Recuperação de bombas reduziu impacto de nova inundação em Porto Alegre, diz pesquisador

Levantamento aponta que número de casas de bombas em funcionamento foi de 5 a 9 entre os dois picos do Guaíba

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Salvador

A recuperação de parte das 23 estações de bombeamento de água pluviais reduziu o impacto das inundações em Porto Alegre no segundo pico das cheias do lago Guaíba registrado nesta semana.

A avaliação é do engenheiro ambiental Iporã Possantti, doutorando no IPH (Instituto de Pesquisas Hidrológicas) da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Ele afirma que parte do impacto do primeiro pico do Guaíba, registrado no início do mês, seria mitigado caso mais bombas estivessem em operação.

Levantamento realizado pelo IPH aponta que apenas cinco casas de bombas estavam funcionando no dia 8 de maio, número que subiu para 14 na última terça (14), pico da nova cheia, e chegou a nove no dia seguinte.

Centro histórico de Porto Alegre segue alagado nesta sexta (17) - Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

A capital gaúcha, assim como boa parte do Rio Grande do Sul, enfrenta consequências da maior inundação da história, que deixou mais de 154 mortos, centenas de feridos e 461 municípios afetados

Em Porto Alegre, o sistema de proteção contra cheias colapsou diante da primeira enchente no início do mês, quando o nível do lago Guaíba atingiu a marca de 5,33 metros na régua do Cais, no dia 5.

A inundação afetou em torno de 150 mil habitantes e 84 mil domicílios, incluindo o Centro Administrativo, o aeroporto internacional Salgado Filho, a estação rodoviária e hospitais.

Na ocasião, afirma o pesquisador, foram inundados em Porto Alegre todos os sete pôlderes da cidade —pôlder é o nome técnico dado para as áreas de planície que são protegidas pelos diques.

O cenário mudou na segunda cheia do Guaíba, quando foi atingido um pico de 5,2 metros no Cais Mauá.

Imagens de satélite e fotografias de campo mostraram que a instalação de geradores na casa de bombas 12 evitou uma nova inundação do pôlder Praia de Belas, mesmo com a cheia no Guaíba com um pico de apenas 10 cm menor em relação ao anterior.

Áreas como a do entorno do estádio Beira Rio, asilo Padre Cacique e Parque Marinha, afirma Possantti, estavam secos nesta quarta-feira (15).

De acordo com o pesquisador, a nova inundação foi evitada por medidas tomadas para a instalação de geradores que fizeram as casas de bombas que drenam essas áreas voltarem a funcionar.

Na avaliação de Iporã Possantti, ainda é preciso apontar o porquê de o sistema ter falhado durante o primeiro pico das cheias do Guaíba e identificar o quão evitável foi a inundação em Porto Alegre.

"Existiu durante a primeira semana um rumor de que tudo era inevitável. Tudo foi uma grande maldade divina, tudo foi uma grande punição do além. Só que a gente está vendo que não é bem assim", diz Possantti.

Ele destaca que existiam e estavam disponíveis soluções tecnológicas e técnicas para impedir a inundação da capital gaúcha. "Ninguém inventou a roda agora. Então a questão que começa a se abrir é o quão evitável as coisas foram."

O pesquisador destaca que esta avaliação deve levar em conta nuances, como os casos em que a água verteu por cima dos diques e ultrapassou os sistemas de proteção, como no bairro Sarandi.

Conforme apontado em reportagem da Folha, o sistema de proteção contra cheias de Porto Alegre recebeu 23% a menos do orçamento destinado à manutenção dos equipamentos nos últimos sete anos.

No período, dos R$ 21,5 milhões previstos para o serviço, foram gastos R$ 16,4 milhões, segundo dados da Transparência da gestão Sebastião Melo (MDB) –são R$ 5 milhões de diferença; os valores foram atualizados pela inflação.

A manutenção dos equipamentos dos diques, comportas e sistemas de bombeamento de água pluvial da cidade é feita pela Bombas Sinos Indústria e Comércio Ltda desde 2017, quando foi assinado contrato na gestão do ex-prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB), com repasses anuais de R$ 2,6 milhões, em média.

O contrato foi aditado pelo atual prefeito, Sebastião Melo (PSDB), que também não despendeu a totalidade do orçamento previsto para o serviço. Em 2023, foram gastos 73% do R$ 4,2 milhões previstos.

Em entrevista à Folha nesta quarta, o prefeito disse que sua gestão fez "um investimento bastante razoável" nos últimos três anos, mas não foi suficiente.

"Estou muito consciente da minha responsabilidade, tenho procurado ser um prefeito pé no chão, vou continuar desse jeito, e posso dizer que nesses três anos, envolvendo drenagem urbana, tratamento de água, toda essa área, nós passamos aqui da casa, entre financiamento e não financiamento, de meio bilhão de reais", afirmou Melo.

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