Descrição de chapéu Chuvas no Sul

Sem apoio para paralisar Brasileiro, equipes gaúchas devem ter novos adiamentos de partidas

Presidente do Grêmio diz que momento não é de pensar em volta aos treinos

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São Paulo

Enquanto as equipes gaúchas defendem a paralisação do Campeonato Brasileiro e encontram resistência dos pares em aderir à medida, novos adiamentos de partidas deverão ser necessários diante da situação precária de jogadores e funcionários dos clubes provocada pelas chuvas no Rio Grande do Sul.

Os presidentes do Grêmio, do Internacional e do Juventude se manifestaram nos últimos dias em favor da paralisação, alegando que o momento não permite pensar em futebol, mas não encontraram o eco esperado nos demais times da série A dos outros estados.

"Não tem clima para futebol. Temos funcionários e atletas em que os familiares perderam tudo. O principal objetivo agora é ajudar toda a comunidade envolvida com as perdas nesta tragédia. Precisamos reestabelecer o mínimo da dignidade e sobrevivência dessas pessoas", afirmou Fabio Pizzamiglio, presidente do Juventude.

O clube diz que está empenhado somente em ajudar a população de Caxias do Sul e de todo o Rio Grande do Sul. "São centenas de pessoas desabrigadas, muitos bairros e casas ainda com grandes riscos de desabamento. Não existe nenhum psicológico para ter uma partida de futebol neste momento", acrescentou o dirigente. Na véspera, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) havia anunciado o adiamento das partidas das equipes gaúchas até o dia 27 de maio.

Arena do Grêmio, em Porto Alegre, invadida pela água das chuvas - Carlos Fabal - 7.mai.2024/AFP

"Essa medida de adiar os jogos por 20 dias, ao meu ver, é insuficiente para o tamanho do desastre que vivemos aqui. Conversei com o presidente [da CBF] Ednaldo Rodrigues porque não temos condições de estarmos preocupados com futebol neste momento", afirmou Alessandro Barcellos, presidente do Internacional.

O adiamento até o fim de maio é uma medida emergencial que tira parte do problema urgente, mas que não resolve, acrescenta Barcellos. "Nós não vamos de maneira nenhuma colocar o futebol em frente da vida."

O dirigente colorado disse ainda que quem não está no Rio Grande do Sul neste momento talvez não consiga ter a real dimensão do tamanho da tragédia. "Alguns podem achar que é uma região específica, mas foi o estado do Rio Grande do Sul inteiro que teve cidades devastadas. Na capital, aqui em Porto Alegre, 95% da cidade não tem água para beber e quase todos os bairros foram atingidos. É impossível pensarmos em futebol agora."

Presidente do Grêmio, Alberto Guerra agradeceu a oferta de equipes de São Paulo e do Rio de Janeiro para a utilização pelos gaúchos de seus CTs (Centros de Treinamento) e estádios, mas ressaltou que a volta aos treinos não é uma preocupação por ora. "Sei que foi com muito carinho e empatia que vários clubes ligaram oferecendo as instalações, sei que são sinceros, mas não é o momento agora. O momento é de sobrevivência", declarou Guerra em entrevista na noite de terça-feira (7) ao Sportv.

"Não tem como pensar em treinar, onde vai treinar, quando vai treinar, com pessoas que perderam tudo, perderam familiares, perderam casa", afirmou o dirigente. "Me recuso a falar de futebol neste momento.", acrescentou o presidente gremista, que disse se sentir agredido ao ver comemorações de gols em outros estados, ao mesmo tempo em que boa parte do Rio Grande do Sul está debaixo d´água.

Sem condições de treino nos últimos dias, jogadores das principais equipes gaúchas se voltaram à mobilização aos mais necessitados, ajudando a servir o almoço em centros sociais e até levando motos aquáticas para resgatar pessoas ilhadas.

A oferta de São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Santos e Flamengo foi inclusive criticada por torcedores nas redes sociais, que a interpretaram como um posicionamento contra a pausa no campeonato, reforçando percepção da própria CBF que, ao questionar os clubes sobre a disposição em paralisar o campeonato, teve um retorno negativo da maior parte dos presidentes.

Adson Batista, presidente do Atlético-GO, foi um dos poucos dirigentes de clubes da série A do Brasileiro que se posicionou publicamente contra a paralisação do torneio. "Um problema grande não justifica criar outro grande problema. Por que o país é continental, temos 20 clubes na série A, 17 vão ter que ser sacrificados?", questionou Batista. "Parar para quê? Para ficarmos sofrendo, chorando? Não adianta", emendou o dirigente, para a revolta de torcedores na internet.

Para Eduardo Cillo, coordenador de psicologia do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), independentemente das motivações de cada um, a utilização das instalações em outros estados pode ajudar no processo de recuperação dos atletas.

"O melhor seria conseguir uma condição alternativa de treinamento, de volta à preparação, exatamente para diminuir a ansiedade, a angústia da quebra de rotina. E a gente tem que ver o que é possível, não o que é o ideal", afirma Cillo.

Uma alteração de rotina, a princípio, causa estranhamento, o lugar é diferente, as pessoas são diferentes, mas, passados alguns dias, entra num ritmo de certa normalidade, defende o coordenador. "E aí, as cabeças voltam para o lugar", diz ele, acrescentando que será necessário monitorar a evolução da situação no Rio Grande do Sul para que seja possível mensurar com alguma precisão o prazo para o retorno às atividades.

"Talvez, infelizmente, a situação piore ainda mais. Neste caso, necessitaremos de um período maior do que esses 20 dias [de adiamento]", afirma Cillo. A expectativa é que a CBF faça novos anúncios conforme a evolução do quadro no estado.

Segundo Thiago Freitas, diretor da empresa de gerenciamento da carreira de atletas Roc Nation Sports, diante da resistência dos clubes em parar o Brasileiro, é preciso levar em consideração o quanto pode ser interessante para os que estão em outras localidades terem três equipes competindo em condições inferiores de preparo, concentração e sem mando de campo –os estádios Beira-Rio e Arena do Grêmio tiveram os gramados encharcados pela água das chuvas.

"Apostaria em ao menos uma dezena de dirigentes propondo que clubes gaúchos se estabeleçam em outras praças e sigam atuando sem sua torcida em várias partidas", diz Freitas.

De acordo com o economista Cesar Grafietti, ainda não é possível fazer qualquer mensuração em relação aos estragos financeiros sofridos pelos clubes e quanto aos investimentos necessários para a reconstrução. "É muito difícil fazer cálculos sérios sem entender o que precisa ser reformado e qual o grau dos danos."

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