O mercado de aquisições de escolas particulares de elite avançou em meio à crise do coronavírus. Na noite desta sexta-feira (17), será anunciada a compra da Escola Viva, na Vila Olímpia (zona sul de São Paulo), pelo grupo Bahema, numa operação de R$ 50 milhões, considerando dívidas bancárias e passivos fiscais.
Dono de nove estabelecimentos de ensino, o grupo fez em 2017 sua aquisição mais surpreendente, a da também paulistana Escola da Vila, reconhecida pelo projeto pedagógico de vanguarda.
Os investidores irão lançar para essas duas escolas, ambas com mensalidades em torno de R$ 4.000, e para outras escolas do grupo, um programa de financiamento para as famílias que tiveram a renda afetada em razão da pandemia do coronavírus.
Pelos próximos três meses (maio, junho e julho), metade do valor das mensalidades poderá ser financiado em 16 parcelas, com taxa de 0,5% ao mês sobre o saldo devedor, a serem pagas entre setembro de 2020 e dezembro de 2021.
De acordo com o Bahema, a arrecadação com a taxa será revertida para um programa de bolsas sociais para alunos de baixa renda em 2021. Há ainda a possibilidade de ampliar o programa, a depender de quanto tempo irá durar o confinamento. Por outro lado, quem puder pagar antecipadamente mensalidades e a matrícula de 2021 receberá desconto.
Segundo Guilherme Affonso Ferreira Filho, diretor-presidente do grupo Bahema, o programa de financiamento não impedirá a realização de outras negociações com as famílias. “Vamos analisar individualmente, de acordo com as necessidades, para conseguir atender a todos que precisarem”, afirmou à Folha.
As negociações já têm ocorrido nas escolas particulares, pressionadas por pais de alunos a reduzir as mensalidades ou mesmo a isentá-los do pagamento durante o isolamento, e esse modelo de financiamento poderá crescer em meio à crise.
Diretor pedagógico da Escola Viva, Francisco Ferreira diz estar em estudo um parcelamento maior dos valores para o ensino infantil, que depende essencialmente do suporte dos pais para acesso ao conteúdo digital e quase não tem aulas online ao vivo.
“Nesse nível, a dificuldade com o ensino a distancia é naturalmente maior, por isso temos de pensar em iniciativas específicas para essas famílias e entender suas aflições.”
A Escola Viva nasceu há 40 anos na Vila Olímpia, a partir de um ateliê de artes, e segue uma proposta sócio-construtivista. Em uma área nobre da capital paulista, cercada por edifícios, possui quatro unidades, em um total de 9.000 m², com jardins, casa na árvore, chão de terra batida para brincar e até bichinhos, como marrecos, coelhos e galinhas.
São 850 alunos, do ensino infantil ao médio. Desde 2018, já havia um acordo com o Bahema para a gestão administrativa da Viva, e o contrato previa a opção de compra.
O grupo iniciou o investimento em educação básica em 2016, com escolas em São Paulo, Niterói, Belo Horizonte, Recife e no Rio de Janeiro, num total hoje de mais de 9.000 alunos. O diretor-presidente afirma que a aquisição da Viva não tem relação com a crise imposta pelo coronavírus, mas avalia que a pandemia poderá acelerar aquisições neste mercado, que já vinha aquecido nos últimos anos.
“As escolas vão sofrer porque grande parte de seus orçamentos, de 60% a 80%, é direcionado à folha de pagamento. A equipe, principalmente pedagógica, tem trabalhado incansavelmente para transportar o projeto pedagógico para o ambiente virtual. É impensável considerar uma redução significativa de custos, caso as queiram manter a qualidade.”
Por outro lado, lembra, “as famílias estão sendo afetadas pela crise e é inevitável que muitas escolas passem por dificuldades financeiras”. “É possível que isso acelere um processo de consolidação ou fusão de escolas em grupos de educação”, acredita.
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