Porto Alegre tem lama e cheiro de peixe morto após água começar a baixar

Moradores de Cidade Baixa, Praia de Belas e Azenha começam a voltar para suas casas e tomar conhecimento dos estragos

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Porto Alegre

O recuo do alagamento em bairros de Porto Alegre deu início nesta quarta-feira (15) a uma nova etapa na limpeza de prédios e ruas. Alguns moradores dos bairros Cidade Baixa, Praia de Belas e Azenha já conseguiram acessar suas casas e agora encaram a lama e o cheiro de peixe morto que ficou pelas ruas.

Na rua 17 de Junho, no bairro Praia de Belas, a jornalista Cristine Pires, 52, conta que seu prédio ficou com o térreo e parte dos degraus da escada cobertos de lama. Agora, ela e os vizinhos estão se planejando para iniciar a limpeza pesada.

"A ideia é reunir os moradores para fazermos uma força-tarefa, mas por enquanto não tem como, pois estamos sem luz e vamos precisar de lava-jato", disse. "Ontem só passamos um rodo para tirar o mais grosso da sujeira. O cheiro de podridão é muito forte porque tem muitos peixes mortos pelo chão, alguns inclusive no pátio do meu prédio."

Peixe morto em ciclovia da rua Érico Veríssimo, na Cidade Baixa, em Porto Alegre - Carlos Villela/Folhapress

Na rua José Honorato dos Santos, no bairro Azenha, a água baixou mais de 50 cm e já abriu caminho para a passagem de um caminhão-guincho, que buscava um carro com lama até o teto. A água ainda transborda por bueiros próximos dali, mas o escoamento rápido das bocas de lobo impede uma nova inundação.

O mau cheiro nas redondezas é forte. Na avenida Érico Veríssimo, há peixes mortos pela ciclovia.

Na rua André Belo, paralela à 17 de Junho, pessoas estão retornando às suas casas para ver o tamanho do estrago. "A faxina não vai ser agora", diz a moradora Sueli Silva. "Ainda tem muita coisa para tirar".

O alagamento no apartamento térreo chegou a pouco mais de 30 centímetros, o suficiente para estragar diversos móveis. A prioridade será primeiro remover o entulho, para daí começar a limpeza.

Sueli conta que já havia retornado para seu apartamento na terça (14), usando galochas, e encontrou móveis estufados e o chão enlameado.

O que possibilita o início da faxina é o conserto gradativo das EBAPs (Estações de Bombeamento de Água Pluvial). Das 23 EBAPs, 9 estão em funcionamento, dentre elas a que permite a captação da água na região.

Na zona norte, alguns pontos alagados podem ter redução no nível da água com o religamento da casa de bomba 5, que abrange o Humaitá e a Vila Farrapos, na manhã desta quarta. Agora, é preciso reativar outras estações, como a 6 (bairro Anchieta), a 8 (Vila Farrapos), a 9 (Várzea do Sarandi) e a 10 (Vilas Elizabeth, União e Nova Brasília).

O Sarandi, que tem 91 mil habitantes, é um dos mais afetados pela enchente do Guaíba e está entre os 21 bairros priorizados para essa primeira fase de limpeza da cidade.

A auxiliar administrativa Cíntia Kovalski, 39, é moradora do bairro e espera que a água baixe de vez para poder começar a arrumação. Ela conseguiu retornar para casa com o marido na Vila Elizabeth, parte do Sarandi, por algumas horas no domingo (12), quando a água estava mais alta.

"Fomos a pé, achamos um acesso sem água e conseguimos chegar até a rua", conta. "Entramos com água na canela no início da rua, e chegando no endereço a água alcançava 1,5 metro de altura."

Cíntia havia recém renovado o mobiliário, mas pouco não ficou debaixo d’água. No imóvel encontrou bastante lama, portas de madeira inchadas e móveis caídos. A pia do banheiro se soltou, e pertences boiavam pelos cômodos.

Com a expectativa de diminuição no nível da água, a ideia é priorizar a limpeza de alguns móveis, como o sofá e o rack de televisão, para tentar recuperá-los, assim como eletrodomésticos como geladeira, fogão e máquina de lavar roupas.

"Do restante dos móveis da sala de estar e dos quartos eu acredito que não iremos conseguir salvar nada", diz. "Não pretendemos comprar móveis novos, estava pagando ainda a maioria, mas vou precisar de pia para cozinha e armário para guardar os mantimentos."

"Ainda não temos ideia de como será. Penso que teremos que lavar tudo de lava-jato", completa Cíntia, que também está preocupada com as condições do imóvel em que mora desde que nasceu. "Vimos um pouco da destruição, mas ainda é cedo para mensurar o estrago."

De acordo com o secretário municipal de Serviços Urbanos, Assis Arroyo, a operação de limpeza vai ocorrer por meio de contratos emergenciais. "Muitas regiões grandes da cidade estão submersas. Temos mais de mil quilômetros de vias submersas, praticamente um terço das vias da cidade. É bastante coisa a se fazer", disse.

Ele explica que, em lugares em que a água baixou em decorrência do bombeamento, já há equipes atuando. Nas outras áreas é preciso esperar que a água baixe mais.

"Nossa prioridade agora é limpar as vias e dar acesso às pessoas", diz Arroyo. O maior desafio, segundo ele, está na zona norte, um local de "população densa e área muito alagada".

A primeira etapa de limpeza será composta por 20 equipes, cada uma com 25 operários, dispondo de duas retroescavadeiras, três pás carregadeiras e oito caminhões para retirada de detritos, além de duas vassouras mecânicas, dois hidrojatos e um caminhão-pipa.

Cada equipe de limpeza destinará o entulho a um ponto único do bairro, onde será feito um novo recolhimento para envio a uma das quatro unidades provisórias de recebimento dos resíduos.

O passo seguinte será a limpeza das residências. Segundo Arroyo, já há voluntários mobilizados para esse processo. Com o caminho aberto para que as pessoas consigam chegar em suas casas para faxinar, terá início uma nova ação para recolher móveis perdidos e outros descartes.

O secretário diz ainda que a Prefeitura de Porto Alegre pede a colaboração de outras cidades do Brasil com o envio de maquinário para auxiliar na limpeza. "Tem que ser rápido", diz Arroyo. "Se não tiver bastante equipamento, vai demorar muito."

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