Descrição de chapéu Obituário Renildes Alcântara dos Santos (1944 - 2024)

Mortes: Cabeluda foi a cafetina mais famosa do Recôncavo Baiano

Renildes era sobrevivente de violência doméstica e foi homenageada até pela Câmara dos Vereadores

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Juazeiro (BA)

No centro de Cachoeira (BA), uma casa azul de portas e janelas brancas foi durante muitos anos o ponto de encontro de homens que buscavam prazer sexual ou uma boa prosa com cerveja gelada. O Brega de Cabeluda era o bordel mais antigo da cidade e o mais famoso do Recôncavo Baiano.

Cabeluda, que poderia ser facilmente uma personagem de Jorge Amado (1912-2001), comandou o local por quase cinco décadas. Seu brega era diferenciado. Ela não agenciava as meninas, cada uma negociava como queria, apenas alugava o quarto que era pago por hora. Não entravam homens sem camisa, menores de 18 anos nem substâncias ilícitas.

Suas histórias povoam o imaginário popular da região. Para proteger suas meninas, chegou a andar armada. Já deu tiros para cima para expulsar homens bêbados do local. Certa vez, fez um rapaz andar nu pela cidade porque não pagou a conta.

Renildes Alcântara dos Santos (1944 - 2024)
Renildes Alcântara dos Santos (1944 - 2024) - Arquivo pessoal

"É uma guerreira, uma mulher que fez de tudo para criar os seus filhos. Além de ser uma personalidade forte, era uma pessoa muito generosa, muito humana", afirma Gleysa Teixeira Siqueira, 40, autora do livro "Uma História de Cabeluda: Mulher, Mãe e Cafetina" (Dialética, 2022).

Renildes Alcântara dos Santos nasceu em Itabuna (BA), em 1944, na comunidade de Coquinhos. Aos 13 anos, foi obrigada a se casar com um homem mais velho, com quem teve duas filhas. Após anos de violência doméstica, deixou as crianças com a mãe e fugiu, aos 20 anos, levando apenas a roupa do corpo.

Rodou cidades do interior da Bahia e, aos 27, se estabeleceu em Cachoeira. Para garantir o sustento, foi levada à prostituição. De cabelos compridos e muitos pelos no corpo, logo recebeu o apelido com o qual ficou famosa.

Cabeluda teve mais uma filha biológica e criou muitas crianças da comunidade em que morava. "Desde que eu me entendo por gente, estava nos braços dela. Meu pai, solteiro, criava os filhos em frente à casa dela e, vendo a dificuldade, ela tomou partido. Fomos crescendo e também a adotamos como mãe", diz Jeferson Chaves, 42.

A vida toda foi muito ativa. Todos os dias ia à feira livre fazer as compras para preparar a comida dos filhos e das moças que trabalhavam em seu estabelecimento. "Era o hobby dela. Quando não tinha mais forças para caminhar, ia de moto táxi", afirma o filho.

Um vereador chegou a oferecer o título de cidadã da cidade para Cabeluda, mas ela recusou. Dizia que já se sentia cachoeirana.

Em 2014, após um infarto, reaproximou-se da família, pois precisava de alguns documentos. Reencontrou os irmãos e as filhas, mas, como fez "Tieta do Agreste", só contou que tinha um boteco.

Dez anos depois, outro infarto levou Cabeluda à morte, no último 6 de maio, aos 80 anos. Seu corpo foi velado na Câmara de Vereadores e o funeral teve um cortejo pelas ruas da cidade histórica. Um grande grupo acompanhou o caixão, a maioria homens, ao som de Rita Lee cantando "Pagu".

Deixa três filhas biológicas e oito filhos do coração, além de três netas.

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