Curr�culo novo n�o basta para ensino melhorar, afirma gestora americana
Divulga��o | ||
Gestora respons�vel pela �rea pedag�gica do Departamento de Educa��o da Louisiana, Rebecca Kocler |
Estado norte-americano com renda per capita abaixo da m�dia daquele pa�s, Louisiana tem chamado aten��o pelos avan�os em seus indicadores educacionais.
O Estado alcan�ou o maior avan�o na 4� s�rie no �ltimo exame nacional em leitura; em matem�tica, o segundo maior crescimento (em ambas as mat�rias, por�m, segue abaixo da m�dia).
Uma das chaves apontadas para esse desempenho foi uma reforma no sistema educacional tendo como base novos padr�es para aprendizagem e novos curr�culos.
Esses documentos passaram a nortear escolha de materiais did�ticos, forma��o de professores e avalia��o.
A mudan�a come�ou em 2010, quando organiza��o que representa os Estados lan�ou documento que estabeleceu o que cada aluno deveria saber, em cada s�rie, do ensino infantil ao m�dio (programa chamado "Common Core", o n�cleo comum).
A ado��o de pol�tica semelhante est� em curso no Brasil, com a Base Nacional Comum Curricular. A vers�o final brasileira foi aprovada nesta sexta-feira (15) e aguarda homologa��o do Minist�rio da Educa��o.
Como nos EUA, a ideia � que o documento sirva como diretriz para definir o que os alunos devem aprender.
Cada Estado define ent�o como implement�-la e as estrat�gias a serem usadas para que os alunos aprendam o que se espera (o curr�culo).
O caso da Louisiana, mesmo visto como de sucesso nos EUA, mostra o qu�o dif�cil � a implementa��o de tal pol�tica. Se os alunos da 4� s�rie melhoraram, os da 8� obtiveram notas menores (seguindo um padr�o nacional).
O pr�prio Common Core, sete anos ap�s o lan�amento, foi abandonado por ao menos 8 dos 45 Estados que o adotaram inicialmente.
�reas republicanas passaram a ver a iniciativa excessivamente atrelada ao ent�o presidente democrata Barack Obama. Em alguns Estados, como Nova York, a implementa��o foi acelerada e passou a sofrer resist�ncia de professores e alunos.
Em Louisiana, o Common Core sobrevive. Estudo da ONG Rand mostrou que professores do Estado s�o os que mais alinharam suas atividades ao n�cleo comum.
No fim de outubro, o Movimento pela Base, organiza��o privada que defende a Base Nacional brasileira, trouxe para S�o Paulo a gestora respons�vel pela �rea pedag�gica do Departamento de Educa��o da Louisiana. Rebecca Kockler, 36, falou com professores e gestores sobre a implementa��o do curr�culo.
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Folha - Por que Louisiana tem chamado aten��o nos EUA?
Rebecca Kockler - Temos fornecido muitos recursos para os distritos [munic�pios] melhorarem a forma de ensinar. Outros Estados ficam mais na determina��o das grandes diretrizes. Decidimos fazer isso porque vimos disparidades muito grandes no Estado em padr�es e expectativas de aprendizagem.
O que nos importa � que os estudantes acumulem conhecimento a cada ano, e n�o replicar o que sempre foi feito. Se decidimos aumentar as expectativas de aprendizagem, precis�vamos aumentar o apoio ao sistema. Alunos de baixa performance come�aram a melhorar. Muita gente come�ou a perguntar como isso ocorreu.
As notas em Louisiana t�m aumentado na 4� s�rie, mesmo durante a ado��o dos novos curr�culos. Em outros Estados, as notas desabaram durante esse processo. O que h� de diferente em Louisiana?
N�o acho que voc� possa individualizar uma �nica pol�tica para explicar os resultados. Dentro das escolas, vemos coisas que melhoraram rapidamente devido aos novos padr�es e curr�culos. Os alunos est�o lendo livros que n�o liam h� cinco anos.
Mas estender essa explica��o para o �mbito estadual � muito mais complexo. N�o est� claro se foi por causa do curr�culo ou da capacidade dos professores ou outra coisa. Talvez seja uma mescla.
O que est� claro � que os professores ensinam hoje considerando uma meta mais alta. N�o que isso ocorra em todas as classes, todos os dias. Isso leva tempo e muito trabalho. Os padr�es por si n�o mudam a forma de ensinar.
