Tecel� da educa��o
Repetir de ano foi a primeira pequena trag�dia na vida de Cybele Amado. Aos sete anos, a sobrinha-neta de Jorge Amado n�o conseguiu acompanhar o desenvolvimento de sua turma.
Para descobrir o que havia acontecido, a menina contou com uma rede, formada pelos pais, uma contadora de hist�rias e um piloto da Aeron�utica, e uma terapeuta.
"'Queremos uma mudan�a social', diz vencedor do Empreendedor do Futuro"
"Sergio Petrilli ganha Escolha do Leitor com 42% dos votos"
Foi dessa forma que descobriu que o m�todo de alfabetiza��o usado em sua escola, o Casinha Feliz, baseado em figuras e fonemas, havia se tornado, para ela, uma "casinha infeliz". Cybele, hoje com 45 anos, entendeu naquela �poca que trocava letras.
Conseguiu reverter o problema. Mais do que isso, revolucionou seu breve hist�rico escolar -de aluna repetente no come�o do ensino fundamental, passou a l�der de classe ainda antes do in�cio do ensino m�dio.
Decidiu fazer o papel que outras pessoas haviam protagonizado em sua vida anos antes: aos 13 anos de idade, come�ou a auxiliar colegas de escola que tinham dificuldade em matem�tica.
Na adolesc�ncia, distribu�a mingau nas ruas e visitava orfanatos e asilos para levar carinho a crian�as e idosos.
"Eu tinha um amor gigantesco dentro de mim e uma vontade imensa de mudar tudo o que estava a minha volta, mas n�o sabia o que fazer com isso", lembra Cybele.
Combinava essas atividades com outras de suas paix�es -do grupo de teatro da juventude esp�rita, as aulas de bal� cl�ssico e dan�a contempor�nea e a leitura.
Aos 17 anos, mais uma atividade entrou para sua agenda. A jovem havia sido aprovada no vestibular para a faculdade de pedagogia.
Foi logo no fim do curso que vivenciou sua segunda pequena trag�dia -e justamente em um momento de suposta alegria, o Carnaval.
Decidida a fugir da folia da capital baiana, foi para a Chapada Diamantina, no interior do Estado. Mas l�, na vila de Caet�-A�u, no Vale do Cap�o, distrito de Palmeiras, n�o encontrou a paz que desejava.
"Na hora em que entrei em uma escola p�blica, fiquei em choque", diz ela, sobre a precariedade das condi��es do local. Na volta a Salvador, chorou o caminho inteiro.
FORA DA CAIXA
A experi�ncia foi t�o marcante que, uma semana depois, quando o governo do Estado abriu concurso p�blico para a contrata��o de professores na Chapada Diamantina, ela se inscreveu.
Quando foi aprovada, aos 21 anos, mudou-se para Caet�-A�u levando consigo apenas uma mala de roupas e tr�s caixas de livros, arrecadados em uma campanha que mobilizou em Salvador.
Determinada a que os alunos aprendessem a ler e a escrever, come�ou como professora de l�ngua portuguesa, mesmo se sentindo ainda despreparada.
Com a escassez de recursos -a escola n�o tinha nem papel sulfite-, transgrediu o curr�culo e levou as crian�as para aprender fora da sala de aula. "Elas t�m que ser menos passivas e mais ativas na aprendizagem", diz Cybele.
A mudan�a para a Chapada Diamantina tamb�m alterou sua vida pessoal.
Ao chegar, ficou doente e foi consultar-se com o �nico m�dico da vila do Cap�o, o naturologista Aureo Augusto Carib� de Azevedo, 59. Casaram-se e ela assumiu como seus os dois filhos dele.
"N�o � que eu n�o queria ter filhos, eu n�o pensava nisso. Quero cuidar de quem j� est� no mundo."
Para isso, foi aprimorar-se. Fez p�s-gradua��o em psicopedagogia e, em paralelo ao trabalho na escola, atendia voluntariamente crian�as com dificuldade de aprender.
O fim dos anos 1990 foi intenso. Nesse per�odo, com a Associa��o de Pais, Educadores e Agricultores de Caet�-A�u, iniciou um programa de aux�lio a professores
Tamb�m criou, com 12 secret�rios municipais de educa��o e associa��es de moradores locais, o Projeto Chapada.
Em 2005, fundou o Icep (Instituto Chapada de Educa��o e Pesquisa), que contribui para a melhoria da qualidade da educa��o por meio do apoio � forma��o continuada de educadores e gestores educacionais, bem como da cria��o e da mobiliza��o de redes colaborativas.
