Teste gen�tico ajuda m�dico a indicar o melhor antidepressivo
Matt Dtrich/The Indianapolis Star/Associated Press | ||
Depois do sequenciamento do genoma humano, veio a promessa da medicina personalizada. O objetivo final seria encontrar um rem�dio ideal para tratar n�o s� uma doen�a, mas as min�cias e especificidades que se manifestam em cada indiv�duo.
Mas se ainda est� distante aquela ideia de fic��o cient�fica de pingar uma gota de sangue (ou inserir um fio de cabelo) em uma m�quina e o dispositivo produzir a cura para todas as doen�as que aquela pessoa tem –ou vai ter–, o caminho at� l� est� sendo pavimentado.
Uma das bases modernas da medicina personalizada � a �rea de pesquisa conhecida como farmacogen�tica. Ela se baseia na premissa de que � poss�vel buscar, no genoma do indiv�duo, pistas de quais drogas podem ou n�o funcionar para tratar determinadas doen�as.
Os cientistas hoje se esfor�am para destrinchar o que altera��es em genes do complexo citocromo P450 (presente em c�lulas hep�ticas e importante para a metaboliza��o e elimina��o de uma grande variedade de drogas) querem dizer para os tratamentos medicamentosos.
Se em um paciente esse complexo enzim�tico tem a caracter�stica de destruir rapidamente uma determinado calmante, a efic�cia da droga provavelmente ser� afetada.
De posse dessa informa��o, algo pode ser feito para controlar a ansiedade dessa pessoa: entre as possibilidades est�o aumentar a dose ou tentar uma op��o de droga que n�o tenha esse perfil de metaboliza��o t�o acelerado.
TENTATIVA E ERRO
Descobrir na base de tentativa e erro qual rem�dio funciona pode ser uma tarefa especialmente exaustiva, j� que saber se um antidepressivo est� funcionando pode demorar semanas.
At� remarcar a consulta com o m�dico e fazer uma nova tentativa, a sa�de pode degringolar. Foi o que aconteceu com Tha�s Helena dos Santos, 57.
Por 17 anos ela brigou contra a depress�o e estava quase perdendo a luta. "Fiquei oito dias sem comer, cheguei a perder 24 quilos. Meus filhos achavam que eu n�o iria sobreviver."
Ela relata que foram oito interna��es em um ano e v�rias tentativas de rem�dio, seja para conseguir dormir ou para tentar tratar a doen�a, sem sucesso.
"Pedi licen�a do emprego achando que logo estaria de volta. Sem me recuperar, tr�s anos depois fui aposentada por invalidez", relata.
A peregrina��o de rem�dio em rem�dio estava ainda longe do final. "Eu estava sempre chapada por causa dos medicamentos, cheguei a ficar dependente de ansiol�ticos e at� participei de reuni�o dos narc�ticos an�nimos."
Uma das consequ�ncias desse per�odo conturbado da vida de Tha�s foi o diagnosticada com s�ndrome do intestino irrit�vel. Ao investigar a doen�a, seu m�dico concluiu que as raz�es para o transtorno provavelmente eram psicol�gicas.
Tha�s deixou de lado o neurologista e foi procurar um psiquiatra, que por sua vez recomendou a realiza��o de um teste farmacogen�tico, que seria capaz de ajudar na sele��o de um tratamento.
De fato, as drogas que at� ent�o vinha usando tinham boa chance de n�o funcionar ou de ter efeitos colaterais intensos. O m�dico escolheu uma das alternativas que pareciam promissoras e, desde ent�o, 14 dos 25 quilos j� foram recuperados.
"Ganhei de volta a capacidade de administrar minha vida, de dirigir um carro e de cuidar dos meus problemas, coisas das quais eu j� n�o dava mais conta", conta ela.
Ao ver um amigo melhorar de uma depress�o com o aux�lio de um teste que investiga aspectos da a��o de cerca de 70 drogas que agem no sistema nervoso central, o ex-piloto de corrida Cezar "Boc�o" Pegoraro, 67, transformou-se em um entusiasta dessa modalidade de teste e at� mesmo realizou o exame para tentar achar um meio de tratar a pr�pria depress�o.
"Eu estava h� seis anos sem tomar rem�dio. H� coisas que me abalam que n�o abalariam normalmente. Por mais que fossem coisas consideradas leves, eu n�o me sentia estabilizado. Ao fazer o teste, eu queria saber se o DNA pode me dizer alguma coisa. Normalmente as pessoas tomam um rem�dio, depois outro, depois outro e mesmo assim t�m as crises agudas. Um resultado que vai 'na mosca', pode ajudar bastante", conta ele.
