Brasil x Croácia tem clima de Carnaval nas ruas de SP, apesar da derrota

Público que lotou bares e restaurantes teve que voltar ao trabalho após a derrota nos pênaltis

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São Paulo

O relógio não marcava nem meio-dia nesta sexta (9) e as mesas de botecos e restaurantes na rua Dom José de Barros, no centro de São Paulo, já estavam ocupadas e cheias de garrafas de cerveja vazias.

Grupos de pessoas vestindo camisas amarelas, verdes e azuis lotavam a via, na qual mal era possível caminhar sem esbarrar em alguém.

Todos estavam ali para assistir ao jogo do Brasil contra a Cróacia na Copa do Mundo, em partida que começou às 12h. Ambulantes aproveitavam o movimento para vender churrasco e bebidas, e a fumaça dos espetinhos se misturava com a fumaça dos narguilés consumidos por boa parte dos jovens por ali, suados sob um calor de 30ºC.

Pessoas se reúnem na rua Dom José de Barros, no centro de São Paulo, durante o jogo do Brasil
Pessoas se reúnem na rua Dom José de Barros, no centro de São Paulo, durante o jogo do Brasil - Mathilde Missioneiro/Folhapress

"É como um Carnaval fora de época", disse Julia Ferreira, de 19 anos, que trabalha em uma empresa de telemarketing próxima à Dom José de Barros e fez uma pausa para ver a partida nas TVs instaladas nos estabelecimentos e nas calçadas. "Depois da política, só a Copa do Mundo reúne todo mundo assim", afirmou a amiga Sabrina Ribeiro, de 18 anos.

A seleção brasileira disputava uma vaga nas semifinais da competição, mas perdeu nos pênaltis e está fora da Copa. O horário do jogo fez com que muitos trabalhadores fizessem uma pausa no meio do expediente para acompanhar a seleção.

Ainda vestindo crachá no pescoço, a vendedora Denise de Paula Nascimento, de 35 anos, se reuniu com outros dez colegas de trabalho para ver a partida em um barzinho da região.

"Só é ruim ter que voltar a trabalhar. A gente bebe e depois é obrigado a voltar, é uma tortura", diz. Ela conta que, nos dias em que a seleção jogou às 16h, era mais fácil acompanhar a partida, pois todos eram liberados mais cedo para voltar para casa.

A alguns metros dali, na praça Dom José Gaspar, mais pessoas com camisas da seleção esticavam o almoço do trabalho e enchiam os bares e restaurantes, equipados com telões improvisados.

Entre elas, estava a consultora de estilo Andreza Ramos, de 27 anos, que interrompeu o home office para garantir uma mesa no bar com os amigos. "A gente precisava de uma risada, de um rolê assim, principalmente depois da pandemia", diz.

Torcedores assistem ao segundo tempo do jogo em bar na praça Dom Jose Gaspar
Torcedores assistem ao segundo tempo do jogo em bar na praça Dom Jose Gaspar - Mathilde Missioneiro/Folhapress

"Mas é muito triste ter que voltar ao trabalho depois do jogo. Vai ser pior do que perder o hexa", disse a amiga Caroline Molina, desenvolvedora de software de 28 anos.

Fora da concentração de botecos e restaurantes, a maioria das ruas na região central estavam quase desertas, com lojas de portas baixadas e poucos carros ou ônibus circulando pelas vias.

O cenário era o mesmo no Baixo Augusta, e só se via algum movimento, ainda que minguado, dentro dos bares e restaurantes que tinham televisores e recebiam clientes para o almoço.

Um pouco mais acima, na esquina da rua Augusta com a Matias Aires, o clima era mais animado, com pessoas enchendo a via. Bares e restaurantes de comida mineira exibiam placas de consumo mínimo de R$ 50 por pessoa em dias de jogo.

O vendedor Eduardo Amarante, 27, que trabalha na região da avenida Paulista, se reuniu com amigos para beber enquanto assistia à partida. "Bebi um pouco para dar uma acalmada no coração." Mas, logo após a partida, ele também teria que voltar ao expediente.

O movimento também era grande nos botecos ao redor da igreja do largo de Santa Cecília, no centro da capital paulista, com mesas e cadeiras espalhadas pelas calçadas e torcedores que estavam tensos com a partida, ainda em zero a zero no segundo tempo.

Torcedores na rua Matias Aires, na região da avenida Paulista
Torcedores na rua Matias Aires, na região da avenida Paulista - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Todos vibraram quando Neymar marcou o primeiro gol pelo Brasil, para dali alguns minutos voltarem a ficar tensos com a partida acirrada e o gol marcado pelos croatas.

"O jogo foi excelente, mas sofrido", comentou o pintor Julio Cesar, de 43 anos. Ele acompanhava os lances ao lado dos colegas que ainda vestiam os uniformes, um grupo de pedreiros que trabalhavam em uma obra na região.

Com início do expediente às 9h, eles foram liberados para uma pausa e logo depois voltariam, para continuar na construção até as 16h —mas deu tempo de tomar uma cervejinha.

As amigas aposentadas Rosimere Marques, 62, mineira de Carmo do Rio Claro, e Fátima de Castro, 68, de Campinas, aproveitaram que estavam na capital para acompanhar uma amiga que fazia um exame médico na região da Santa Cecília para ver o jogo em um dos barzinhos próximos.

Torcedores comemoram primeiro gol do Brasil, em bar no Largo de Santa Cecilia
Torcedores comemoram primeiro gol do Brasil, em bar no Largo de Santa Cecilia - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Enquanto narravam a partida para a amiga por meio de mensagens e fotos, tomavam cerveja e petiscavam porções, numa mesa que elas decoraram com bandeiras. "Estamos rezando por ela e torcendo pelo jogo", disseram.

"O problema foi o goleiro da Croácia", disse Fátima. "Mas sou brasileira e não desisto nunca", comentou a amiga Rosimere.

Muitos dos trabalhadores planejavam esticar a comemoração depois do trabalho, caso a seleção brasileira vencesse. A torcida era pelo hexa, mas também por mais uma pausa no trabalho em uma próxima partida. Com o fim dos pênaltis, o clima de animação que lembrava o de Carnaval mudou para o de desânimo. O jeito foi voltar ao trabalho, um pouco mais triste.

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