Pediu exonera��o do funcionalismo p�blico, assumiu a diretoria do instituto e ingressou no mestrado em desenvolvimento e gest�o social na UFBA (Universidade Federal da Bahia).
DOCE GENERAL
Nesse tempo, perdeu 12 quilos por causa das madrugadas dedicadas ao estudo e �s viagens nos fins de semana para o curso em Salvador.
Hoje, s�o 20 os munic�pios da regi�o integrados ao Icep. "Precisamos acreditar que as pessoas s�o capazes de transformar sua realidade e de conquistar autonomia."
Nos raros momentos em que n�o est� trabalhando, Cybele ouve m�sica cl�ssica e dan�a sozinha em casa.
"Fico doente quando tem algum feriado prolongado. Trabalho de domingo a domingo." N�o � � toa que ganhou na Chapada o apelido de "doce general".
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Dados rec�m-divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica) da Pnad 2011 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios) apontam que existiam no ano passado no Brasil 53,8 milh�es de estudantes de 4 anos ou mais de idade, dos quais 61% est�o no n�vel fundamental de ensino.
Desses 32 milh�es de alunos cursando da primeira � nona s�ries, a maioria absoluta -27,9 milh�es- frequenta escolas p�blicas.
O IBGE destaca ainda que 17,9 milh�es de brasileiros de 5 anos ou mais de idade n�o s�o alfabetizados -sendo 5,8 milh�es na �rea rural. A taxa de analfabetismo, considerando as pessoas de 15 anos ou mais de idade, � de 8,6% no Brasil. O cen�rio mais grave � o do Nordeste, campe�o disparado nesse quesito, com uma taxa de 16,9%. Em todas as faixas et�rias pesquisadas nessa regi�o, a taxa m�dia de analfabetos � bem superior � equivalente nacional.
A situa��o piora em regi�es n�o urbanas. Segundo o Inaf 2011 (Indicador de Analfabetismo Funcional), h� uma presen�a significativamente maior de analfabetos funcionais na �rea rural (44%) do que na �rea urbana (24%), ainda que os avan�os da �rea rural tenham sido significativamente maiores na d�cada.
A infraestrutura dos estabelecimentos educacionais rurais tamb�m � afetada. Pesquisa do Ibope de 2010 revela que, das 50 escolas rurais de dez Estados analisadas, 70% n�o tinham biblioteca, 66% n�o contavam com computador, e 92% n�o tinham acesso � internet. A �nica ferramenta pedag�gica encontrada em todas as unidades e em boas condi��es de uso foi o quadro negro. Mais de 70% ainda utilizam o mime�grafo para reproduzir materiais como provas e exerc�cios.
Levantamento feito pelo Todos pela Educa��o aponta que 49,9% do total de educadores que lecionam nas turmas finais dos ensinos fundamental e m�dio da zona rural n�o possuem licenciatura, conforme recomendado pela lei.
Uma busca comparativa em seu site, com dados do IBGE e do MEC de 2009 e 2010, apresenta o seguinte contexto relativo � educa��o baiana:
- Existiam em 2010 3,6 milh�es de pessoas em idade escolar na Bahia;
- 43,6% dos jovens de 16 anos conclu�ram o ensino fundamental nesse Estado, contra 49,1% dos nordestinos e 63,4% dos brasileiros em geral;
- 19,2% das crian�as (de 10 a 14 anos) apresentavam mais de dois anos de atraso escolar (a m�dia brasileira � de 13%) e defasagem escolar m�dia em anos de estudo de 1,4 (no Brasil � 1,1);
- A escolaridade m�dia para pessoas com 25 anos ou mais � de 5,9 anos de estudo na Bahia, ante 7,2 no Brasil;
- A taxa de abandono nos anos iniciais do ensino fundamental (2010) atinge 4,2% na Bahia (no Brasil � 1,8%) e, nos anos finais, 9,6% (mais que o dobro da taxa nacional, de 4,7%);
- Para as taxas de aprova��o, esses percentuais s�o, respectivamente, de 84,8% na Bahia (91,2% no pa�s) e 73,2% (83,4%).
