O cenário econômico está mais favorável para famílias que têm filhos em escolas particulares. É o que mostram os dados do Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo).
Segundo a entidade, a média de inadimplência entre janeiro e maio ficou em 6,55%. No mesmo período de 2022, o índice estava em 7,53%. O pior período do histórico recente foi em 2020, no ápice da pandemia de Covid-19. Naquele ano, 16% dos responsáveis atrasaram mensalidades.
Aos poucos, as escolas buscam recompor parte do que ficou represado. Pesquisa realizada em dez estados entre junho e julho pela empresa de gestão Meira Fernandes mostra que 97% das instituições ouvidas vão aumentar as mensalidades no ano que vem.
A maior parte planeja reajustes entre 7% e 10% em 2024, patamar superior à inflação projetada para este ano, de 4,93%, de acordo com o boletim Focus de segunda (11).
"Os nossos reajustes seguirão de acordo com a média de mercado, buscando repassar custos de serviços de que não podemos abrir mão, como o dissídio de professores", afirma Eduardo Flauzino Mendes, diretor-geral do Colégio Agostiniano Mendel. Durante a pandemia, a instituição ofereceu até 40% de desconto.
Com mais de 4.000 alunos matriculados, o nível de inadimplência da escola varia de 5% a 8%. Segundo Mendes, esse indicador já está dentro da média histórica da instituição, localizada no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo.
Hoje, o colégio oferece até parcelamento no cartão. As mensalidades variam de R$ 2.125 a R$ 2.925.
Com 1.600 estudantes, o Colégio do Carmo, em Santos (litoral de São Paulo), oferece programas de descontos, como concursos para bolsas.
De acordo com Silvia Maria Smolka Marques, diretora-executiva, o número de alunos aumentou cerca de 12% no pós-pandemia, e o reajuste das mensalidades teve variações de 10% a 12%.
No Colégio Humboldt (Interlagos, zona sul de São Paulo), a inadimplência fica em torno de 3% e cai até próximo de 2%, se forem considerados atrasos de até três meses, diz Erik Horner, diretor pedagógico e administrativo.
A explicação está no fato de o colégio ser uma sociedade escolar sem fins lucrativos, em que todos os pais são associados, com 900 alunos e mensalidade média de R$ 4.000.
Há uma espécie de bolsa que mantém a mensalidade em dia por um ano, podendo ser renovada. Existe ainda o seguro que cobre atrasos por morte ou desemprego do responsável financeiro.
Desistência é pior que inadimplência. Até hoje não recuperamos os números do período pré-pandemia
No Colégio Mondrian, na Chácara Inglesa (zona sul de São Paulo), há a possibilidade de os pais trabalharem para a escola em troca de parte das mensalidades, além de adiar pagamentos até que a situação melhore, diz Sayiuri Toyoshima, diretora administrativa.
Mesmo com a renegociação, a escola Petit Kids, de educação infantil, perdeu alunos. "Desistência é pior que inadimplência. Até hoje não recuperamos os números do período pré-pandemia", diz Fernanda King, diretora e fundadora da instituição, localizada na região central da capital paulista. Ela afirma que o reajuste para 2024 deve ficar em torno de 8,5%, dependendo do dissídio de professores e de outros insumos.
A professora de idiomas Mariana Garcia Thompson, 35, precisou negociar duas vezes com a Petit, mas manteve sua filha, Ana, agora com quatro anos, na escola.
A primeira negociação aconteceu na pandemia. A segunda, quando teve de tratar um câncer. Em ambas as situações, chegou a pensar em matricular a filha numa escola pública. Porém, ao fazer as contas, optou pela conversa com o colégio.
"Pouco antes da pandemia, eu e meu marido montamos um restaurante. Precisávamos manter a Ana numa escola integral e gostamos muito da Petit Kids", conta.
O primeiro acordo reduziu a mensalidade de R$ 2.500 para R$ 800 na crise sanitária.
Quando Mariana adoeceu, a família optou por fechar o restaurante. Negociaram novamente, no fim de 2021.
De alta, Mariana está voltando a trabalhar. A família consegue pagar a mensalidade graças ao acordo de manutenção das parcelas, sem reajuste, de aproximadamente R$ 2.800.
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