Às vésperas da COP28, é mais urgente do que nunca que enfrentemos os efeitos da desinformação e do negacionismo no debate global sobre a crise climática. Essa combinação perversa afeta a saúde e o bem-estar de milhões de pessoas, sobretudo dos mais vulneráveis, e retarda o processo de busca por soluções aos desafios impostos pela emergência do clima. A 28ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas acontece de 30 de novembro a 12 de dezembro, em Dubai, em meio a inúmeros exemplos de como o planeta tem padecido com as transformações do clima.
A problemática é implacável e está presente em cada localidade do planeta. No Brasil, a seca extrema na Amazônia e a onda de calor que atingiu o país nas últimas semanas trouxeram à tona não só relíquias arqueológicas na região de Manaus devido à baixa dos rios Negro e Solimões, mas também a necessidade de tratarmos o tema das mudanças climáticas e do aquecimento global como exemplos de como a desinformação afeta a sociedade, transcende barreiras territoriais e impacta nossas vidas.
Recente pesquisa elaborada pelo Reuters Institute, divulgada no último dia 14, mostra que a persistência da desinformação sobre mudanças climáticas e a crença em conteúdos fraudulentos são dois dos principais fatores que impedem uma ação mais contundente em prol da preservação do meio ambiente. Por outro lado, o estudo "Climate change news audiences 2023: Analysis of news use and attitudes in eight countries" revela percepções dos entrevistados favoráveis a uma quebra nos ciclos de informações falsas.
Segundo a pesquisa, realizada em oito países –Brasil, França, Alemanha, Índia, Japão, Paquistão, Reino Unido e Estados Unidos–, a maioria da população nessas regiões reconhece os perigos da desinformação: mais de três quartos (80%) dos entrevistados dizem estar preocupados com as informações falsas sobre as alterações climáticas. No Brasil, o índice é de 87%. Ocorre que, infelizmente, esses dados também indicam forte presença de informações falsas nessas localidades.
Um recorte do estudo revela que os cientistas continuam a ser as fontes mais fiáveis de notícias e informações sobre as alterações climáticas, com uma confiança de 73%, em média. O acesso a informações confiáveis aumentou, mas permanece limitado. Em média, 55% do público tem contato semanal com notícias e informações sobre alterações climáticas, um crescimento de 3% em relação ao ano passado.
Na prática, os dados da pesquisa sinalizam caminhos pelos quais podemos mitigar os impactos da desinformação. Um deles é o jornalismo profissional, que, de forma criteriosa, deve reproduzir informações com base na ciência. Espera-se também que a atividade jornalística vá além da narrativa dos desastres ambientais. A pesquisa do Reuters Institute indica uma proporção ligeiramente maior que manifesta interesse em "notícias que sugerem soluções que abordam as alterações climáticas" em comparação com "notícias que investigam irregularidades ou abusos de poder". Fortalecer o jornalismo local também é fundamental, principalmente em regiões mais afastadas dos grandes centros.
Um outro caminho, não menos importante que o jornalismo, é a educação midiática que, quando aplicada à questão das mudanças climáticas, desempenha vários papéis críticos: identificação de fontes confiáveis; compreensão da manipulação da informação; promoção do pensamento crítico; engajamento cívico; promoção de comunicação eficaz; e mitigação da polarização.
Precisamos aproveitar a comoção causada pelo calor e pelos eventos climáticos extremos que estamos vivenciando para levantar essa discussão tanto em fóruns internacionais como a COP28, mas também, e principalmente, incorporá-la no dia a dia de veículos de comunicação e escolas. Já é tempo de combatermos o negacionismo climático sem polarização, com informação de qualidade e pensamento crítico. Afinal, esta pauta é de toda a sociedade, independentemente de crenças e ideologias.
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