Em rela��o ao desempenho nas principais avalia��es nacionais, tem-se que, em praticamente todas as s�ries avaliadas, o resultado baiano est� abaixo da m�dia brasileira, conforme verificado nas tabelas abaixo:
Em termos qualitativos, o percentual de alunos baianos que atingiram a pontua��o m�nima adequada na escala do Saeb/Prova Brasil foi inferior � m�dia nacional em todas as s�ries, segundo indicadores do Todos pela Educa��o:
No caso espec�fico do Ideb (�ndice de Desenvolvimento da Educa��o B�sica), mat�ria publicada na Folha no �ltimo 3 de outubro destaca que quase 400 das piores escolas p�blicas do pa�s em 2007 n�o conseguiram melhorar quatro anos depois. A maioria delas (283) at� piorou no per�odo -das quais 34% est�o na Bahia.
Chapada Diamantina
O contexto da hist�ria recente da Chapada Diamantina � marcado pelo coronelismo autorit�rio e escravagista, em que, at� pouco tempo atr�s, as �nicas crian�as alfabetizadas eram os filhos dos coron�is, enviados para estudar nas grandes cidades. Essa l�gica da perpetua��o da ignor�ncia entre os pobres -aliada a um cen�rio econ�mico fundamentado sobre a agricultura de subsist�ncia e a explora��o pontual de min�rios- repercute ainda hoje no alto �ndice de analfabetismo funcional da popula��o local e na cultura da desigualdade.
Como consequ�ncia, das 15 regi�es econ�micas em que � dividido o Estado da Bahia, a Chapada Diamantina, que compreende 33 munic�pios, dentre eles 10 dos 12 que est�o no Instituto Chapada, � 13a no �ndice de Desenvolvimento Econ�mico e �ltima colocada no �ndice de Desenvolvimento Social, conforme dados da Superintend�ncia de Estudos Econ�micos e Sociais da Bahia.
Ainda que haja muito a desenvolver, a regi�o -mais especificamente os munic�pios de atua��o do Instituto Chapada- pode ser considerada em fase de transi��o para se tornar um contraponto no Estado.
A t�tulo de compara��o, a nota m�dia na 4a s�rie/5o ano das escolas p�blicas no Ideb 2011 dos 19 munic�pios em que a organiza��o atua em duas frentes (forma��o continuada de professores e mobiliza��o social e pol�tica) � de 4,3 (ultrapassando em 19% sua meta m�dia para 2011, de 3,63), sendo que a m�dia baiana para o mesmo grupo foi de 3,9 (11% menor) para uma meta de 3,3.
Como refer�ncia, a m�dia e a meta de 2011 para o Brasil nesse extrato foram de 4,7 e 4,4, respectivamente. Se o resultado m�dio brasileiro de 2011 passou a meta em 7%, o da Chapada superou em 19%, e o da Bahia, em 18%.
A empreendedora social desenvolveu uma metodologia consistente de aprimoramento coletivo da educa��o na zona rural que hoje � considerada pioneira. O Projeto Chapada foi a g�nese do que atualmente vem sendo chamado pelo MEC (Minist�rio da Educa��o) de ADEs (Arranjos de Desenvolvimento da Educa��o) -ferramentas de gest�o p�blica e forma de trabalhar em rede para estimular a colabora��o entre prefeituras na oferta de educa��o de qualidade. A cria��o de ADEs foi homologada pelo minist�rio em novembro do ano passado -a candidata desenhou o m�todo de forma pioneira h� 16 anos, quando ainda n�o havia express�o que o alcunhasse.
A Chapada Diamantina, por meio da empreendedora social, tamb�m se consolida como o primeiro e �nico lugar do Brasil com uma iniciativa concreta de car�ter apartid�rio que re�ne popula��o e candidatos pol�ticos para pensar propostas para a educa��o municipal e mant�m inst�ncias de monitoramento e avalia��o sistematizada da efetiva��o dessas propostas.
- A principal inova��o do Instituto Chapada � sua tecnologia social de forma��o continuada para toda a cadeia de profissionais da educa��o p�blica -do secret�rio de educa��o ao professor- e de forma integrada. Nos munic�pios em que atua, a rede colaborativa � uma realidade -e n�o um ideal. Gestores municipais, secret�rios de educa��o e suas equipes, diretores escolares, coordenadores pedag�gicos e membros da comunidade se re�nem em processos de forma��o e/ou mobiliza��o social e pol�tica, valorizando-os como aliados da transforma��o desejada;
- Em termos t�cnicos, o projeto tamb�m inova ao situar a forma��o continuada em pr�ticas de leitura e produ��o de textos como meio de acesso a outros conhecimentos e n�o como finalidade estanque, com a aplica��o de um m�todo criado, aprimorado e revisado continuamente;
- Esse trabalho se consolidou no ensino fundamental 1 (at� a quarta s�rie/quinto ano) e agora abre uma frente in�dita no ensino infantil da regi�o, nas classes de alunos com quatro e cinco anos de idade;
- A empreendedora social tamb�m inova ao ter estruturado um m�todo �nico e altamente eficiente de gest�o participativa da pol�tica de educa��o, a partir da elabora��o coletiva de um documento com propostas de professores, coordenadores, diretores, pais, alunos e representantes da comunidade para a melhoria da qualidade da educa��o municipal. A campanha, que acontece em ano eleitoral, tem seu auge no Dia E, em que os pol�ticos candidatos dos munic�pios participantes assistem � apresenta��o do plano formulado pelos pr�prios cidad�os e assinam um termo em que se comprometem a priorizar tais propostas. No encontro, uma comiss�o de acompanhamento � formada a fim de assegurar a efetiva��o das propostas pelos futuros gestores.
