Nova proposta para hist�ria corrige falhas, mas ainda � linear demais
A nova vers�o do programa de hist�ria da BNCC (Base Nacional Comum Curricular ) segue uma linha muito mais tradicional do que a adotada no primeiro rascunho do documento, que causou pol�mica no ano passado.
Os pais das crian�as e adolescentes de hoje n�o teriam dificuldade para reconhecer mais ou menos os mesmos assuntos em seus livros did�ticos de 30 anos atr�s –um fato que, ali�s, tem implica��es positivas e negativas.
O bafaf� literalmente hist�rico despertado pela primeira vers�o da BNCC tinha a ver com uma aparente tentativa de reinventar a roda. No curr�culo original de hist�ria, quase n�o havia refer�ncia � Antiguidade (e, em especial, � import�ncia das civiliza��es grega e romana), � Idade M�dia, ao Renascimento e ao Iluminismo europeus.
No lugar desses marcos cl�ssicos da hist�ria do Ocidente, optava-se por valorizar as origens n�o ocidentais de boa parte da popula��o brasileira: os reinos africanos da Idade do Ferro (dos quais vieram os escravos do Brasil colonial e imperial), as diferentes etnias ind�genas das Am�ricas e suas civiliza��es.
Conforme os estudantes passavam a analisar per�odos hist�ricos mais recentes, privilegiava-se a hist�ria brasileira e latino-americana (at� pouco tempo atr�s, a saga de nossos vizinhos quase n�o era mencionada na escola).
Base Nacional Comum Curricular
Nesse caso, a ideia era dar destaque � trajet�ria de movimentos de resist�ncia popular, tradicionalmente associados � esquerda. Boa parte desse enfoque foi eliminada na vers�o "2.0" do texto, que agora retorna aos temas tradicionais e � linearidade temporal desde o 6� ano do ensino fundamental.
Os alunos come�am pelo que seria o in�cio da civiliza��o ocidental (a Gr�cia Antiga) e avan�am rumo ao presente, at� chegar a temas que os vestibulandos de antigamente classificavam como "atualidades" (quest�o Israel-Palestina, mundo p�s-Guerra Fria etc.).
Esse parece ser um dos sen�es da nova proposta: ela � excessivamente linear. Escolheu-se concentrar tudo sobre Antiguidade e Idade M�dia (uns 3.000 anos de hist�ria) no 6� ano, por exemplo -e s�o temas que n�o ser�o retomados no ensino m�dio.
Isso pode ter dois efeitos indesej�veis: alguns temas complicados e cruciais (democracia grega, origem do cristianismo, feudalismo) s� seriam estudados pela garotada de 11 anos, que teria poucas chances de conhec�-los com mais profundidade; e as rela��es entre os per�odos mais antigos e o mundo contempor�neo n�o ficam t�o claras.
Como entender a quest�o palestina atual sem falar da di�spora judaica (criada na �poca romana) e da expans�o do Isl� (fen�meno medieval), por exemplo? Recapitular esses temas no ensino m�dio seria salutar.
Um problema que n�o � exclusivo do curr�culo de hist�ria � a relativa falta de "conversa" entre as diferentes �reas do conhecimento.
Nesse ponto, a nova lista de conte�dos m�nimos para hist�ria n�o avan�a, o que � uma pena, j� que t�m crescido os esfor�os de pesquisa que tentam entender melhor as rela��es entre os processos hist�ricos e elementos de outras ci�ncias naturais.
Uma vez corrigido o desequil�brio de atentar apenas � nossa heran�a ind�gena e africana, seria desej�vel que os alunos comparassem as trajet�rias das civiliza��es nos diferentes continentes, em busca de elementos que expliquem por que os europeus acabaram invadindo e conquistando as Am�ricas, e n�o o contr�rio, por exemplo (doen�as infecciosas e domestica��o de animais parecem ter tido muito a ver com isso).
Entender que esses acidentes n�o tiveram rela��o com superioridade intelectual ou racial seria uma maneira instigante de preparar os alunos para os desafios do presente.
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