Paciente bari�trico chega a perder dentes sem acompanhamento m�dico
Raquel Cunha/Folhapress | ||
Marcos Vanzillotta, 25, teve defici�ncia de vitaminas B12 e C |
A professora Patr�cia Furigo, 37, passou por uma cirurgia bari�trica h� 13 anos. Por causa de defici�ncias nutricionais, ela perdeu boa parte dos dentes, e seu ortopedista pede "por favor" para que ela n�o quebre nenhum osso.
O caso dela est� associado, principalmente, �s defici�ncias de c�lcio e vitamina D decorrentes da cirurgia bari�trica. A professora tamb�m sofreu com v�mitos constantes, o que debilitou a denti��o.
Ela abandonou o acompanhamento m�dico ap�s, por problemas financeiros, perder o plano de sa�de e se mudar de Estado. Tudo isso veio junto com um pouco de teimosia, segundo ela pr�pria.
"Eu percebi que estava no limite quando comecei a perder cabelo. Passava a m�o e ele ca�a, provavelmente por causa da defici�ncia de ferro."
"Uma das coisas que ajudou tudo isso a acontecer foi come�ar a comer muita porcaria. Salgadinho de saquinho, refrigerante. Eu passei a comer muito errado."
Jos� (nome fict�cio) n�o quis que seu nome, idade ou profiss�o fossem citados. De forma alguma ele quer ser associado � cirurgia bari�trica e suas poss�veis complica��es. "Tudo isso me causou muita dor e sofrimento", diz.
A esposa dele j� havia feito a cirurgia e n�o apresentou nenhum problema posterior. Com o exemplo da mulher, Jos� deixou de lado cuidados e acompanhamento m�dico. Surgiu, ent�o, insufici�ncia card�aca devido � defici�ncia de sel�nio. "Eu fui relapso. Eu deveria ter me cuidado mais", afirma. "N�o controlei as taxas de vitaminas e minerais."
Ambos s�o acompanhados por Gilberto Brito, professor adjunto da Faculdade de Medicina de S�o Jos� do Rio Preto (Famerp) e chefe do servi�o de cirurgia bari�trica do Hospital de Base de S�o Jos� do Rio Preto. O gastroenterologista faz estudos de caso de complica��es da opera��o.
"A cirurgia bari�trica � fant�stica, soluciona in�meros problemas graves de sa�de do paciente. Fa�o h� 17 anos e sou f�. Mas as rea��es adversas t�m que ser abordadas com mais seriedade pelas equipes multidisciplinares e pelos pacientes. O paciente deve estar bem informado a respeito", afirma ele.
Brito afirma que resultados preliminares de um trabalho executado no ambulat�rio do Hospital de Base e da Famerp mostram que s� 16% dos pacientes tomavam diariamente um polivitam�nico com doses apropriadas das principais vitaminas e minerais.
PERIGOSA NORMALIDADE
A confian�a que vem com a aparente normalidade p�s-operat�ria � comum e perigosa, afirmam especialistas.
"Muitas vezes os pacientes acham que, com o tempo, n�o precisam mais de ajuda. � a� que v�m os problemas s�rios", afirma Caetano Marchesini, presidente da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bari�trica e Metab�lica).
� o caso de Marcos Vanzillotta, 25, editor de v�deos, que fez cirurgia bari�trica h� tr�s anos. "Estava tudo t�o normal ap�s a opera��o que eu comecei a me comportar como se n�o tivesse feito a cirurgia. Foi esse o erro", diz.
Vanzillotta passou o segundo ano depois da cirurgia sem acompanhamento m�dico e se alimentando mal. Come�ou, ent�o, a sentir cansa�o e falta de disposi��o. Ap�s exames, ele descobriu defici�ncias de vitaminas C e B12.
"Os pacientes ficam t�o satisfeitos que abandonam o tratamento. Nosso principal desafio � mant�-los com ades�o o suficiente para n�o ter os poss�veis preju�zos da cirurgia", diz Marcelo Pinheiro, m�dico reumatologista da Unifesp e membro da Associa��o Brasileira de Avalia��o �ssea e Osteometabolismo.
Pinheiro alerta que, nos dois anos seguintes � cirurgia, os pacientes podem chegar a perder entre 5% e 10% de densidade �ssea, por conta de defici�ncias associadas ao c�lcio e � vitamina D. Isso aumentaria o risco de fraturas, de osteoporose, dores pelo corpo e, em casos extremos, at� mesmo de convuls�es.
RESPONSABILIDADE
Especialistas falam em responsabilidade compartilhada entre m�dico e paciente e ressaltam a import�ncia de verificar os n�veis de nutrientes.
Quando constatadas defici�ncias, suplementa��es nutricionais espec�ficas para pessoas que fizeram cirurgia bari�trica costumam ser o suficiente para controlar os quadros. � assim que Patr�cia Furigo, Jos� e Marcos Vanzillotta buscam se manter saud�veis.
Para justamente evitar as complica��es, a SBCBM est� desenvolvendo um aplicativo que visa conscientizar pacientes e facilitar o acesso a m�dicos pr�ximos e a informa��es sobre nutrientes e alimentos.
Ricardo Cohen, coordenador do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alem�o Oswaldo Cruz, afirma que uma visita anual ao m�dico pode prevenir problemas e que � necess�rio que o paciente vigie o estilo de vida.
"Tem que ter consci�ncia que a cirurgia por si n�o faz milagre e n�o resolve todos os problemas da vida", diz Vanzillotta.
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