A organiza��o n�o apresenta inova��o expl�cita em gest�o. Contudo, situada em uma regi�o de dif�cil acesso e marcada pelo coronelismo -ainda n�o completamente superado- em sua hist�ria recente, a candidata rompe paradigmas ao gerir uma ONG com alta efici�ncia operacional e influenciadora de pol�ticas p�blicas, embora apartid�ria e independente.
Externamente, desenvolveu um m�todo pr�prio de gest�o, registro e articula��o de uma rede colaborativa intermunicipal.
- Perfil de lideran�a mediadora e perseverante da empreendedora social;
- Equipe enxuta e com alto engajamento;
- Protagonismo em redes colaborativas na educa��o, com resultados comprovados;
- Gest�o de parcerias com o poder p�blico -meticulosa e transparente;
- Mescla equilibrada do aprofundamento t�cnico e acad�mico com o pragmatismo empreendedor.
Tem origem no estilo inconformista de lideran�a da empreendedora social e na cultura organizacional de melhoria cont�nua das ferramentas pedag�gicas por meio da constru��o coletiva e participativa.
A empreendedora social lidera a �nica organiza��o n�o governamental sediada na Chapada Diamantina que trabalha diretamente com a problem�tica da qualidade da educa��o na regi�o. Existem, entretanto, iniciativas voltadas para a forma��o de educadores gestadas em outro Estado e que atuam no mesmo territ�rio, afirma a candidata.
� o caso do Projeto Trilhas (do Instituto Natura) e do Programa Al�m das Letras, do Instituto Avisa L�. O primeiro, explica, come�ou a ser implementado neste ano, e o segundo j� finalizou seu ciclo. Em ambos os casos, no entanto, a a��o se resume ao trabalho com o professor.
N�o h� ind�cios de pontos fracos ou amea�as que coloquem em risco a continuidade do trabalho do Instituto Chapada na �rea de educa��o.
A organiza��o apresenta um hist�rico de crescimento horizontal, nos munic�pios da Chapada, ao longo de seus 16 anos de exist�ncia, tendo come�ado em um projeto coletivo informal. Entra agora em uma nova fase de replica��o e conta com um audacioso projeto de expans�o vertical, para se tornar institui��o de ensino superior formadora de profissionais da educa��o.
O relacionamento com colaboradores, parceiros, patrocinadores, benefici�rios e comunidade � aberto e transparente, sendo o principal canal de contato as forma��es regulares e os f�runs e eventos de educa��o articulados pelo instituto. Disponibiliza atendimentos e/ou presta��o de contas por meio de canais como site, e-mail, telefone, newsletters, blog, imprensa e documentos institucionais, como relat�rio de execu��o financeira on-line (atualmente, apenas a vers�o 2010) e biblioteca on-line (incipiente).
A participa��o e a articula��o ativas em redes intermunicipais � um dos principais vetores de atua��o da empreendedora social em prol da melhoria da qualidade da educa��o. Mobiliza e integra prefeituras, secretarias de educa��o, escolas e comunidade nesse sentido.
Tamb�m � fellow da rede de empreendedores sociais da Ashoka Brasil.
Por um direcionamento estrat�gico da candidata, o Instituto Chapada mant�m parcerias priorit�rias com �rg�os do poder p�blico, sobretudo na esfera municipal de educa��o. Assim, apresenta relativamente poucos parceiros privados e do Terceiro Setor, com alto potencial de amplia��o.
Em termos qualitativos, tem alian�as s�lidas com os apoiadores da iniciativa privada. Um exemplo � a Natura, patrocinadora da iniciativa desde o come�o de sua atua��o e que destina recursos financeiros inclusive para a atividade-meio, situa��o incomum em parcerias entre ONGs e empresas.
