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Todo mundo quer envelhecer bem, mas será que não há uma necessidade exagerada de não ter rugas, marcas de expressão, de anular a ação do tempo?
Medo de envelhecer
Há algumas semanas, a internet descobriu que a Madonna tem rugas. Viralizaram inúmeras publicações em redes sociais com fotos da artista em que ela aparece com o rosto flácido. Em uma das postagens, um usuário questionou "o que está acontecendo com a Madonna". Outra sabiamente respondeu que ela estava envelhecendo, "como todos aqueles que têm sorte".
Sobre o mesmo tema, me chamou atenção um texto publicado no F5, aqui na Folha. A repórter Ana Cora Lima escreveu sobre como as musas com mais de 50 anos têm receio de falar a idade por medo de perder o posto. No Carnaval, a experiência é deixada de lado. Perde como quesito para a forma física, o colágeno. A reverência aos mais velhos pregada em tantos sambas é ignorada.
Vivemos em uma sociedade que não lida bem com os efeitos do tempo no corpo humano. Esquecemos que os que têm sorte envelhecem ao mesmo tempo em que vemos uma geração que tem cada vez mais medo de encarar um rosto com rugas no espelho.
Essa conversa me fez lembrar do dia que fui ao dermatologista para checar se valeria a pena investir na toxina botulínica (mais conhecida pelo nome comercial Botox) para disfarçar um pouco uma assimetria no sorriso que às vezes me incomoda.
O médico, um homem que aparentava ter algo entre 30 e 35 anos, disse que sim. O procedimento poderia ser uma saída para amenizar meu desconforto. Fez a afirmação depois de me pedir para fazer caras e bocas para checar se as rugas dinâmicas, estáticas ou gravitacionais estavam aparecendo no auge dos meus 27 anos. De acordo com ele, já estava na hora do "botox preventivo".
"Não recomendamos fazer num lugar só, melhor o rosto todo." Testa, pés de galinha e as famosas rugas de preocupação, no meio das sobrancelhas. Saí do consultório com um orçamento gordo, uma receita com uma série de produtos dermatológicos e sem expectativa de voltar.
A dermatologista Carla Albuquerque, membro titular da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), que atua há 25 anos na prática clínica, relata que diminuiu a idade média dos pacientes que procuram procedimentos anti-idade. "A gente vê uma fobia, como se o envelhecimento fosse doença", diz.
Ela vê como positiva a procura antecipada (de pessoas na casa dos 30 anos), o que permite intervenções mais econômicas e menos invasivas. Alerta, porém, para os casos de adolescentes que procuram procedimentos e produtos desnecessários. É aí que entra o papel do profissional, afirma, em saber orientar o paciente da forma correta.
"A coisa fica excessiva e desproporcional", diz ela, que aponta as redes sociais como catalizadoras de cobranças exageradas das pessoas pela aparência jovem.
Para ler na Folha
- Ainda sobre procedimentos estéticos, vale ler a reportagem da Sílvia Haidar, editora-adjunta de Todas, sobre o caso da Mariana Michelini, que perdeu o lábio superior após fazer um preenchimento com PMMA, contraindicado para essa finalidade.
Mudando de assunto… A repórter Aléxia Souza conta a história de uma escola de samba formada só por mulheres que estreia na avenida do subúrbio do Rio de Janeiro no próximo final de semana, dia 17 de fevereiro. Chamadas de Turma da Paz da Madureira, ou TPM, elas vão falar sobre o empoderamento e conquistas de mulheres que atravessam os tempos.
Na semana passada, escrevi sobre a série Eu desisto. Hoje, recomendo mais um capítulo desse especial. Leia a história da Franciele Silva, que desistiu do crack, mas encontrou autonomia com a maconha. A reportagem da Cláudia Collucci traz o debate sobre a redução de danos e mostra como não há fórmula certa quando o assunto é o uso de drogas.
Também quero recomendar
Em janeiro prometi fazer o famoso "Dry January"(ou janeiro sem álcool) e falhei miseravelmente. Então, me basta recomendar o episódio desta quarta-feira de cinzas do Café da Manhã, em que a jornalista, pesquisadora e mixologista Néli Pereira fala se parar de beber ou beber menos é uma tendência.
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