'P�lula do c�ncer' � reprovada mais uma vez em novos testes
A esperan�a no potencial terap�utico da fosfoetanolamina, a suposta "p�lula do c�ncer", sofreu um novo rev�s em testes patrocinados pelo governo federal. Camundongos e ratos com c�ncer que receberam doses da subst�ncia n�o tiveram nenhuma melhora –os tumores presentes no organismo dos animais continuaram a crescer.
Divulgados no site do MCTIC (Minist�rio da Ci�ncia, Tecnologia, Inova��es e Comunica��es), os resultados se somam a outros ind�cios de que a "fosfo", como � chamada, talvez n�o tenha bom desempenho contra o c�ncer.
Em avalia��es anteriores, conduzidas a pedido do minist�rio e divulgadas em mar�o deste ano, especialistas apontaram que a p�lula, desenvolvida e produzida na USP de S�o Carlos, teria baixo grau de pureza e n�o seria capaz de matar c�lulas tumorais em ensaios in vitro (ou seja, no tubo de ensaio).
O �nico resultado positivo das an�lises at� agora foi a indica��o de que a fosfoetanolamina n�o seria t�xica, mesmo quando ingerida em concentra��es relativamente altas.
Tais dados pouco animadores, no entanto, foram contestados com veem�ncia pelos pesquisadores que trabalham com a subst�ncia, liderados pelo qu�mico Gilberto Chierice, professor aposentado da USP. Chierice e colegas como Durvanei Augusto Maria, do Instituto Butantan, argumentaram que as concentra��es da "fosfo" utilizadas nos ensaios in vitro eram muito inferiores �s empregadas em seus pr�prios estudos, e que o metabolismo do indiv�duo como um todo (e n�o em simples c�lulas isoladas) seria necess�rio para que a p�lula atuasse com for�a total.
De fato, nos �ltimos anos, a equipe chegou a publicar alguns trabalhos mostrando efeitos antitumorais da fosfoetanolamina, tanto in vitro quanto in vivo (ou seja, em animais vivos), envolvendo diversos tipos diferentes de tumor.
Al�m disso, Chierice afirma que, nos anos 1990, uma parceria entre a USP e o Hospital Amaral Carvalho, de Ja� (SP), teria testado a subst�ncia num pequeno grupo de pacientes, com bons resultados –o hospital nega que tais testes tenham ocorrido.
O qu�mico diz que, com base nesse sucesso, m�dicos come�aram a receitar a "fosfo" para seus pacientes, e Chierice, a partir da�, teria come�ado a distribuir informalmente a p�lula, produzida em pequena escala na USP. Quando a universidade decidiu proibir a pr�tica, houve uma enxurrada de a��es judiciais, as quais acabaram popularizando ainda mais a subst�ncia.
NAS AXILAS
Nos testes que acabam de ser divulgados, a equipe liderada pelo m�dico Manoel Odorico de Moraes Filho, da Universidade Federal do Cear�, trabalhou com dois tipos de tumor estudados h� d�cadas em laborat�rio, o sarcoma 180 e o carcinossarcoma 256 de Walker. S�o duas formas de c�ncer de mama (o primeiro, da regi�o das axilas) descobertos originalmente em roedores, que costumam servir como uma primeira linha de teste para poss�veis subst�ncias antitumor.
O procedimento com ambos os tipos de tumor foi quase id�ntico: 45 roedores saud�veis (camundongos no caso do primeiro tumor, ratos no segundo) receberam uma inje��o dessas c�lulas em suas axilas. Depois, foram divididos em tr�s grupos de 15 bichos cada um. Os animais do primeiro grupo receberam a "fosfo" por via oral –a dose era de 1 grama da subst�ncia para cada quilo de peso da cobaia.
O segundo grupo recebeu apenas soro fisiol�gico (portanto, in�cuo) por via oral, enquanto os �ltimos 15 roedores receberam inje��es de ciclofosfamida, um quimioter�pico bem conhecido.
Ao longo de dez dias, os pesquisadores acompanharam o que acontecia com as c�lulas tumorais e continuaram a ministrar os diferentes tratamentos aos animais.
No s�timo dia, j� havia tumores que podiam ser medidos. Resultado: em ambos os casos, enquanto o quimioter�pico impediu que os tumores crescessem muito, tanto o soro fisiol�gico quanto a "fosfo" n�o conseguiram deter esse crescimento.
Um dos tipos de tumor inclusive chegou a provocar met�stases –ou seja, o espalhamento da doen�a para outros �rg�os (no caso, o pulm�o)– mesmo quando os animais receberam a fosfoetanolamina.
A Folha tentou falar por telefone com os pesquisadores que trabalham com a fosfo, mas eles n�o atenderam at� a conclus�o desta edi��o. Testes em pacientes humanos patrocinados pelo governo estadual de S�o Paulo devem come�ar a acontecer em breve.
Todos os dados sobre os testes conduzidos a pedido do MCTIC podem ser acessados pelo p�blico no endere�o eletr�nicowww.mcti.gov.br/fosfoetanolamina.
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