Or�amento anual (2012): R$ 2.664.408.
Patrocinadores (por ordem de investimento): munic�pios parceiros da Chapada Diamantina e do semi�rido baiano; Instituto Natura; Odebrecht Transport; Instituto Pen�nsula; Ita� BBA; Instituto Arapya�.
A empreendedora social desenvolveu um mecanismo altamente eficiente de qualifica��o da educa��o p�blica em rede para munic�pios de pequeno porte. Com a experi�ncia de 16 anos na Chapada Diamantina, que serviu como laborat�rio de suas a��es, come�a agora a replicar o m�todo para outros territ�rios al�m do de origem. Vale ressaltar que, dos 5.565 munic�pios brasileiros, a maioria apresenta menos 50 mil habitantes.
Em termos gerais, o p�blico-alvo � composto por todas as crian�as que ainda n�o est�o plenamente alfabetizadas, bem como todos os profissionais que est�o envolvidos na forma��o de leitores e produtores de texto aut�nomos. O �ltimo relat�rio independente de avalia��o, realizado em 2010, aponta para o seguinte perfil de alunos beneficiados:
- 51,8% s�o meninas e 48,2% meninos;60% dos pacientes s�o do sexo masculino;
- No terceiro ano, 84% t�m at� 9 anos de idade; no quinto ano, 70% t�m entre 10 e 11 anos;
- A maioria (mais de 70%) pertence �s classes C, D e E;
- O documento ainda apresenta os h�bitos de leitura dos estudantes e o engajamento dos pais na vida escolar dos filhos.
Sobre os profissionais da educa��o (professores, coordenadores e diretores), p�blico-alvo prim�rio da candidata, sabe-se pelo estudo que:
- Mais de 80% s�o mulheres nos tr�s cargos;
- A principal faixa et�ria � de 30 a 39 anos;
- Grande parte dos profissionais de todos os munic�pios possui ensino superior completo ou ainda est� cursando a faculdade.
O escopo geogr�fico tem foco no Estado da Bahia, mais precisamente na regi�o da Chapada Diamantina e do semi�rido baiano, com replica��o do trabalho para Pernambuco.
Indiretamente, com a sistematiza��o das experi�ncias, em plena fase de realiza��o atualmente, o m�todo alcan�ar� escolas de todo o pa�s via Minist�rio da Educa��o.
A organiza��o cresceu organicamente por meio de parcerias com novos munic�pios (na Bahia) e tamb�m por meio de parceria institucional com um investidor social privado (em Pernambuco). Come�ou atuando apenas no munic�pio de Palmeiras (BA), em 2000 atingiu 12 munic�pios e hoje atua em 22 munic�pios.
Dados enviados pela candidata apontam que atualmente os projetos Chapada, Educa��o Infantil e Via Escola beneficiam 76 mil pessoas.
Em dados n�o consolidados, ao longo de 2012, est�o previstos os seguintes n�meros de benefici�rios diretos:
Tecnicamente, os benefici�rios prim�rios do instituto s�o os profissionais que atuam em toda a cadeia da educa��o p�blica. Contudo, consideram-se as crian�as estudantes como benefici�rias diretas tamb�m, uma vez que os indicadores de resultados s�o medidos diretamente nesse p�blico final.
Indiretamente, contam-se os pais de alunos e, em uma escala mais ampla, toda a popula��o de cada munic�pio parceiro, a fim de que cada cidad�o assuma como sua a causa da educa��o p�blica de qualidade.
Segundo a candidata, 157.130 pessoas entre crian�as e profissionais da educa��o p�blica s�o benefici�rios indiretos.
� invi�vel replicar integralmente o trabalho que o Instituto Chapada desenvolveu ao longo de sua hist�ria, combinando forma��o e mobiliza��o. Contudo, grande parte de seus conhecimentos e aprendizados adquiridos pode ser apreendido por outras organiza��es e em outros contextos.
Neste momento, est� em discuss�o uma poss�vel parceria para a dissemina��o da metodologia em um pa�s africano.
A organiza��o prima pelo trabalho em redes e com outras institui��es educacionais e disponibilizar� gratuitamente publica��es (incluindo sistematiza��es de processo) em 2013. J� realizou um semin�rio internacional de educa��o rural, com a participa��o da Universidade de Lisboa, da Universidade de La Plata e do Instituto de Psicologia de Lisboa.
