A indústria farmacêutica e os médicos foram mais uma vez responsabilizados pela crise dos opioides nos EUA. Dessa vez, a bronca foi dada por Nora Volkow, dos NIH (Institutos Nacionais de de Saúde dos EUA). Há, contudo, alguns caminhos para resolver o problema, avalia a pesquisadora.
Segundo Volkow, diretora do Nida, braço dos NIH que trata do abuso de drogas, a indústria não investe o suficiente em novas drogas para combater a dor.
Ela diz que há mais interesse em novidades para o câncer e o diabetes, por exemplo.
"Talvez a indústria farmacêutica esteja ganhando bilhões de dólares vendendo opioides", afirmou, nesta sexta (16), durante o encontro anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), em Austin, Texas.
A especialista reconhece que há gargalos regulatórios que dificultam a aprovação de remédios para dor, mas diz que os NIH estão buscando formas de incentivar o desenvolvimento de drogas mais seguras e eficazes.
Entre as possibilidades estão medicamentos à base de maconha, novas medicações à base de opioides mas sem potencial viciante, remédios biológicos e até mesmo tratamentos não farmacológicos como estimulação neural e meditação --possíveis futuros campões de audiência, opina.
Outra frente de ação é identificar quem é mais suscetível ao vício.
Mas não parece haver solução fácil para o complexo problema da crise dos opioides, que já mata mais gente por overdose do que o registrado em acidentes de carro, Aids ou violência por armas nos Estados Unidos.
Um dos alentos é que já há vacinas contra o vício sendo testadas e com resultados promissores em animais.
Na opinião de Volkow, um trabalho em conjunto dos sistemas judiciário e de saúde seria o ideal. Nessa linha de raciocínio, já foi mostrado que o tratamento da dependência em presidiários pode trazer benefícios.
No Reino Unido, iniciativas do tipo reduziram em 75% a mortalidade por overdose dos presos libertados e, no estado americano de Rhode Island, em 60%.
HISTÓRICO
A especialista afirmou que já se sabia, ainda na década de 1990, que opioides eram viciantes e poderiam levar a overdoses. Concomitantemente, porém, havia uma grande preocupação em aliviar o sofrimento.
"Havia grande negligência com esses pacientes", diz Volkow. E, segundo ela, ainda há, em alguma medida.
Esse seria um dos motivos centrais para o grande número de overdoses que ocorre atualmente. Outro motivo seria a popularização da heroína e de opioides sintéticos.
O excesso de opioide no organismo afeta a função cerebral, diminuindo-a. Com isso, pode haver um colapso no controle da respiração e a pessoa pode morrer.
Volkow diz ter esperança de que, com a exposição da crise e com as pessoas sendo mais bem informadas sobre o tema, o cenário possa melhorar. Além disso, a especialista afirma que os médicos já estão prescrevendo doses um pouco menores de opiodes. "Ao menos estamos caminhando na direção certa", afirmou.
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