O fundo de investimentos Yunus Negócios Sociais encerrou neste mês a primeira rodada de captação de recursos no Brasil, com R$ 8 milhões disponíveis para aporte, e já se destaca por firmar nova relação entre investidores e empreendedores.
Isso porque, além de ser voltado a negócios sociais e realizar aportes com ciência de que o retorno se dará com taxas de juros sociais (com prazos mais longos e correção apenas pela inflação), ele propicia a “jornada do investidor”.
“Não é um fundo grande e não é como os outros, que buscam a rentabilidade ou põem o investidor como acionista do negócio. É uma ação superinovadora, quase filantrópica, que busca o impacto social”, diz Luciano Gurgel, gestor de investimentos da Yunus.
Com oito investidores, sendo dois deles institucionais, a Yunus Negócios Sociais chama a atenção pela proximidade e interação entre investidor e empreendedor social.
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Isso porque, para realizar o aporte de capital, a Yunus oferece aos negócios sociais mentorias, consultorias e modelagens do negócio, de modo a ajudar a garantir o impacto social e a sustentabilidade da ação. E aos investidores é oferecida uma imersão nos negócios ligados a Yunus, seja dentro ou fora do país.
“Aqui o investidor sente as dores de quem faz o trabalho na ponta. E quem está no comando do negócio social sabe que não está só”, diz Gurgel.
Até agora, após estudar e avaliar cem negócios sociais no Brasil, o fundo investiu em quatro:
- Assobio: trabalha na área socioambiental, com reflorestamento em regiões desmatadas e que em 2018 recuperou mais de 62 mil hectares —com replantio de 100 mil mudas de espécies nativas—, além de oferecer educação ambiental e treinamento para os moradores de baixa renda;
- Instituto Muda: trabalha com logística de resíduos sólidos, com coleta de material reciclável em condomínios e direcionamento a cooperativas de catadores. Em 2018, foram coletadas 1.500 toneladas, o que garantiu a geração de renda a 400 cooperados;
- 4You2: trabalha com educação, oferecendo cursos de inglês nas periferias, com professores de fora do país, a pessoas de baixa renda. Atualmente conta com mais de 2.300 alunos ativos, e os professores nativos ficam hospedados na região em que lecionam, gerando renda para a família que o hospeda e para a comunidade;
- Redação Online: plataforma de correção de redações de vestibulares, Enem e concursos públicos, que conecta professores e estudantes e que em 2018 foi utilizada por 24 mil alunos.
De acordo com Gurgel, todos os empreendedores passaram por uma sabatina extensa, que envolveu profissionais da Yunus no Brasil e na Alemanha —a organização também atua em Colômbia, Uganda, Haiti, Índia e Quênia.
“Você precisa ver o profissionalismo... Nunca tinha visto isso. Todos contribuem para melhorar o negócio, com diferentes visões e expertises”, afirma João Roberto Teixeira, presidente da Copersucar e um dos investidores do fundo.
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Ele revela que tomou conhecimento do fundo em 2018, durante uma aula da filha, Luiza Teixeira, na Fundação Dom Cabral, que é parceira estratégica do Prêmio Empreendedor Social. “Era um evento pais e filhos, e foi apresentado pela GPS, do Julius Baer. Quando vi, senti que era inovador e me interessei.”
Hoje ele faz parte do comitê do fundo e tem contato direto com empreendedores sociais.
“Esse fundo concretiza uma visão que tive quando estava no Banco Real, de que não podemos pensar o lado econômico sem olhar o social”, diz.
Assim, todos os negócios do fundo tiveram contato com expertises qualificadas. “Além do João, que se tornou um facilitador com bancos, tivemos aqui o economista Roberto Perosa, que trabalhou no governo e com mais de 50 anos de experiência, ajudando os empreendedores. Investimos não só recursos, mas capital humano também”, diz Gurgel.
“É inovador porque, no país como o nosso, com as altas taxas de juros que temos, alguém oferecer crédito com taxas menores ajuda muito. Mas o fundo Yunus permite também que a gente acesse uma rede de networking muito poderosa. Há uma proximidade muito grande. Sem contar que Muhammad Yunus é uma inspiração para mim”, afirma Gustavo Fuga, criador do 4You2, que foi finalista do Prêmio Empreendedor Social de Futuro, da Folha, em 2015.
Pelos contatos da Yunus, por exemplo, ele foi levado até a Alemanha para contar a história da criação da 4You2.
Gurgel entende que os R$ 8 milhões são suficientes para os investimentos do ciclo atual, iniciado em 2017. Mas a intenção da Yunus é realizar novos ciclos.
Quanto indagado por que não apostar também em negócios de microcrédito, Gurgel explicou que Yunus acredita que esse campo de atuação, que o tornou famoso em Bangladesh —onde emprestou mais de US$ 15 bilhões a 8,3 milhões de pessoas—, o fez ganhar o Prêmio Nobel da Paz e o motivou a criar mais de 50 negócios sociais no mundo, envolve particulares regionais e locais e, por isso, deve ser preferencialmente trabalhado por atores locais.
Uma das métricas do fundo, que conta com a parceria da Finaxis e da Oliveira Trust para a administração, custódia e gestão dos recursos, é colocada pelo próprio Yunus, que define como gamechanger os negócios que, em cinco anos, impactam a vida de 1 milhão de pessoas e/ou geram 50 mil empregos.
E aí se encontra outro desafio que a Yunus se propõe a solucionar e que diferencia o fundo dos demais: implantar e definir métricas para medir o impacto dos negócios sociais. Para isso, por meio da gestão de portfólios, além dos contatos diários e/ou semanais, são realizadas até duas reuniões mensais de avaliação dos resultados.
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“Não só os balanços que definem o sucesso do negócio, e sim a sustentabilidade das ações, o impacto. Por exemplo, no Redação Online, além de saber se a nota do aluno subiu ou desceu, queremos saber se ele passou na universidade, que curso escolheu, quantas pessoas estão sendo impactadas pela sua atuação”, afirma Gurgel.
Além das inovações, a escritora Beatriz Bracher, outra investidora do fundo, destaca que a Yunus trabalha o protagonismo do empreendedor.
“Eu conheci o fundo por indicação de uma amiga. E sei que ele não vale como aplicação financeira, mas ele tem uma inteligência e criatividade na atuação que contribuem para melhorar a vida das pessoas. E permite isso com algo que eu acredito muito no meu trabalho como escritora, que é potencializar o protagonismo, em especial o de quem ousa resolver um problema social”, afirmou.
A Yunus avaliar ainda ampliar o número de negócios sociais apoiados e ampliar esse mercado no Brasil.
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