A organiza��o acaba de estruturar a sistematiza��o de sua metodologia de forma��o por meio da publica��o "Coordenador Pedag�gico: Fun��o, Rotina e Pr�tica", com apoio do MEC. A impress�o da obra ficou pronta durante a visita da organiza��o do pr�mio. A hist�ria de constru��o do instituto tamb�m foi sistematizada, por�m sem publica��o ainda.
Est�o atualmente em fase de elabora��o o documento que sistematiza a metodologia de mobiliza��o social e o de forma��o de equipes t�cnicas das secretarias de educa��o, ambos com publica��o em 2013.
O cerne do trabalho da candidata � influenciar pol�ticas p�blicas de educa��o -o que � feito de forma exemplar, a partir de um sedimentado m�todo de relacionamento e constru��o participativa desenvolvido ao longo de 16 anos, desde o in�cio da atua��o. O trabalho mais inovador e emblem�tico em pol�ticas p�blicas � a campanha Chapada e Semi�rido pela Educa��o.
Em anos eleitorais, o instituto promove a campanha no intuito de assegurar a continuidade da pol�tica educacional local ap�s o resultado das elei��es municipais e a chegada dos novos gestores (prefeitos e vereadores).
O objetivo priorit�rio � a elabora��o coletiva de um documento p�blico, que deve conter propostas de professores, coordenadores, diretores, pais e representantes da comunidade para a melhoria da qualidade da educa��o municipal, de modo a inspirar a implementa��o de planos de a��o capazes de assegurar a efetiva��o dessas propostas pelos futuros gestores.
Durante o processo, � formada uma comiss�o para o acompanhamento das propostas nos quatro anos subsequentes, a Caafe (Comiss�o de Avalia��o das A��es dos F�runs de Educa��o). Ap�s a defini��o das propostas da popula��o, o documento final � diagramado e impresso em formato adequado para, em seguida, ser submetido � an�lise dos candidatos.
A assinatura do documento pelos candidatos acontece em sess�o solene promovida pelo munic�pio e � amplamente divulgada pelo instituto, que imprime a lista de propostas em um banner a ser afixado nas secretarias municipais de educa��o, em local vis�vel, durante toda a gest�o.
Logo ap�s o resultado das elei��es, os gestores eleitos participam de um semin�rio promovido pelo instituto, cujo objetivo � colaborar para a promo��o de estrat�gias capazes de assegurar a continuidade da pol�tica educacional do munic�pio apesar da mudan�a no quadro de gestores.
O semin�rio ocorre mesmo em caso de reelei��o do prefeito.
Com essa iniciativa, o Icep tem garantido a continuidade das pol�ticas educacionais nos munic�pios parceiros, assim como a continuidade das equipes t�cnicas (cargos de confian�a) das secretarias municipais de educa��o, mesmo em caso de mudan�a de partido.
Na esfera federal, a candidata vem influenciando o Minist�rio da Educa��o no fortalecimento do papel do coordenador pedag�gico dentro das escolas por meio da parceria institucional para a dissemina��o do livro "Coordenador Pedag�gico: Fun��o, Rotina e Pr�tica". Al�m disso, uma representante da Secretaria de Educa��o B�sica do MEC est� acompanhando a implementa��o do Programa Via Escola, no Estado de Pernambuco.
O trabalho do instituto motivou a aprova��o das seguintes leis, de acordo com a candidata:
Sobre os profissionais da educa��o (professores, coordenadores e diretores), p�blico-alvo prim�rio da candidata, sabe-se pelo estudo que:
- Lei n� 096/2010 -institui e regula o plano de carreira e a remunera��o dos profissionais de educa��o do munic�pio de Novo Horizonte, assegurando o tempo remunerado de trabalho e forma��o para os educadores, entre outros direitos;
- Lei N� 153/2010 -institui o Dia Municipal de Leitura de Iraquara;
- Lei N� 112/2009 -institui o cargo de coordenador pedag�gico em Iraquara;
- Lei n� 230/2009 -institui o Dia Municipal da Leitura no munic�pio de Utinga.
Mais do que uma data comemorativa, o Dia da Leitura nos munic�pios parceiros � um momento de incentivo ao contato com os livros, com a realiza��o de eventos relacionados ao tema nas escolas e em espa�os p�blicos, reitera a empreendedora social.
Nos anos 1990, a empreendedora social identificou pontos-chave que, se resolvidos, poderiam alavancar a qualidade da educa��o p�blica. Um deles era a forma��o de crian�as leitoras e produtoras de texto aut�nomas por meio da capacita��o adequada dos educadores. A figura do coordenador pedag�gico emergiu, assim, como elemento fundamental. E foi na valoriza��o e forma��o desse profissional em que se investiram os primeiros esfor�os, relata a candidata.
