Universit�rio cria ONG para levar �culos e diagn�stico a regi�es carentes
No ano passado, Ralf Toenjes, fundador da Renovatio, ONG que leva �culos de baixo custo e diagn�stico oftalmol�gico para o interior do Brasil, foi diagnosticado, por acaso, com 2,5 graus de miopia em um olho e 0,5 no outro.
"S� descobri porque fui cobaia para regular o autorrefrator", diz ele, referindo-se ao aparelho oftalmol�gico de alta precis�o, parte do kit que Ralf e sua equipe de m�dicos e volunt�rios transportam pa�s afora em barcos e �nibus que j� percorreram 17 Estados.
Como em casa de ferreiro o espeto � sempre de pau, a descoberta de que era m�ope aconteceu na comunidade Nossa Senhora, a uma hora de barco de Manaus (AM), durante a montagem de um consult�rio itinerante que permite ao empreendedor social olhar para um problema que afeta 42 milh�es de brasileiros, a maioria sem acesso ao diagn�stico.
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"S� quem precisa de um par de �culos sabe o qu�o dif�cil � viver sem um", diz. Ele, no entanto, n�o necessitou de lentes para seguir uma trajet�ria brilhante. Quando crian�a, pensava em ser advogado. Em Petr�polis (RJ), cidade onde nasceu e viveu at� a adolesc�ncia, sua inspira��o era o pai de um amigo da sua rua, um juiz.
Toenjes nunca teve problemas na escola. Sempre tirou boas notas e seguidas vezes foi o primeiro da classe. Chegou a vencer olimp�adas de f�sica e de matem�tica no seu col�gio.
Ele sabe que diversos estudos mostram que alunos com problemas de vis�o podem ter dificuldade de aprendizado e, assim, acabam abandonando a escola.
OPORTUNIDADES
Quando chegou a hora da faculdade, inscreveu-se em v�rios vestibulares no Rio de Janeiro, PUC, FGV, Ibmec, Uerj. Foi aprovado em todos. E concorreu tamb�m a uma vaga na USP. "Todos diziam que eu tinha de estudar no Largo S�o Francisco, que essa � a melhor faculdade etc. etc. etc.". Foi tamb�m aprovado.
Em S�o Paulo, por�m, come�ou a ter outras ideias. "No segundo semestre da faculdade, comecei a estagiar num escrit�rio de direito concorrencial e vi que advogado n�o sabe fazer conta. Pensei: 'Vou fazer faculdade de economia e vou ganhar os contratos com um p� nas costas'."
Fez vestibular no Insper e come�ou ent�o a cursar administra��o e economia. Tr�s faculdades ao mesmo tempo. Mas a� faltou dinheiro para pagar o Insper. "Calhou ent�o de eu fazer uma palestra no col�gio Ipiranga, onde estudei em Petr�polis, porque eu tinha sido o primeiro aluno da escola a entrar no direito da USP. Durante a palestra, comecei a chorar quando disse que n�o tinha dinheiro para pagar o Insper", relembra.
A diretora da escola decidiu ent�o ajud�-lo. Foi a� que a vida de Ralf Toenjes tomou outro rumo. Ou melhor, foi a� que ele decidiu dar outro rumo a sua vida. "Muita gente me ajudou na hora de fazer faculdade, e eu comecei a sentir necessidade de fazer algo pelas pessoas tamb�m."
Come�ou a nascer a ideia da Renovatio, uma hist�ria de empreendedorismo social fundada por Toenjes e tr�s amigos h� tr�s anos que j� distribuiu 15 mil pares de �culos a pessoas carentes desde 2014.
VIS�O DE FUTURO
A meta � dar acesso � vis�o a 1 milh�o de brasileiros at� 2021. Para ser atingida, ele criou a VerBem, um neg�cio social, pelo qual cada par de �culos vendido a pre�os populares resulta em um doado a pessoas de baixa renda pela ONG.�
� um modelo inovador para enfrentar um desafio enorme diante do fato que 85% dos munic�pios do pa�s n�o contam com oftalmologista residente. Ralf enxergou uma solu��o durante um encontro do Enactus global, no M�xico, quando conheceu o projeto OneDollarGlasses, criado por Martin Aufmuth na Alemanha.
"Eles mostraram que 680 milh�es de pessoas no mundo, quase 10% da popula��o mundial, precisam de um par de �culos, mas n�o podem pagar por ele. Pensei: 'podemos aplicar isso no Brasil. N�o precisamos reinventar a roda'."
De volta, foi estudar o tema e descobriu que problemas relacionados � vis�o representam 23% dos casos de evas�o escolar no Brasil -que tem a terceira maior taxa de evas�o escolar (24,3%) entre os cem pa�ses de maior �ndice de Desenvolvimento Humano (IDH). "Se eu pudesse resolver s� esse problema, j� faria sentido ter um projeto de �culos no Brasil", resume.
Ao sonhar em ter uma iniciativa similar em casa, os alem�es disseram-lhe que seriam necess�rios 33 mil euros –para trazer tr�s m�quinas e material e para treinar as pessoas que produziriam os �culos.
"Eu disse: 'beleza, podem vir'. Mas a� come�ou a correria. Em 12 de maio, quando a equipe chegou aqui, a gente tinha s� R$ 3.000", conta ele, agora rindo. Uma semana depois, arrumou o dinheiro com o Bank of America, primeiro investidor-anjo da iniciativa.�Por meio de crowdfunding, captou mais R$ 45 mil.
Da� para frente, as coisas come�aram a andar melhor. E a ousadia de Toenjes foi recompensada com experi�ncias como as vividas em Barcarena e em tr�s outras comunidades do Par�, onde foram realizados os primeiros mutir�es. Um dos pares de �culos foi parar na face de um catador de a�a�, que nunca tinha feito consulta com um oftalmologista.�
"Quando ele saiu do consult�rio, j� usando os �culos para corrigir seus seis graus de miopia, come�ou a chorar e a dizer: 'N�o preciso mais subir, n�o preciso mais subir'". Ningu�m entendeu nada.�
Toenjes explica, emocionado: "Ele s� conseguia descobrir se o a�a� estava pronto para ser colhido quando subia no a�aizeiro, que chega a ter dez metros de altura, e chegava bem perto do fruto".
Com os �culos, o paraense passou a ver mais longe e o empreendedor tamb�m enxergou o impacto de sua ideia inovadora.