Os cientistas Carlos Nobre e Tasso Azevedo passam a integrar a Ashoka, rede mundial de empreendedorismo social, por seu compromisso com a ciência a serviço da transformação social. O reconhecimento se dá pela atuação na promoção de novos paradigmas de convivência com a floresta, que conciliam prosperidade, valorização de conhecimentos tradicionais e conservação da biodiversidade.
Nomeados como "scipreneurs", Nobre e Azevedo desempenham uma função social pioneira. “É uma combinação de cientista e empreendedor social", explica Andrea Margit, líder de comunicação e novos paradigmas da Ashoka América Latina.
Carlos Nobre, 70, conduziu estudos pioneiros que elucidaram o papel da Floresta Amazônica nas condições atmosféricas da região e do mundo, ajudando a colocar as mudanças climáticas como prioridade política.
Com formação no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e doutorado em Meteorologia no Massachusetts Institute of Technology (MIT), o cientista recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em 2007, junto a autores do Quarto Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
Atuou, entre outros, no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) e no Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. Com habilidade para contar histórias, influenciar o debate público e mobilizar diferentes setores da sociedade, Nobre se tornou um dos maiores comunicadores das mudanças climáticas.
A partir de 2017, aposta no desafio de alavancar novo modelo produtivo para a Amazônia, baseado no conhecimento. “É uma nova abordagem para as florestas tropicais do mundo, que conjuga desmatamento zero, restauração florestal e uma nova bioeconomia de floresta em pé e rios fluindo”, diz Nobre.
“Isso para garantir que a região se projete como centro de inovação, que estimula a co-criação de uma diversidade de produtos e serviços com alto valor agregado, envolvendo comunidades locais, centros de pesquisa, universidades e empresas, comprometidos com a floresta em pé.”
O engenheiro florestal Tasso Azevedo, 49, ajudou a fundar o Imaflora - Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola, que dissemina sistemas de certificação de produtos florestais e agrícolas.
Compôs a equipe do Ministério do Meio Ambiente de Marina Silva, onde liderou o desenvolvimento do projeto de lei que regula a gestão de florestas públicas no Brasil.
Ajudou a coordenar o Plano Nacional de Combate ao Desmatamento na Amazônia, que resultou em 80% de redução do desmatamento, e foi o arquiteto do Fundo Amazônia, que se tornou o maior fundo de conservação florestal e o primeiro instrumento de pagamento por resultados em escala do mundo.
Azevedo dedicou-se à agenda do clima, assessorando o governo federal na definição de metas de redução das emissões de gases de efeito estufa em 2009, o que fez do Brasil o primeiro país em desenvolvimento a propor metas absolutas de redução.
O trabalho de Tasso ajudou a criar pontes e moldar instituições, políticas e sistemas que se reforçam mutuamente e que são concebidos para resistir ao tempo e às instabilidades.
Para a Ashoka, os cientistas desenvolveram habilidades típicas de empreendedores sociais, como empatia, trabalho em equipe e criatividade na solução de problemas —e experimentam o poder transformador da sociedade contemporânea.
“Ao longo de 40 anos formulando o campo de ação de empreendedores sociais, o que observamos é a presença cada vez mais significativa de cientistas que querem ir além dos alertas", diz Anamaria Schindler, presidente da Ashoka. "Eles estão catalisando soluções sociais inovadoras para problemas sistêmicos”, completa.
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