Uma investigação da Human Rights Watch identificou que sites e aplicativos de educação utilizados por crianças e adolescentes em 49 países violaram a privacidade e outros direitos dos menores durante a pandemia de Covid-19, quando o ensino se tornou remoto.
De 164 produtos desenvolvidos pelas chamadas edtechs (empresas de tecnologia do setor de ensino), 89% "colocaram em risco ou diretamente violava a privacidade e outros direitos de crianças e adolescentes para finalidades não relacionadas à sua educação'', segundo a organização.
Em boa parte dos casos, o compartilhamento se deu com gigantes de tecnologia, empresas corretoras de dados e companhias de publicidade digital.
Confira como esse fluxo de informações na internet costuma se dar:
Plataformas de ensino instalam tecnologias de rastreamento, como ad trackers ou cookies, que compartilham dados dos usuários com terceiros, muitas vezes ligados ao setor publicitário e de segmentação de propaganda digital.
O envio de informações ao mercado publicitário, sem que isso esteja explícito nos termos de uso ou nas políticas de privacidade, vai contra os princípios internacionais de proteção de menores.
Os dados privados que eventualmente são compartilhados com terceiros dizem muito sobre um indivíduo. São eles: localização precisa, contatos salvos do telefone (é possível identificar quem é a "mãe", o "pai" e a "avó", por exemplo), rapidez de movimento do mouse, palavras digitadas na plataforma de ensino (mesmo os textos que não foram enviados) e diversos padrões de interação virtual.
Na posse desses dados anonimizados (tornados anônimos), empresas do mercado publicitário agregam informações em diferentes grupos, baseados nos comportamentos online dos usuários.
Algumas tecnologias de rastreamento são capazes de "perseguir" a criança por toda sua navegação na internet. Com esses dados reunidos, anunciantes podem segmentar as propagandas e alcançar públicos bem definidos, já que esses dados permitem inferir até a renda estimada da família da criança.
Nesse modelo, crianças e adolescentes viram alvo da publicidade comportamental antes de terem desenvolvido a capacidade de diferenciá-los.
Algoritmos de empresas de publicidade passam a determinar a experiência online da criança, às vezes reforçando estereótipos de consumo (como a venda de boneca para meninas e de carrinho para meninos) e influenciando crenças e opiniões.
As pessoas nascidas na última década fazem parte da primeira geração que tem os dados amplamente coletados por essas tecnologias digitais desde muito cedo, o que pode determinar uma experiência adulta ainda mais "sob medida" na internet.
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