Isso vem com a implementa��o: avalia��o, treinamento de professores.
Por outro lado, voc� n�o consegue mudar sem novos padr�es. Nossos estudantes devem estar em condi��es de competir com os de Massachusetts [o melhor Estado nos EUA]. Para isso, precisamos saber onde est� a barra deles, para ajustarmos a nossa barra.
Estados t�m abandonado o Common Core. O que Louisiana faz para manter a pol�tica?
Primeiro, gostaria de ressaltar que muitos dos Estados que n�o est�o usando mais o Common Core, na verdade, mudaram o nome, mas mantiveram praticamente o mesmo conte�do. Fizeram pequenos ajustes, como n�s.
Uma das coisas que nos impulsionou na implementa��o foi a participa��o dos professores. Chamamos entre 100 e 200 professores, dependendo do ano, para nos ajudar. Avaliaram a elabora��o dos materiais. Comunicaram o que estava mudando para os demais professores.
Eles sabiam dos desafios e das grandes expectativas para os estudantes. Eles n�o falavam "diminuam as expectativas", mas, sim, "precisamos de mais recursos aqui".
Mudamos diversas coisas a partir dessa participa��o. Curr�culo � o maior exemplo.
Inicialmente, pensamos em n�o interferir tanto na instru��o. Os professores disseram: "Est� mudando tanto que n�o precisamos apenas de exemplos de li��es, precisamos ter definido como deve ser a instru��o dia a dia".
Como voc�s trabalharam os exames ligados ao novo curr�culo [em Nova York, professores reclamaram que os testes vieram antes dos treinos para ensinar os novos m�todos]?
Adotamos o Parc [avalia��o com base no Common Core] mas fizemos adapta��es.
O desempenho dos alunos nos exames tem impacto na avalia��o dos professores: 35% da avalia��o do docente tem como base esses exames; 15% pode ser por avalia��o interna da escola; e 50% de observa��o do trabalho do professor. Quando come�amos os novos padr�es, suspendemos por dois anos os 35% dos exames. Foi um per�odo de aprendizagem. Hoje, o sistema voltou ao que era.
O que acontece com professor com baixa avalia��o?
� uma decis�o dos distritos. Eles podem decidir quem contratar ou demitir professores. Alguns pagam um extra, de acordo com essa avalia��o. Alguns usam as duas coisas.
Qual o impacto dessa avalia��o na implementa��o do novo curr�culo?
Foi importante. Obviamente essa forma de avalia��o sempre causa tens�o, mas no nosso caso entendemos que foi ben�fico. A implementa��o fluiu melhor em locais onde os exames foram mais levados em conta.
Por que 8� s�rie n�o melhora?
Primeiramente, os dados mais recentes do Naep [a avalia��o americana] se referem a um per�odo que o novo curr�culo havia sido implementado havia apenas dois anos.
Alunos na 8� s�rie v�m com defasagens muito maiores acumuladas do que os da 4� s�rie. � dif�cil ensinar �lgebra se o estudante n�o sabe fra��o. E mudan�as levam tempo para trazerem resultado. Nos nossos exames estaduais temos visto melhorias na 8� s�rie. Mas se isso n�o se repetir no Naep, certamente teremos uma grande pergunta a responder: o que n�o est� bem?
O que voc� pode falar para o Brasil sobre implementa��o?
Implementar novos padr�es � dif�cil, mas todos alunos s�o capazes de chegar ao esperado. � dif�cil aumentar expectativas, e se voc� n�o tem clara a import�ncia disso, voc� baixa a barra, o pior que pode acontecer.
Estejam pr�ximos aos seus professores. Terceiro, as mudan�as demoram. Adaptem a pol�tica para os contextos locais. E n�o � porque voc� adotou novos padr�es que as crian�as v�o aprender mais. A ado��o de padr�es e curr�culos � apenas o primeiro passo.
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Raio X
Trajet�ria
Ex-professora de hist�ria e ci�ncias em escolas p�blicas de Nova J�rsei e Nova York
Cargo
Superintendente-assistente de conte�do acad�mico do Departamento de Educa��o de Louisiana, Estado no sudeste dos EUA, que tem a 38� maior renda per capita entre os 50 Estados norte-americanos
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