Todo antigo morador da cidade de Santos tem uma história com Pelé. E algumas delas são verdadeiras.
Eu, por exemplo, nos anos 1970, o vi passar várias vezes —na verdade, só duas— dirigindo seu Mercedes azul. Também fiz tratamento para bronquite em uma clínica sua. E, suprema alegria, um dia me encontrei com Ele na rua. Eu devia ter uns sete ou oito anos. Lembro que Ele passou a mão na minha cabeça. Mas nem essa bênção me fez ser um bom jogador de futebol.
Obviamente, o templo máximo de "Pelépolis" é o estádio Urbano Caldeira, na Vila Belmiro. Lá Ele tem uma cabine que é como o seu trono. E sobre aquele gramado ele comandou seu exército em grandes batalhas.
No Guarujá [cidade a cerca de 10 km de Santos] fica a residência oficial de Pelé, uma mistura de Casa Branca, Palácio da Alvorada e Palácio de Buckingham. Mas muito mais importante. A casa ocupa um quarteirão inteiro, e confesso que fiquei emocionado quando entrei ali, já adulto, para falar com Ele sobre o documentário "Pelé Eterno", lançado em 2004, do qual estava fazendo o roteiro.
Lembro que a casa tinha uma quadra de futebol de salão, uma boa churrasqueira (para fazer-vos inveja, conto que o próprio Rei me serviu um espeto de churrasco) e uma espécie de anexo onde ficavam troféus, lembranças e afins. Eram várias caixas.
Minha memória diz que aquilo era algo como a cena final de "Os Caçadores da Arca Perdida", mas ela talvez esteja exagerando um pouco.
Muitas daquelas coisas estão hoje no Museu Pelé, outro santuário a ser visitado pelos fiéis súditos do rei em Santos. Ele fica no centro da cidade, numa antiga casa que passou por uma profunda reforma.
Falando em casas, o casario da Vila Belmiro também vale uma via sacra. Pelé deve ter passado milhares de vezes em frente àqueles sobrados simpáticos. Como eles não mudaram tanto assim ao longo do tempo, andando por ali se pode ver um pouco do que Ele via há 50 anos.
Nos seus primeiros anos jogando pelo Santos, Pelé morou na pensão de dona Georgina com outros jogadores (conheça o local .
Pepe conta que eles escutavam o bonde chegando e saíam correndo para pegá-lo. A casa onde funcionava a pensão ainda existe. Mas virou uma sapataria.
Aliás, um verdadeiro adorador do Rei pode dar uma volta num dos bondes que fazem passeios turísticos na cidade só para saber como o pequeno Gasolina se dirigia para o treino do Santos.
A barbearia do Didi, em frente ao estádio, é outro ponto de peregrinação. Foi lá que Pelé fez seu famoso topete. E, diz a lenda, Didi ainda cortava seu cabelo todos os meses.
A igreja do Embaré, construída em estilo neogótico, também merece ser visitada. Foi onde atiraram grãos de arroz na cabeça d’Ele quando se casou com Rose, sua primeira esposa.
Por fim, pode-se visitar o mar. Pelé conta, mas não se sabe se é verdade ou lenda (não faz muita diferença), que, quando chegou a Santos, a primeira coisa que fez, ainda vestindo o terninho de viagem e com mala na mão, foi andar pela areia até o mar e experimentar um pouco da água.
E há quem diga que, para não desagradar o futuro Rei, o mar se fez doce.
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