Moradores do Pacaembu, bairro na região oeste de São Paulo, instalaram duas cancelas para controlar o acesso de carros a uma rua com cerca de 200 metros de extensão e habitada por 11 famílias. A medida, segundo eles, é uma forma de combater a violência na região, que vive alta de assaltos.
A compra e a instalação dos equipamentos teve apoio unânime de quem habita a rua Itaperuna, segundo o vice-presidente da associação que representa os moradores, Marcos Jordão Teixeira do Amaral Filho. Os vizinhos também arcaram com as despesas. "Estamos no exercício de um direito. Está previsto em lei feita em 2016, durante a gestão do prefeito Fernando Haddad [PT]", diz.
Ele se refere ao texto conhecido como "lei das vilas", que regulamenta a restrição à circulação em ruas sem saída e sem impacto no trânsito local na cidade, aprovado em maio de 2016. Nesses locais, a circulação pode se manter restrita a moradores e visitantes.
No caso, a solicitação deve ser analisada pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), responsável por medir os impactos no trânsito na capital.
Procurada, a subprefeitura Sé informou que as cancelas foram instaladas sem autorização e, por isso, vai notificar os moradores para removê-las.
Dono de uma das 11 casas da rua, o vice-presidente da associação contou que três residências foram alvo de assaltos nos últimos anos, além de um roubo descrito como traumático na rua próxima, em que uma idosa foi mantida refém sob a mira de uma arma na frente dos netos.
Nos cinco primeiros meses do ano, a região do 23º distrito policial (Perdizes), que atende o bairro, teve aumento de 18% nos casos de roubos em comparação com o mesmo período no ano anterior –de 1.069 subiu para 1.262 ocorrências.
Em relação a roubos e furtos a residências, a Secretaria de Segurança Pública afirma em nota que os casos na área caíram 40,24% entre janeiro a maio deste ano em comparação com o mesmo período de 2023.
A instalação das cancelas motivou debates acalorados nos grupos de mensagens do bairro, com opiniões favoráveis e contrárias à medida. "A maioria das ruas do bairro tem baixo volume de trânsito. Se restringirmos todas, as principais serão impactadas, além de favorecer a criação de um corredor de comércio no bairro, outro tipo de problema", diz Vera de Carvalho Enderle, moradora de uma vila na divisa com o bairro Sumaré.
Ela mapeou cerca de dez ruas no entorno com as mesmas características e, portanto, passíveis de terem a circulação restringida.
Segundo ela, moradores rejeitaram a instalação de um portão para restringir o acesso à vila, que dispõe de uma pequena praça. "Só ia aumentar a sensação de insegurança", diz. "As pessoas estão muito individualistas, só pensam na própria segurança", opina.
Outro motivo que mobilizou a instalação das cancelas foi o uso da rua como estacionamento de caminhões quando há filmagens e eventos no Nacional Club, localizado no quarteirão vizinho. Segundo os moradores, os veículos usados para transportar equipamentos causam transtornos durante os finais de semana e aumentam a sensação de insegurança.
O diretor social do clube, Antonio José Ribas Paiva, rebateu as acusações. "Ele querem justificar uma irregularidade com uma queixa falsa. O clube não tem objetivo comercial. Estamos promovendo o tombamento do prédio, uma forma de protegê-lo da especulação imobiliária", diz.
Por enquanto, o sistema de restrição de acesso à rua Itaperuna está em fase de testes, segundo o vice-presidente da associação, e só será colocado em funcionamento após o aval do poder público. O pedido de autorização foi protocolado pelos moradores no último dia 12, mas a gestão municipal afirmou nesta terça-feira (23) que vai solicitar a remoção por ter sido feita sem autorização. "Nos antecipamos já que há um período de tramitação para esse tipo de pedido", diz Amaral Filho.
Uma vez em funcionamento, as cancelas serão acionadas por controladores de acesso contratados pelos moradores para registrar os motoristas. "Não vamos impedir ninguém de passar pela rua, a ideia é que a pessoa se identifique", diz o vice-presidente da associação. "Queremos uma solução que não seja excludente, mas achamos justo controlar o acesso por uma questão de segurança e de conforto também. Queremos receber uma visita que possa parar o carro na porta sem ser submetida a uma situação incontrolável", continua.
O morador também pondera que a rua é habitada, na maioria, por idosos, mais suscetíveis a ataques de ladrões. "Esse processo de envelhecimento aconteceu em todo Pacaembu, não só das casas, mas também dos moradores. É um problema que a cidade vai ter que enfrentar no futuro", diz.
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