O menino de sete anos ferido durante ação da Polícia Militar em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, no dia 17 de abril, ficou cego do olho direito. A informação foi dada pelo advogado da família, André Lozano.
A criança seguia para a escola com a mãe, por volta das 8h, quando ficou no meio a uma troca de tiros entre PMs e suspeitos. Passado um mês do episódio ainda não se sabe qual foi o objeto que acertou o menino.
O menino ficou internado e hoje faz tratamento no Hospital das Clínicas. A mãe da criança, que pediu para não ser identificada, disse que a internação trouxe sérios problemas financeiros para a família, uma vez que precisou deixar de trabalhar como diarista. Ela também relatou que tem recebido apoio de parentes para arcar com despesas como alimentação e aluguel.
A mãe afirma ter sido abandona pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), que não teria oferecido nenhum apoio à família. A reportagem procurou a Secretaria de Comunicação do governo, mas não obteve respostas até a publicação deste texto.
Logo após ser ferido, o menino foi socorrido e levado para a AMA Paraisópolis, no entorno da favela. A gravidade da lesão fez com que ele fosse transferido para o Hospital Municipal do Campo Limpo. Na unidade mãe e filho foram vigiados durante dias por policiais militares.
"O Estado estava mais preocupado em intimidar a mãe do que em garantir o atendimento médico correto para a criança. Com isso, os procedimentos médicos que deveriam ter sido tomados imediatamente foram postergados, ao que parece, porque a Polícia Militar queria dar a aparência de que não havia qualquer problema com a criança", afirmou Lozano.
A PM e a SSP (Secretaria da Segurança Pública) também foram procuradas para comentar as declarações do advogado, mas não enviaram resposta.
Horas após o menino ser atingido, quando ele recebia atendimento no Hospital do Campo Limpo, o porta-voz da PM, coronel Emerson Massera, disse em entrevista coletiva que o tiro que poderia ter ferido a criança não partiu dos policiais.
Para o ouvidor das Polícias de São Paulo, professor Claudio Aparecido Silva, há muito o que esclarecer.
"Esse caso está muito nebuloso, exatamente pela atuação atabalhoada da Polícia Militar desde o início da ocorrência até o desfecho, com a perda da visão da criança. A Ouvidoria vai continuar no caso, oferecendo todo apoio a vítima e a família", disse o ouvidor.
Versão dos fatos apresentada por um PM em boletim de ocorrência diz que policiais realizavam patrulhamento na favela quando avistaram dois homens que teriam fugido aos vê-los. Um terceiro homem teria disparado cerca de dez tiros em direção aos PMs, que revidaram. O suposto criminoso fugiu.
Um trecho do BO diz que, "na ocasião dos fatos, uma criança, se evadiu correndo e apresentava ferimentos na cabeça, motivo pelo qual foi socorrida". Em outro trecho do documento é dito que no hospital tomaram conhecimento que o ferimento apresentado na criança seria "superficial" e poderia ter causado por "estilhaços ou uma queda".
O delegado do caso, Rogerio Zuim Uehara, optou por não apreender as armas usadas pelos policiais militares.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.