Retalhar recicla uniformes, empodera costureiras e aquece moradores de rua
Duas experi�ncias marcaram profundamente a vida do gestor ambiental Jonas Lessa, 25, e do bi�logo Lucas Corvacho, 28.
A primeira, de Jonas, foi ser l�der numa comunidade em que cabia a ele, entre outras tarefas, decidir qual fam�lia seria beneficiada pelos trabalhos da ONG Teto, que constr�i casas com ajuda de volunt�rios e ajuda a resolver problemas de localidades de extrema pobreza.
A de Lucas ocorreu do outro lado mundo, quando, trabalhando como pesquisador na Austr�lia, participou do desenvolvimento de um projeto para garantir a sustentabilidade de uma comunidade de pescadores no Timor Leste.
Esses trabalhos, assim como a forma��o de cada um, ajudaram Jonas e Lucas a moldarem as a��es da Retalhar.
Pensada no final de 2013 pelos dois amigos, que se conheceram em Pa�ba, em S�o Sebasti�o (SP), a empresa trabalha com a reciclagem de uniformes em duas frentes: ambiental e social.
ECONOMIA DE CARBONO
Na quest�o ambiental, ao evitar que 15,7 toneladas de tecido fossem incineradas ou aterradas, Lucas e Jonas alcan�aram o correspondente ao plantio de 200 mil mudas de �rvores contando a economia de carbono equivalente -231,2 toneladas- que deixou de ser emitida nos processos mais comuns de descarte t�xtil.
Ao mesmo tempo que auxilia empresas, garantindo seguran�a �s marcas, que seu uniforme ser� reaproveitado e/ou desfibrado, a Retalhar inaugura uma nova cadeia de neg�cio, em que atende ao lado social.
Ao contratar cooperativas de costureiras da periferia de S�o Paulo, como Brasil�ndia e Campo Limpo, a empresa tem mudado a vida de quem nem sonhava em ser parte fundamental numa cadeia produtiva.
"Mudou toda a nossa vida", diz Djenane Martins, 43, da Charlotte Arte em Costura, que diz ter recuperado sua autoestima ao ter conhecido a Retalhar.
"Sofri bullying na adolesc�ncia, engordei muito. O trabalho com a costura � o meu renascimento. Ter conhecido a Retalhar nos abriu muitos trabalhos. Hoje at� conseguimos tirar um sal�rio m�nimo", diz ela, que � uma das 33 costureiras em atua��o nos dias de hoje com a Retalhar, uma parceira que j� gerou R$ 85 mil em renda.
A partir desse contato com as costureiras, em que os retalhos viram todo tipo de produto, de porta tablet a mantas imperme�veis, que a Retalhar consegue impactar a vida de quem trabalha e vive na rua.
As mantas imperme�veis, inclusive, fruto de uma parceria com a Entrega por SP – mobiliza��o social que trabalha com a popula��o de rua–, s�o um dos produtos mais inovadores que foram vistos por quem vive na rua.
"H� 20 anos, trabalho na feira aqui do Pacaembu. Olho os carros, sou manobrista. Sou honesto e conhe�o tudo da rua. E quem fez essa manta aqui sabe das coisas, porque ela n�o deixa passar frio, n�o. A gente fica quentinho, como se estivesse em casa", afirma Carlos Alberto Silva, 48.
De acordo com ele, a manta antiga, feita com res�duos de fibras sint�ticas, soltava muito pelo e tamb�m deixava passar o vento frio. "Por isso teve gente que morreu de frio", afirma ele, que era torneiro mec�nico.
Al�m dele, outros 1.440 moradores de rua receberam cobertores imperme�veis, que deve durar at� dois meses nas ruas -o antigo, n�o passava de uma semana.
SEGURAN�A DA MARCA
N�o s� moradores de rua s�o impactados pelo trabalho da Retalhar. Catadores de material recicl�vel tamb�m se sentem mais seguros nas ruas com os uniformes doados por Lucas e Jonas.
"Eu tenho 31 anos e trabalho h� 20 na rua. N�s somos quase invis�veis. Mas esse uniforme torna a gente mais vis�vel. Quando pintaram a minha carro�a [o Pimp My Carro�a], ela se tornou vis�vel. Agora eu me torno vis�vel", afirma Gabriel Felipe Ortega Cazuza dos Santos.
De acordo com ele, o uniforme � mais resistente e permite que seja lavado, algo que n�o acontece com outras roupas. "A gente ganha t�nis, roupa nova. Se trabalhar com ela, estraga em dois dias. N�o dura. Fora que os uniformes, por permitirem a lavagem, evitam que a gente pegue bact�ria", diz.
Ele � um dos 440 catadores de material reciclado impactados pelo trabalho da Retalhar.
Al�m das pessoas que vivem e trabalham nas ruas, a Retalhar, que atua com grandes empresas como a FedEx, Leroy Merlin e concession�rias de rodovias, busca agora aprimorar tanto a cadeia criada pela log�stica reversa dos uniformes como quem participa dela, a fim de empoderar mais as pessoas.
"O uniforme tem um simbolismo muito grande para a gente. N�s trabalhamos isso de ter orgulho de vestir a camisa. Ent�o, saber que aquele uniforme que tinha sido usado est� virando um cobertor � um orgulho muito grande", afirma Denise Thomazotti, gerente de marketing da Fedex.
Segundo ela, o Brasil � o primeiro pa�s a fazer esse tipo de a��o na Fedex, que pretende levar o conceito da reciclagem de uniformes para fora do pa�s.
A seguran�a �s marcas � destacada, assim como o custo para a reciclagem, que chega ser igual ao de incinerar os uniformes.
"Al�m de desfibrar e recolocar esse material dentro do processo produtivo, eles filmam a descaracteriza��o do material. N�s temos certeza que esse uniforme n�o vai ser mal usado", afirma Eduardo Borges, gerente de sustentabilidade da Leroy Merlin.
Com essa a��o, a Retalhar conseguiu poupar o equivalente a 118 m� de volume de aterro, sem contar a economia de �gua, levando em conta que a produ��o de uma camiseta consome 2.495 litros.
Por isso, Jonas e Lucas vislumbram agora, al�m de expandir a Retalhar, como melhorar ainda mais a vida de quem faz parte da cadeia de produ��o da empresa, como aprimorar a forma��o e permitir o crescimento profissional.
Enquanto isso, os dois empreendedores, que fortaleceram a amizade no Carnaval de Pa�ba, se desdobram para divulgar a Retalhar perante novos clientes, no meio acad�mico e at� fora do pa�s. "Estamos plantando sementes e descobrindo novas experi�ncias", resume Jonas.