Descrição de chapéu greve

Alunos da Escola Politécnica da USP entram em greve após duas décadas

Unidade se junta a outras em queixa pela falta de professores na universidade; assembleia terminou em tumulto

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Alunos da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) estão em greve. Na noite desta segunda (25), eles aprovaram apoio ao movimento iniciado por estudantes da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) em razão da falta de professores na instituição. Mas não sem confusão.

O histórico da unidade responsável pelos cursos de engenharia é de aversão a paralisações. A última ocorreu em 2002, também motivada por déficit de docentes.

Pressionada pela maciça adesão de outras unidades ao boicote às aulas, a Poli convocou uma assembleia emergencial. A ideia do Grêmio Politécnico e do Diretório Acadêmico era deliberar acerca de um plebiscito pela anuência ou pela condenação à greve.

Sala de aula de prédio da Escola Politécnica da USP, em São Paulo, vazia nesta terça-feira (26) - Danilo Verpa/Folhapress

Cerca de 300 estudantes compareceram, dos mais de 5.000 lá matriculados. Por maioria, rejeitaram postergar qualquer decisão, descartando o plebiscito, e decretaram naquele momento a diretriz de paralisação e "cadeiraço".

O tumulto estava instaurado. Os derrotados chamavam a assembleia de antidemocrática. Xingamentos eram trocados. Agentes da Polícia Militar e da guarda universitária apareciam por todos os lados. As primeiras cadeiras eram colocadas nas portas e nos portões.

"Acredito que, da maneira que foi feita, a decisão pela greve é autoritária e puramente militante", disse Guilherme Martins, 24, estudante de engenharia civil. "Se a reunião estava marcada para elaborar um plebiscito, isso deveria ter sido feito", continuou.

Gestora do centro acadêmico de engenharia elétrica da Politécnica, Ana Custodio, 20, discorda. Para ela, foi acertada a rápida decisão pela greve. "A opinião da maioria sempre se impõe", afirmou.

A administração da Escola Politécnica cancelou todas as atividades desta terça-feira (26) e afirma estar em permanente contato e diálogo com as lideranças estudantis.

Nesta manhã, porém, os alunos contrários à paralisação adentraram a Cidade Universitária dispostos a derrubar quaisquer barreiras e ocupar as salas. Alguns professores os apoiavam. Houve novo confronto de ideias. Mais uma vez os grevistas saíram vencedores.

Em nota, a reitoria da USP diz realizar esforço para contratar novos profissionais.

"No último ano, disponibilizamos 879 vagas para a contratação de professores, concedidas a partir das demandas apresentadas pelas próprias unidades", diz a nota. "Temos 641 vagas para preencher e 238 já foram preenchidas."

PARALISAÇÃO GANHA CORPO

Também na noite desta segunda, alunos da Faculdade de Direito da USP, no largo São Francisco, decidiram aderir à greve. A decisão foi tomada em assembleia com a presença de 630 estudantes. Segundo o Centro Acadêmico 11 de Agosto, 606 alunos votaram a favor da paralisação.

O movimento na USP começou no último dia 18, quando alunos dos cursos de letras e geografia pretendiam realizar um protesto contra a falta de professores.

Por volta das 19h daquele dia, a diretoria da FFLCH enviou um email aos estudantes dizendo que todas as atividades estavam suspensas. Na sequência, os prédios foram esvaziados e trancados devido ao temor de que fossem invadidos. A guarda universitária foi acionada, e viaturas da PM foram enviadas ao local.

Após a ação, alunos de outros cursos da FFLCH —ciências sociais, história e filosofia— decidiram apoiar a paralisação.

Uma lista de exigências foi endereçada ao diretor do espaço, Paulo Martins: liberação dos prédios; saída dos agentes de segurança dos espaços estudantis; agendamento de reunião entre a reitoria e os alunos; e retratação pública de Martins, gravado xingando os estudantes.

Os três primeiros pontos foram atendidos. Em entrevista à Folha, Martins disse não pretender pedir desculpas por sua atitude e criticou os articuladores do movimento, dizendo que "usam as mesmas armas da direita bolsonarista". A declaração gerou revolta.

Até a tarde desta terça, alunos da FMUSP (Faculdade de Medicina), da FEA (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária), da FOUSP (Faculdade de Odontologia), da FCF (Faculdade de Ciências Farmacêuticas) e da EEFE (Escola de Educação Física e Esporte) não tinham se manifestado sobre a greve.

Nas duas últimas décadas, a USP ampliou o número de estudantes matriculados sem garantir o mesmo ritmo na contratação de professores. Assim, a proporção de docente por aluno caiu 28% no período.

Em 2002, a instituição tinha 0,07 educador para cada matriculado, em média. Em 2022, o número caiu para 0,05. Os dados foram obtidos pela Associação de Docentes a partir do anuário estatístico da universidade.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.