Atualmente, o instituto trabalha pela erradica��o do analfabetismo tamb�m em outros territ�rios e entende que a solu��o desse problema passa pela forma��o continuada e qualificada dos educadores, pela continuidade das pol�ticas educacionais e pela implementa��o de redes colaborativas que assumem coletivamente a responsabilidade pelo aprendizado das crian�as.
Nesse contexto, a empreendedora social assume como metodologia de trabalho a articula��o e o entrela�amento de tr�s linhas de a��o:
Forma��o continuada
Centrada na reflex�o da pr�tica desenvolvida na sala de aula, envolve toda a cadeia de profissionais que atuam na educa��o p�blica, de ponta a ponta - do secret�rio de educa��o ao professor - de maneira integrada. A tematiza��o da pr�tica � a principal estrat�gia metodol�gica de forma��o e consiste na investiga��o sistem�tica da pr�tica profissional com o objetivo de analisar e refletir teoricamente a partir da a��o. Para a sua realiza��o, os formadores do instituto documentam o trabalho desenvolvido em sala de aula e garantem espa�os de discuss�o sobre a pr�tica documentada. S�o esses procedimentos que subsidiam o planejamento das a��es formativas e o acompanhamento do processo de aprendizagem dos alunos.
Mobiliza��o social e pol�tica
Frente que contempla a Campanha Chapada e Semi�rido pela Educa��o e as atividades que a integram, assim como outras a��es de articula��o junto aos gestores municipais, como reuni�es de trabalho, encontros de esclarecimento e defesa da agenda educacional e representa��o em espa�os e f�runs p�blicos de articula��o e mobiliza��o pela educa��o.
Produ��o de conhecimento
Sistematiza e alicer�a as pr�ticas pedag�gicas constru�das com os atores educacionais, permitindo a partilha dos saberes constru�dos.
O diferencial do Instituto Chapada em rela��o a outras organiza��es � o investimento cont�nuo e simult�neo nessas tr�s linhas para a obten��o do resultado desejado. Podem-se citar como fatores de sucesso:>O diferencial do Instituto Chapada em rela��o a outras organiza��es � o investimento cont�nuo e simult�neo nessas tr�s linhas para a obten��o do resultado desejado. Podem-se citar como fatores de sucesso:
- aprendizagem em espiral -compreende a aprendizagem como um processo cont�nuo, progressivo e participativo, gerando um movimento de retomada nos eixos e nas frentes de trabalho, que incluir�o sempre as novas aprendizagens e aquelas que j� foram consolidadas;
- atua��o por meio de redes colaborativas -espa�os democr�ticos de participa��o e parceria, que buscam fortalecer o coletivo, considerando a identidade e a autonomia dos componentes;
- cadeia de forma��o e responsabilidade -envolve e compromete toda a rede, do secret�rio municipal de educa��o ao professor;
- investimento na compet�ncia local -superando a ideia de que a compet�ncia est� sempre fora da regi�o;
- participa��o ativa dos munic�pios parceiros nas decis�es estrat�gicas do Instituto.
Destaca-se que a candidata busca um novo paradigma com a velha forma de fazer. Bastante cr�tica a recursos de programas privados para interven��o na educa��o p�blica e contra sua "privatiza��o", a educadora entende que os recursos para um ensino p�blico de qualidade s�o obriga��o do governo, j� existem e basta que sejam bem geridos para o alcance dos resultados.
Projeto Chapada
Configura-se como espa�o original de desenvolvimento e implementa��o da metodologia do instituto, combinando o programa de Forma��o Continuada e as a��es de Mobiliza��o Pol�tica para promover a forma��o de crian�as leitoras e produtoras de texto nas turmas do ensino fundamental 1 nos munic�pios parceiros.
Projeto de Educa��o Infantil (PEI)
Contribui para a qualifica��o das pr�ticas pedag�gicas das classes de 4 e 5 anos nas redes de ensino de 17 munic�pios vinculados ao Projeto Chapada.
Programa Via Escola
Primeira experi�ncia de dissemina��o da metodologia do instituto fora do territ�rio baiano. Em sua fase piloto (2012-2014), o Via Escola ser� implementado em um conjunto de escolas dos munic�pios de Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca e Jaboat�o dos Guararapes, no Estado de Pernambuco, com patroc�nio da Odebrecht Transport.
