecimento de políticas públicas de segurança alimentar e nutricional.
"A Ação não nasceu para combater apenas a falta de comida, no entanto, a desigualdade deste país é tão crônica e histórica que tivemos que focar nossa energia na ajuda prioritária à população brasileira", diz Daniel Souza, presidente do conselho da ONG e filho de Betinho.
"Agora a Ação da Cidadania quer olhar para os próximos 30 anos. E a fome, definitivamente, não pode ser o tema desse novo ciclo."
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