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Queda de pontes em enchente afasta famílias e leva caos a deslocamentos no RS

População encara passarela flutuante para cruzar rio entre os municípios de Lajeado e Arroio do Meio

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Lajeado (RS)

Andrieli Flores, 29, estava ansiosa na manhã desta quarta-feira (5). Depois de perder a casa na enchente que devastou em maio o município gaúcho de Cruzeiro do Sul (a 120 km de Porto Alegre), no Vale do Taquari, ela iria reencontrar familiares, incluindo um filho de 11 anos, na cidade próxima de Arroio do Meio. A mãe não via o menino havia um mês.

Para reencontrá-lo, foi necessário vencer um medo: cruzar uma passarela flutuante sobre o rio Forqueta, entre Lajeado e Arroio do Meio, também no Vale do Taquari.

A região teve áreas devastadas pela enchente de maio, incluindo a ponte que ligava as duas cidades pela RS-130. A estrutura foi arrancada da rodovia pela força das águas.

Foto aérea mostra ponte arrancada pela cheia do rio Forqueta na RS-130, entre Lajeado e Arroio do Meio; ao fundo, está a passarela flutuante instalada pelo Exército de forma provisória - Anselmo Cunha/Folhapress

"Faz um mês que não vejo meu filho. Hoje estou criando coragem para atravessar a passadeira", disse Flores à Folha antes de fazer a travessia.

Ela precisou do auxílio do Exército para cruzar a estrutura temporária, porque estava acompanhada de outros dois filhos –uma criança de cinco meses e outra de quatro anos. Os militares atuam nos dois lados do rio, distribuindo coletes salva-vidas para quem utiliza a passarela.

Histórias como a de Flores se repetem diariamente desde que a cheia histórica castigou a infraestrutura local. A outra ponte que conectava Lajeado a Arroio do Meio também foi arrancada, aumentando o caos logístico na região.

Essa segunda ponte era menor, de ferro. Uma construtora está trabalhando na reconstrução. A promessa da empresa é finalizar as obras em um prazo de até 15 dias, que se estende até o próximo final de semana.

No caso da ponte da RS-130, o governo do Rio Grande do Sul assinou nesta semana um contrato com outra companhia para a construção de uma nova estrutura. A obra, estimada em cerca de R$ 14 milhões, contemplará uma extensão de 150 metros. O término está previsto em seis meses.

Enquanto isso não ocorre, a população tem de se desdobrar para atravessar o rio pela passarela flutuante, que não recebe carros. Os veículos ficam estacionados antes da travessia, nos dois lados do rio.

Na manhã desta quarta, no lado de Lajeado, a fila de carros parados era de cerca de um quilômetro nos dois acostamentos da RS-130.

Para acessar a passarela, é preciso descer um barranco até a margem do Forqueta. Em seguida, é feita a travessia. Ao chegar a outra margem, é necessário subir outro barranco.

O vaivém de pessoas é constante. São adultos carregando caixas e sacolas, mães e pais com filhos, idosos, gente com bicicleta e até moradores com pets.

A professora aposentada Márcia Elisa Garibotti, 58, mora em Teutônia e costumava visitar familiares em Encantado antes da enchente. As duas cidades também ficam no Vale do Taquari, e o deslocamento passa pela RS-130, entre Lajeado e Arroio do Meio.

O percurso de carro costumava levar em torno de 40 minutos. Com a queda da ponte, ela resolveu pegar ônibus antes e depois da passadeira. O tempo a ser gasto para chegar a Encantado ficaria em cerca de cinco horas, diz Garibotti.

"Está muito difícil", diz a professora aposentada, que teve um apartamento inundado pela cheia do Taquari em Lajeado.

A passarela flutuante é uma forma de atenuar os impactos logísticos causados pela tragédia ambiental, que dificultou o acesso especialmente a Arroio do Meio.

Durante o mês de maio, a estrutura chegou a ser rompida após novas chuvas e precisou ser restabelecida.

Sem a ponte da RS-130, o empresário Gaspar Mallmann, 44, e um funcionário tiveram de cruzar a passadeira de Arroio do Meio a Lajeado na manhã desta quarta.

Os dois carregavam caixas de equipamentos que seriam entregues para um cliente. A encomenda, segundo o empresário, era urgente. O cliente iria buscar de carro os materiais na saída da passarela.

A empresa de Mallmann fabrica componentes para balcões refrigerados e foi atingida pela enchente de maio. O negócio mudou de lugar em Arroio do Meio após o desastre ambiental.

"A fábrica anterior ficou debaixo d’água", afirma o empresário.

O técnico agropecuário Anderson Klafki, 38, também é impactado pelo prejuízo logístico causado pela enchente. Ele saiu de Lajeado para buscar uma encomenda em Arroio do Meio nesta quarta. Outra pessoa precisou ser mobilizada para fazer a entrega para Klafki.

"De carro, levaria uns cinco minutos. Agora, devo demorar meia hora", conta. "Hoje até que foi rápido, não tinha muita fila."

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