PRE�O
A aposta de Gntech, empresa sediada em Florian�polis, foi come�ar suas atividades oferecendo uma avalia��o do perfil de drogas que atuam no sistema nervoso central para problemas como depress�o, ansiedade, deficit de aten��o e psicoses.
O motivo disso, segundo Guido May, CEO da empresa, � que, nessa �rea m�dica, leva-se muito tempo at� que se possa afirmar que a escolha de medicamento falhou.
O teste que a Gntech oferece, ao custo de R$ 3.990, � baseado em um sequenciamento gen�tico de �ltima gera��o, desenhado especificamente para essa modalidade de teste.
� um exame com objetivo diferente dos testes preditivos, que aferem a chance de uma pessoa desenvolver um tipo de c�ncer ou doen�a degenerativa, por exemplo.
No casos em quest�o, j� existe um diagn�stico (depress�o, por exemplo) e o teste serve como uma ferramenta de refinamento para o m�dico escolher a melhor droga, explica May.
Os maiores obst�culos para a consolida��o dos testes farmacogen�ticos, diz, s�o os pr�prios m�dicos, que t�m que aprender a usar essa ferramenta, e a disponibilidade do exame, ainda restrita devido ao alto custo.
Se a promessa de que a farmacogen�tica seria parte integral do futuro da medicina parece se cumprir, a principal limita��o ainda s�o as pesquisas que a embasam.
O que permite que se associem pequenas mudan�as no DNA ao comportamento de drogas no organismo s�o estudos de ci�ncia b�sica, feita na bancada de laborat�rios de biologia molecular e farmacologia que acham essas pistas que, em grupo, alcan�am um n�vel de relev�ncia suficiente para embasar um laudo gen�tico.
Na vis�o de especialistas, a falta desse tipo de estudos � o que define a limita��o dos atuais testes para drogas que atuam no sistema nervoso central, no sistema cardiovascular ou em casos oncol�gicos.
Entre os milhares de poss�veis variantes gen�ticas existentes na popula��o, apenas algumas podem, de fato, dizer algo sobre o comportamento de drogas no organismo humano.
*
Achando a droga certa
Entenda como funcionam os testes farmacogen�ticos
COLETA
A pessoa recebe um tubo e um swab, haste usada para coletar c�lulas do interior da bochecha. O material deve ser enviado para o laborat�rio
AN�LISE
Utilizando uma t�cnica de sequenciamento gen�tico, a empresa identifica regi�es no genoma associadas a melhor ou pior resposta de medicamentos
LAUDO
Um laudo � direcionado ao paciente e outro ao m�dico, o que pode ajudar na decis�o sobre quais drogas podem ser utilizadas
CATEGORIAS
De acordo com as altera��es, os medicamentos podem estar em tr�s categorias: 'Usar conforme a bula', 'Usar com aten��o' ou 'Usar com cautela e aten��o'
PRE�O
Cerca de R$ 4.000, no caso de um painel gen�mico direcionado para drogas que agem no sistema nervoso central; o teste ainda n�o � coberto pelo SUS. A cobertura pelos planos de sa�de n�o � obrigat�ria
EMBASAMENTO
Escolhas
Para doen�as como depress�o, psicoses, doen�as card�acas, deficit de aten��o e transtornos de ansiedade h� diversos tratamentos farmacol�gicos, mas nem todos funcionam bem para todas as pessoas
Efeitos indesejados
N�o � raro que uma pessoa tenha de mudar de medicamento ou porque a primeira tentativa foi in�cua ou porque os efeitos colaterais s�o intensos
Genes
Isso pode acontecer porque alguns genes do indiv�duo podem ter "vers�es" favor�veis ou desfavor�veis ao desempenho da droga como previsto na bula
Citocromo
V�rias mudan�as em genes da fam�lia do citocromo P450 (CYP), por exemplo, est�o associadas a diferentes respostas de drogas para uma metaboliza��o mais r�pida ou mais lenta
ALTERA��ES POSS�VEIS
Rapidinho
Algumas "vers�es" de genes de prote�nas do f�gado podem fazer uma pessoa ser uma "metabolizadora r�pida" –a droga � eliminada rapidamente e a atividade da droga n�o alcan�a o n�vel terap�utico desejado
Conduta poss�vel: trocar de droga ou aumentar a dosagem
Encaixado
Certos rem�dios funcionam como uma chave que se encaixa em uma fechadura. Em algumas pessoas, esse encaixe pode ser mais eficaz; do mesmo jeito, se houver efeitos adversos, eles tamb�m podem ser maiores
Conduta poss�vel: reduzir a dosagem
Droga preferida
�s vezes, por causa de altera��es gen�ticas, a resposta a uma determinada droga � muito boa mas a resposta para outras mol�culas � prejudicada
Conduta poss�vel: adotar preferencialmente a droga de melhor resposta
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade