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Tetra resgatou autoestima do brasileiro, afirma Romário

Documentário retrata impacto do jogador e da conquista da seleção após impeachment e anos de hiperinflação

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São Paulo

Em 1994, os brasileiros conviviam com traumas recentes na economia e na política, com a memória ainda fresca dos anos de hiperinflação e do processo de impeachment do presidente Fernando Collor, o primeiro eleito de forma direta após a ditadura militar. O país ainda teve de lidar naquele ano com a perda de seu maior ídolo esportivo, o tricampeão mundial de F1 Ayrton Senna.

Com o Brasil ainda de luto, a seleção de futebol embarcava para a disputa da Copa do Mundo nos Estados Unidos sob os olhares desconfiados de jornalistas e torcedores, após uma classificação suada nas Eliminatórias.

A confirmação viria somente na última partida do torneio classificatório, contra o Uruguai, e fez nascer um novo ídolo nacional —o atacante Romário, autor dos dois gols contra a formação celeste e peça fundamental para a conquista do tetracampeonato, que quase ficara fora do time por divergências com o técnico Carlos Alberto Parreira.

"Foi o ápice da minha carreira. E posso afirmar que para aquela geração também. O Brasil estava em um momento político, econômico e social muito difícil, e aquela conquista, com certeza, de uma forma direta ou indireta, resgatou um pouco a autoestima do brasileiro", disse Romário à Folha.

Romário durante episódio da série documental "Romário - O Cara", que estreia no dia 23 na plataforma Max
Romário durante episódio da série documental "Romário - O Cara" - Divulgação/Max

Estreará na próxima quinta-feira (23) na plataforma de streaming Max a série documental "Romário — O Cara", que retrata a trajetória do Baixinho até a consagração como campeão mundial, com cinco gols nos Estados Unidos.

"Se eu falar que, se eu não estivesse lá, o Brasil não seria campeão, seria muita arrogância da minha parte. Mas posso dizer que tive uma participação de muito mais do que de 50% naquela Copa. E o grupo entendia, e até hoje entende, a minha importância naquela conquista", disse o tetracampeão. "Com a minha ausência naquela Copa, o Brasil teria muito mais dificuldade. A minha presença foi a cereja do bolo."

Diretor da série, Bruno Maia afirmou que o período de 1992 a 1994 é o ponto central da obra, mas os seis episódios mostram como foi moldado o jogador —desde a infância na comunidade do Jacarezinho, passando pela base do Olaria, até o destaque precoce com a camisa do Vasco da Gama e a transferência para a Europa.

"Quisemos aprofundar a história para além dos gols e mostrar o impacto cultural do Romário no país pós-queda de Fernando Collor, maior inflação da história em 1993, episódios de violência urbana. E com a morte do maior ídolo do país até aquele momento, sobrando para o Romário preencher um vazio, aquela orfandade em que o país ficou às vésperas da Copa", disse Maia.

Conforme o jogador —ele deixou a aposentadoria dos gramados para atuar como presidente e atleta do America-RJ, ao lado do filho Romarinho—, o momento mais difícil retratado no documentário é o sequestro de seu pai, Edevair de Souza Faria, a cerca de um mês do início da Copa. "Marcou muito minha vida, em termos de tristeza e sofrimento."

Segundo Romário, hoje senador pelo PL-RJ, aqueles que assistirem aos episódios vão se deparar com uma figura genuína. "O Romário não é um personagem. Todo o mundo que me conheceu vai dizer que o Romário é autêntico, leal, amigo dos amigos, gosta de paz, mas na guerra também funciona."

A série traz o depoimento de uma série de jogadores que atuaram ao seu lado ou o enfrentaram dentro de campo, como Roberto Baggio, Pep Guardiola, Hristo Stoichkov, Franco Baresi, Neymar, Bebeto e Ronaldo.

Aqueles que não tiveram a oportunidade de assistir a Romário no seu auge poderão acompanhá-lo agora na segunda divisão do Carioca. Ele classificou como "fantástica" a experiência de atuar como presidente e jogador do America.

Na estreia da equipe na segunda divisão carioca, no último sábado (18), vitória por 2 a 0 sobre o Petrópolis, o jogador-presidente passou os 90 minutos no banco. "A decisão é do técnico, mas em relação ao que eu mandar", brincou o atacante, que pretende atuar como companheiro de Romarinho.

"Sei que existe uma expectativa muito grande das pessoas de voltar a ver o Romário jogar, nem que seja por cinco ou dez minutos. Tenho esse compromisso e vou cumprir a minha palavra, até porque é um sonho que eu tenho de realizar jogar ao lado do meu filho."

Romário reconheceu que o America "tem muitos problemas", principalmente financeiros, e disse que vem trabalhando para trazer novas receitas e quitar as pendências com funcionários e jogadores.

No dia 16 de maio, o clube anunciou como patrocinador master a Superbet, empresa de apostas esportivas online. Ao mesmo tempo em que, em Brasília, o senador Romário será o relator da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das apostas esportivas, que investiga a manipulação de resultados no futebol brasileiro.

Ele negou haver conflito de interesse. "Sempre fui um cara muito sério. Tenho o compromisso de fazer uma política séria, honesta. Não vou fugir disso. O meu relatório vai ser bem específico, e aquelas pessoas ou empresas que fizeram algum tipo de corrupção, de sacanagem ou dolo em relação aos jogos, pode ter certeza de que todas estarão lá [no relatório final]", afirmou Romário.

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