Pesquisa recria neur�nios e encontra gene ligado � anorexia
Benjamin Watson/Flickr | ||
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Neur�nios derivados do organismo de meninas que sofrem de anorexia possuem um padr�o caracter�stico de ativa��o do DNA, associado ao sistema que regula a sensa��o de prazer durante a alimenta��o.
Os dados sugerem que seria poss�vel projetar medicamentos espec�ficos contra o dist�rbio.
"A anorexia ainda carrega muito estigma social, e muitos acreditam que seja algo psicol�gico. No entanto, � uma doen�a com bases biol�gicas claras, gerada a partir de contribui��es gen�ticas e ambientais", argumenta o bi�logo brasileiro Alysson Muotri, que trabalha na Universidade da Calif�rnia em San Diego, autor do estudo.
Apesar de afetar 1% das pessoas com uma avers�o irracional � ideia de ganhar peso (e que pode levar � morte), ainda falta muito para entender como a doen�a surge.
Para chegar �s conclus�es descritas em artigo na revista "Translational Psychiatry", Muotri e colegas adotaram uma abordagem que tem rendido descobertas a respeito de autismo e mal de Parkinson, por exemplo.
J� que � praticamente imposs�vel investigar diretamente o que acontece nas c�lulas cerebrais de pessoas com esses problemas enquanto elas ainda est�o vivas, os cientistas usaram uma tecnologia que cria neur�nios a partir de uma simples bi�psia de pele.
A tecnologia em quest�o � a das c�lulas iPS (c�lulas pluripotentes induzidas), por meio da qual a amostra de tecido da pele recebe modifica��es para que as c�lulas voltem a um estado extremamente vers�til, semelhante ao das c�lulas de um embri�o com poucos dias de vida.
O passo seguinte � o cultivo delas num "caldo" espec�fico, que propicia a transforma��o delas no tipo celular desejado –no caso, neur�nios do c�rtex, a "�rea nobre" do c�rebro.
Como os neur�nios obtidos por esse m�todo possuem o mesmo material gen�tico dos que est�o no c�rebro da pessoa que foi submetida � bi�psia, espera-se que eles simulem, de forma razoavelmente precisa, o que ocorre no organismo do doente.
Com base nisso, os cientistas obtiveram amostras de quatro adolescentes com um quadro de anorexia severa e refrat�rias a terapias leves.
Os pesquisadores tamb�m produziram neur�nios derivados de quatro mulheres e meninas saud�veis, de modo a poder comparar as duas popula��es de c�lulas.
A prefer�ncia por pacientes do sexo feminino na adolesc�ncia se justifica porque a anorexia � dez vezes mais comum entre mulheres, e os sintomas costumam aparecer alguns anos ap�s a puberdade.
Depois que os neur�nios derivados de ambos os grupos do sexo feminino tinham se estabelecido numa cultura de c�lulas, os cientistas fizeram uma extensa an�lise da express�o g�nica deles–ou seja, do padr�o de ativa��o ou desativa��o de DNA nas c�lulas, o qual, por sua vez, rege o funcionamento celular por meio da produ��o maior ou menor de prote�nas e outras mol�culas.
De maneira geral, as diferen�as entre os dois grupos de neur�nios s�o sutis, embora eles pare�am se comportar de forma distinta –os neur�nios das jovens anor�xicas t�m mais em comum entre si do que com os das mulheres e meninas saud�veis. A ativa��o elevada de um gene espec�fico nos neur�nios "anor�xicos", por�m, chamou a aten��o dos pesquisadores.
Trata-se do peda�o de DNA conhecido como TACR1, que cont�m a receita para a produ��o de uma fechadura bioqu�mica na qual se encaixa a taquicinina. "Ela atua no eixo c�rebro-intestino e foi associada � sensa��o de gordura corporal", explica Muotri.
Ou seja, parece que ajuda a regular a impress�o que cada pessoa tem de estar magra ou gorda –uma das pe�as que fica fora de lugar para quem tem anorexia, um dist�rbio que faz pessoas mag�rrimas continuarem a achar que est�o muito acima do peso.
Curiosamente, j� existem drogas que s�o antagonistas do TACR1, ou seja, atrapalham seu funcionamento. S�o usadas por pacientes que fazem quimioterapia e, por isso, perdem o apetite.
"Seria tentador testar isso agora [em quem sofre de anorexia], mas acredito que ainda � cedo", diz Muotri. "Essas drogas t�m muito efeito colateral e talvez tivessem de ser usadas cronicamente, o que n�o seria t�o vantajoso."
Para o psiquiatra Antonio Leandro Nascimento, da UFRJ, a abordagem adotada no novo trabalho � muito interessante por tentar investigar os aspectos celulares e gen�ticos da g�nese da anorexia. "Mas n�o podemos esquecer que s�o apenas uma parte do quebra-cabe�a. O ambiente e os aspectos culturais tamb�m s�o importantes".
Segundo Nascimento, hoje n�o existem medicamentos voltados especificamente para os pacientes anor�xicos –o tratamento � centrado na terapia cognitivo-comportamental. Por isso, identificar poss�veis alvos para drogas � importante, afirma.
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