O Via Escola combina o programa de Forma��o Continuada e as a��es de Mobiliza��o Pol�tica para construir um pacto pela educa��o com os munic�pios parceiros e garantir a perman�ncia das crian�as na escola e o desenvolvimento de compet�ncias na �rea de leitura e escrita. Mostra-se uma alternativa de constru��o conjunta em uma regi�o que conta com dezenas de projetos privados n�o participativos e de resultados minorados.
Publica��o "Coordenador Pedag�gico: Fun��o, Rotina e Pr�tica"
Tratado como um projeto do instituto, dada a complexidade da sua elabora��o, o livro, uma vez finalizado, conta com apoio do Minist�rio da Educa��o para a distribui��o nacional.
DEPOIMENTOS
"O instituto traduz de forma exemplar que � poss�vel ter educa��o p�blica de qualidade. E de dentro pra fora, o que � inovador."ANA INOUE, conselheira do Instituto Chapada e consultora do Ita�-BBA para projetos de educa��o
"A crian�a tamb�m assume responsabilidade sobre o seu conhecimento e pode discutir isso em outras coisas. Como o prefeito de Tupi, que estava na casa dele tomando caf� da manh� quando chegou um grupo de crian�as - crian�as! - dizendo que queriam conversar com ele sobre a merenda escolar. A maneira como voc� alfabetiza desencadeia esse tipo de coisa."
AUREO CARIB�S DE AZEVEDO, 59, m�dico e marido de Cybele
"A Cybele � uma guerreira e o trabalho dela � brilhante. Tudo o que ela pega pra fazer ela leva adiante e sempre consegue que as coisas deem certo. Se a educa��o j� � t�o abandonada no nosso pa�s, no interior � mais ainda, e o projeto faz muito pela educa��o nos munic�pios. O nosso Ideb cresceu bastante, e a gente atribui isso ao Icep."
ALA�DE EM�LIA DOURADO OLIVEIRA, 33, diretora de escola rural em Iraquara
"Eu vejo a Cybele como uma pessoa muito inteligente, que se dedica mesmo, de corpo e alma. A gente percebe isso no resultado dos professores, no trabalho em sala de aula, no dia a dia. A educa��o � uma constru��o, ent�o, se a gente est� tendo esse bom resultado, eu creio que vem dela: do esfor�o dela, de estar sempre acompanhando os professores, os coordenadores. � uma pessoa que faz a diferen�a."
Cirl�ndia Reis Moreira, 35, professora do ensino fundamental 1 em Novo Horizonte
"Eu estou com Cybele desde o inicio. Ela � a grande disseminadora do projeto e tem contribu�do muito pra que a realidade desses munic�pios mude completamente no que diz respeito � educa��o."
Claudia Fernandes Rocha, 40, pedagoga, coordenadora pedag�gica e formadora do Instituto Chapada, � de Ipia�, mas vive em Iraquara h� 16 anos
Aprendi quase tudo o que eu sei com ela. Ela � bem detalhista e exigente, mas sempre mostra para os outros como as coisas devem ser feitas.
CLAUDIA VIEIRA DOS SANTOS, 29, vice-presidente do Icep, nasceu e vive no Vale do Cap�o. Foi aluna da primeira turma da qual Cybele foi professora na Chapada Diamantina. Fez pedagogia e administra��o de empresas
"O Instituto Chapada caminha para a morte. Ou seja, trabalhamos sempre a autonomia e a independ�ncia dos munic�pios em rela��o � continuidade do projeto. Em Pernambuco, diante de tantos programas educacionais de empresas sem constru��o participativa, uma educadora descreveu a sensa��o de estar passando fome diante de um banquete. Nosso m�todo se diferencia por isso."
GIOVANA ZEN, chefe de pediatria da Unifesp 35, coordenadora pedag�gica dos projetos Educa��o Infantil e Via Escola
"Minha liga��o com a Cybele teve in�cio nos anos 1990, quando ela foi selecionada pelo programa Crer pra Ver da Natura por sua compet�ncia t�cnica e lideran�a. Quando terminou o per�odo do projeto, achamos que o trabalho era muito relevante para se extinguir no tempo, por isso continuamos at� hoje a investir nele. � uma experi�ncia extremamente rica de articula��o social em prol da causa da educa��o. Ela se destaca pelo papel de lideran�a forte com embasamento t�cnico e capacidade de articula��o e mobiliza��o de lideran�as. Cybele � doce, feminina, baiana, suave, mas de muita for�a e obstinada na sua miss�o."
GUILHERME PEIR�O LEAL, 62, conselheiro do Instituto Chapada, empres�rio e pol�tico, � presidente do Conselho de Administra��o da Natura Cosm�ticos