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Estudos apontam que exercícios físicos ajudam na prevenção da demência

Trabalhos acompanharam milhões de pessoas durante anos

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​Rachel Fairbank
The New York Times

Os especialistas acreditavam há muito tempo que o exercício físico poderia ajudar a proteger as pessoas de desenvolver demência. No entanto, embora tenham observado um padrão geral de redução de risco, os estudos sobre o assunto foram pequenos e muitas vezes conflitantes, com pouco consenso sobre qual tipo, frequência ou intensidade de exercício que seria melhor.

"Não existe uma receita clara de atividade física que possamos fornecer", disse Joel Salinas, professor assistente de neurologia na Escola Grossman de Medicina da Universidade de Nova York, especializado no tratamento de pessoas com demência.

Estudos apontam atividades físicas indicadas para prevenir demência - Rubens Cavallari/Folhapress

Mas três grandes estudos de longo prazo divulgados nos últimos meses tentaram caracterizar os tipos, as intensidades e as durações de atividade física que conferem maior proteção geral contra demência. Esses estudos, que acompanharam milhares e até centenas de milhares de pessoas durante anos, confirmam que a atividade física regular, de muitas formas, tem um papel substancial na diminuição do risco de desenvolver demência.

O exercício vigoroso parece ser o melhor, mas mesmo o exercício não tradicional, como as tarefas domésticas, pode oferecer um benefício significativo. E, surpreendentemente, é igualmente eficaz na redução do risco em pessoas com histórico familiar de demência.

Muitas formas de exercício podem prevenir demência

No primeiro estudo, publicado em 27 de julho na revista Neurology, os pesquisadores analisaram as informações de saúde de 501.376 participantes que não sofriam de demência, de um banco de dados britânico chamado UK Biobank, para estabelecer ligações entre atividade física e o risco de desenvolver a doença.

Uma das principais vantagens desse banco de dados era que ele tinha "dados muito elaborados sobre a genética" dos participantes, disse um dos autores do estudo, Huan Song, pesquisador do Hospital da China Ocidental, na Universidade de Sichuan.

Isso incluía um perfil de risco dos participantes com base em se eles tinham variantes genéticas geralmente associadas à demência ou se tinham parentes imediatos com a doença.

No início do estudo, os participantes preencheram questionários detalhados sobre suas atividades físicas, como praticar esportes, subir escadas ou caminhar, e se caminhavam ou pedalavam regularmente até o trabalho. Eles também foram questionados sobre vários fatores de estilo de vida, incluindo a frequência com que realizavam as tarefas domésticas.

Uma das principais limitações de estudos anteriores era que "a definição de atividade física é bastante fraca", disse Song. "Alguns usam o valor total e alguns apenas se concentram em um modo de atividade." Os questionários britânicos ofereciam especificidade sobre exatamente que atividades os participantes praticavam regularmente.

Os participantes foram acompanhados durante 11 anos, nos quais 5.185 deles desenvolveram demência. O estudo descobriu que em participantes que se dedicavam a atividades regulares e vigorosas, como esportes ou exercícios de força, o risco de desenvolver demência foi reduzido em 35%.

Surpreendentemente, as pessoas que relataram realizar regularmente as tarefas domésticas também experimentaram um benefício significativo: elas tinham um risco 21% menor.

"Algumas pessoas suam bastante quando fazem tarefas domésticas", disse Sandra Weintraub, neurologista da Faculdade de Medicina Feinberg da Universidade Northwestern, que não participou desse estudo. "Pode ser que, se você fizer três horas de tarefas domésticas, seja tão bom quanto se fizesse 30 minutos de exercícios aeróbicos."

Para Salinas, que recomenda que as pessoas façam 150 minutos de exercícios de intensidade moderada a alta por semana, os resultados reforçam a ideia de que exercícios regulares moderados a vigorosos podem promover a saúde do cérebro.

Cultivar esse hábito de exercício "provavelmente terá um efeito sinérgico muito profundo", disse ele. "Você ganha muito mais em termos de ajudar a promover sua própria saúde por meio da atividade física."

Talvez o mais encorajador seja que a associação entre atividade física e menor risco de demência incluía os participantes que tinham histórico familiar da doença.

"É muito importante saber que se você tiver um histórico familiar de demência pode usar a atividade física para reduzir o risco", disse Song.

Comece fazendo o que mais gosta

O segundo artigo, publicado no início de agosto na Neurology, compilou 38 estudos para ver quais atividades de lazer estavam associadas a um risco reduzido de demência. Ao todo, os estudos acompanharam mais de 2 milhões de participantes sem demência durante pelo menos três anos, período no qual 74.700 desenvolveram a condição.

Depois de controlar idade, educação e sexo, os pesquisadores descobriram que os participantes que se exercitavam regularmente –atividades como caminhar, correr, nadar, dançar, praticar esportes ou malhar na academia– tinham um risco 17% menor de desenvolver demência em comparação com os que não se exercitavam.

Essa meta-análise mostra que a prevenção da demência não se limita a uma atividade, ou mesmo a um tipo de atividade. Dada a diversidade de atividades físicas em que os participantes se envolveram, "recomendamos às pessoas fazer o exercício que elas gostam", disse Le Shi, pesquisador da Universidade de Pequim e um dos autores do estudo.

Quando se trata de colher os benefícios da atividade física, nunca é cedo demais para começar. Em um terceiro estudo publicado este mês, os pesquisadores acompanharam mais de 1.200 crianças entre 7 e 15 anos durante mais de 30 anos.

As que tinham níveis mais altos de condicionamento físico quando crianças apresentaram níveis mais altos de funcionamento cognitivo na meia-idade, sugerindo que estabelecer um hábito de atividade física ao longo da vida pode ser benéfico para a saúde do cérebro.

Juntos, esses estudos sugerem que as maneiras como movimentamos nossos corpos diariamente podem se somar ao longo do tempo. Eles também solidificam a noção de que a atividade física regular e ao longo da vida, em todas as suas formas, contribui muito para reduzir o risco de demência, mesmo para pessoas classificadas como de alto risco.

"Seu cérebro faz parte do corpo e se beneficiará de qualquer coisa que você faça que seja boa para sua saúde geral", disse Weintraub.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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