Descrição de chapéu Libertadores

Libertadores deixa de ser amor proibido para o Fluminense, campeão da América

Time de Cartola derruba Boca Juniors de frente para o morro de Mangueira e alcança sonhado título continental

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São Paulo

Fez-se a alegria para o torcedor do Fluminense.

O clube tricolor enfim é campeão da Copa Libertadores, troféu obtido com vitória por 2 a 1 sobre o Boca Juniors, na tarde de sábado (4), no estádio Mario Filho, no Rio de Janeiro. Cano e John Kennedy fizeram os gols do título, que jamais havia sido alcançado pela formação das Laranjeiras.

De frente para o morro de Mangueira, vizinho ao Maracanã, o time de Cartola obteve aquela que pode ser considerada a sua maior glória. A equipe tricolor, que homenageou em verde e rosa o compositor de "Amor Proibido" no uniforme lançado mais recentemente, deixou olhos rasos d’água na arquibancada, mas os corações feridos eram os argentinos.

Jogadores do Fluminense, enfim, erguem a Copa Libertadores - Sergio Moraes/Reuters

Diante de um adversário com seis taças da competição, o Fluminense mostrou força. Saiu na frente no primeiro tempo, levou empate no segundo e alcançou o título de maneira dramática, na prorrogação. John Kennedy saiu do banco e recebeu passe de Keno para deixar marcado seu nome na história.

O triunfo coroa o trabalho de Fernando Diniz, que tinha no Campeonato Carioca sua grande conquista como treinador, e cicatriza feridas da agremiação das Laranjeiras, que acumulou fracassos em suas oito participações anteriores na Libertadores, alguns deles extremamente dolorosos.

O troféu esteve ao alcance em 2008 –centenário de Cartola. Derrotada pela LDU por 4 a 2 no jogo de ida da final, no Equador, a equipe buscou no Rio uma vitória de virada por 3 a 1, mas levou a pior nos pênaltis. No ano seguinte, contra a mesma LDU, deixou escapar outro título internacional: com a derrota por 5 a 1 em Quito, o 3 a 0 em casa não foi suficiente na Copa Sul-Americana.

Desta vez, como passou a ocorrer na edição de 2019, a decisão foi disputada em partida única. O duelo derradeiro estava marcado para o Maracanã desde o começo do campeonato, independentemente dos clubes na briga, e o Fluminense trabalhou por mais uma chance de triunfar no local.

A campanha, é verdade, teve sobressaltos. A classificação às oitavas de final só foi obtida na última rodada da fase de grupos, em um tenso empate com o peruano Sporting Cristal, seguido de vaias pela má atuação. A sequência teve triunfos tranquilos sobre o argentino Argentinos Juniors e o paraguaio Olimpia antes de um confronto dramático com o Internacional nas semifinais.

No jogo de ida, no Rio, o Fluminense saiu na frente, teve um jogador expulso, levou a virada e buscou o empate por 2 a 2 com um a menos. Em Porto Alegre, o Inter marcou em falha do goleiro Fábio e teve duas oportunidades claras para selar a vaga na decisão. Enner Valencia errou. John Kennedy, aos 36 minutos do segundo tempo, e Cano, aos 42, não.

A vitória de virada por 2 a 1 levou a formação tricolor à final contra o tradicional Boca, que teve também um caminho acidentado até o Maracanã. Após uma passagem sem sustos em uma chave frágil, apostou no goleiro Romero e avançou à decisão sem nenhuma vitória no mata-mata. Com seis empates, derrubou nos pênaltis o uruguaio Nacional, o argentino Racing e o Palmeiras.

No embate derradeiro, disputado sob tensão, após múltiplos episódios de violência entre torcedores dos finalistas no Rio, uma parte considerável do público era argentina. E foi um argentino que abriu o placar, aos 36 minutos. Para azar do Boca, era o argentino Germán Cano, um dos heróis tricolores, que terminou a Libertadores como artilheiro, com 13 gols.

Era o Fluminense quem dominava as ações, embora a formação portenha tenha tido uma chance clara. O uruguaio Cavani recebeu nas costas de Felipe Melo, na cara do gol, e, inexplicavelmente, em vez de tentar a finalização, deu um passe desastrado para trás. Cano foi bem mais esperto para tirar o zero do marcador.

A jogada teve a cara de Diniz, que gosta de congestionar um dos lados do campo e aproximar os dois pontas. No lance, o ponta-esquerda Keno estava na ponta direita. De lá, deu passe preciso para Cano, que se movimentou de maneira inteligente para evitar a marcação de Advíncula e bater no canto direito de Romero.

A camisa do Boca é pesada, no entanto, e o time cresceu na etapa final, buscando uma pressão mesmo sem grande qualidade técnica. Ajudava nessa tarefa o desgaste do adversário, que perdeu o veterano Felipe Melo por lesão. Aos 27 minutos, o também experiente Marcelo não teve pernas para impedir que Advíncula puxasse a bola para o pé esquerdo e empatasse o jogo de fora da área.

Diniz, em jornada iluminada, chamou o ainda mais iluminado Kennedy, que já tinha sido decisivo nas semifinais. As câmeras da transmissão oficial mostraram claramente o treinador berrando para o garoto de 21 anos: "Você vai fazer o gol do título!". Profecia que se concretizou aos nove minutos do primeiro tempo extra.

O atacante recebeu ótimo passe de cabeça de Keno, extremamente decisivo na final, e bateu de primeira, no canto esquerdo de Romero. Na comemoração, nos braços da galera, levou seu segundo cartão amarelo, o que ampliou o drama. Mas o Boca também teve um jogador expulso pouco depois –Fabra deu tapa em Nino, flagrado pelo árbitro de vídeo– e não achou força para nova reação.

Valeu a aposta do Fluminense em Diniz. E a aposta de Diniz no Fluminense. Em abril de 2022, quando o clube ficou sem técnico, o mineiro mandou mensagem para o presidente Mário Bittencourt, oferecendo-se para o cargo vago. Segundo ele, "algo do além, espiritual", motivou a atitude.

O treinador já havia dirigido a formação tricolor em 2019, sem títulos. Na segunda passagem, manteve seu estilo particular, baseado na profusão de opções para passes curtos, porém conseguiu minimizar os riscos e alcançar resultados mais expressivos —que o levaram à seleção brasileira, onde também trabalha, desde julho.

Com os gols do artilheiro Cano e a chegada do craque Marcelo, campeão de tudo no Real Madrid, o time conquistou o Campeonato Carioca fazendo 4 a 1 no rival Flamengo. Foi um momento considerado importante para equipe e comandante, que ganharam confiança e construíram a campanha do título da Libertadores.

O triunfo continental rendeu US$ 27,15 milhões em prêmios (R$ 136,3 milhões). O valor é considerado importante pela diretoria do clube, que fechou o ano passado com a dívida perto dos R$ 800 milhões. Nada disso parece importar agora para o torcedor do Fluminense, que chora. Disfarça e chora. Ou, ao menos por um momento, leva a vida a sorrir.

Fez-se a alegria.

Painel em homenagem a Cartola em jogo recente do Fluminense - Ricardo Moraes - 19.out.23/Reuters
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