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RS tem 19 mortes por leptospirose após chuvas; casos passam de 300

Governo teme que limpeza de casas sem proteção adequada aumente os casos da doença

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Porto Alegre

O Rio Grande do Sul confirmou a 19ª morte por leptospirose decorrente das chuvas e enchentes que atingiram o estado em maio.

A vítima é um homem de 75 anos morador do bairro Três Vendas, em Pelotas, no sul do estado. Os sintomas de dor muscular, dor na panturrilha, vômito e icterícia começaram no dia 8, e o óbito ocorreu no dia 13.

Na foto, uma pilha de roupas acumuladas está parcialmente encharcada.
População que está fazendo a limpeza de áreas atingidas por enchentes deve tomar precauções contra leptospirose

"O número de óbitos realmente é elevado", diz Roberta Vanacôr Lenhardt, a chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do CEVS (Centro Estadual de Vigilância em Saúde).

Quatro mortes ainda estão sob investigação e oito foram descartadas. Ao todo, o estado tem 5.343 notificações e 302 casos confirmados da doença.

De acordo com informações da Secretaria Municipal de Saúde de Pelotas, a vítima foi exposta a áreas alagadiças e a risco ambiental. A leptospirose é transmitida principalmente pela urina de roedores, que pode se espalhar em meio à água suja durante uma enchente.

Segundo Lenhardt, a incidência da leptospirose no estado é alta, e um dos motivos é que mais de 90% dos municípios foram afetados de alguma maneira em razão das enchentes.

"Como o mecanismo de transmissão está muito relacionado ao contato da água de esgoto, e nesse extravasamento ocasionado pelas águas de enchente que as pessoas acabam se expondo, a gente entende que essa é uma das principais doenças que vai acometer a população."

Os níveis de cursos d’água estão aos poucos de volta à normalidade, assim como a rotina de muitas pessoas afetadas, mas os rastros da enchente podem agravar os casos.

"O que nos preocupa é esse retorno para as casas, onde as pessoas estão efetuando os procedimentos de limpeza. Existe também nessa situação potencial alto de contaminação", diz a chefe de vigilância epidemiológica.

O tempo de incubação da leptospirose pode chegar a 30 dias, e normalmente ocorre entre 7 a 14 dias após contato com água de enchente, esgoto ou lama.

O governo gaúcho desenvolveu uma cartilha com os cuidados que a população deve ter com doenças ligadas à enchente.

Dentre as orientações estão cobrir o corpo com roupas longas durante as faxinas e utilizar botas e luvas de borracha, evitar contato com roedores, higienizar corretamente ambientes afetados pela água e também alimentos para consumo.

Lenhardt diz que há um mapeamento de locais que costumam ter maior ocorrência de casos. "Região metropolitana, região do Vale do Taquari, a gente sabe que tem clusters de leptospira [bactéria responsável pela doença]".

Porto Alegre lidera o número de notificações por leptospirose, com 1.554, seguida de Canoas (500), São Leopoldo (306), Novo Hamburgo (266) e Sapucaia do Sul (236). Há um 20º óbito pela doença no estado no período de 26 de abril até o 17 de junho, mas que não tem relação identificada com as enchentes.

A chefe do CEVS diz que foi montada uma estratégia de distribuição de antibióticos para todos os municípios, especialmente os mais afetados, e os medicamentos estão disponíveis na rede básica de saúde. Também vem sendo realizado uma orientação com os profissionais de saúde para identificar os casos suspeitos corretamente.

A efetividade do tratamento é maior quando iniciado nos primeiros dias.

"A gente vem conscientizando bastante a população para que não retarde a busca no atendimento médico, para que, diante dos primeiros sinais, realmente busque uma unidade de saúde, ou busque um profissional que muitas vezes vai estar dentro dos abrigos e sinalize os principais sintomas", diz.

Além da leptospirose, a pessoas expostas a enchentes também ficam vulneráveis a outros problemas de saúde, como hepatite A, ataques com animais peçonhentos, tétano e casos de raiva em incidentes com animais domésticos. Para essas duas últimas, ressalta Lenhardt, há vacinas e profilaxias disponíveis na rede pública.

O Rio Grande do Sul confirmou três casos de tétano acidental e um de hepatite A. Há dez surtos de DDA (doença diarreica aguda) em monitoramento, e outros dez notificados, envolvendo ao todo 151 pessoas. Foram notificados 2.338 atendimentos antirrábicos e 667 relacionados a animais peçonhentos. Deste último, 429 (64,3% do total) são relacionados a aranhas.

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