A escola Unidos do Viradouro conquistou nesta quarta-feira (14) o seu terceiro título de campeã do Carnaval do Rio de Janeiro. A escola de Niterói, região metropolitana, foi a última a desfilar no Grupo Especial e fez um desfile tecnicamente perfeito ao levar para a Sapucaí o enredo "Arroboboi, Dangbé", sobre o culto vodum às serpentes.
Sob os cuidados do carnavalesco Tarcísio Zanon, a Viradouro mergulhou no cosmo do vodum, tradição religiosa da costa ocidental africana que tem suas raízes entre o povo jeje e uidá. O enredo saudou o vodum, palavra que significa espírito na língua bês.
Antes do início da apuração, o locutor das notas Jorge Perlingeiro anunciou que quatro escolas entraram com pedido de punição contra a Viradouro por, supostamente, usar mais de 15 pessoas em sua comissão de frente.
A Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) afirmou que os recursos foram aceitos, mas só serão analisados nesta quinta-feira (15). No entanto, mesmo com uma eventual punição, o resultado não deve mudar. A escola não quis saber e festejou muito a conquista.
No desfile da Viradouro, a divindade foi muito bem representada na comissão de frente. A apresentação, considerada uma das mais surpreendentes do Carnaval, trazia uma serpente que rastejava pela pista da Sapucaí. O efeito do elemento cenográfico acontecia com o auxílio de uma pessoa, deitada sobre uma estrutura com rodas.
Boa parte das alegorias da Viradouro tinham elementos que giravam em círculo, representando o movimento das serpentes. No refrão do samba-enredo, o vodum serpente era mais uma vez louvado: Arroboboi significa "salve o espírito infinito da serpente".
Ao finalizar o desfile na última noite do Carnaval carioca, a agremiação foi seguida pelo arrastão da Sapucaí —isto é, o público deixou frisas, camarotes e arquibancadas para invadir a avenida. Em uma espécie de canto premonitório, os presentes cantavam o samba a capela: "Arroboboi dangbé, desfila seu axé na alma e no couro. Derrama nesse chão a sua proteção pra vitória da Viradouro".
A campeã foi uma das escolas que mais usaram a iluminação cênica, novidade do Carnaval deste ano. No momento em que as luzes da avenida se apagavam, sobressaíam as cores neon das fantasias e do abre-alas, especialmente no primeiro setor do desfile.
A bateria puxada pelo mestre Ciça também trouxe força à apresentação e puxou o canto das arquibancadas para um samba difícil de cantar, visto a quantidade de palavras estrangeiras.
"Trabalho coroado, trabalho realizado com amor, dedicação. Isso é a maior alegria da vida, ser campeão", disse mestre Ciça, emocionado, após o anúncio da vitória da Viradouro.
No resumo do enredo, a Viradouro escreveu: "Caminhos abertos, a predição do oráculo revela a permissão e prenuncia tempos de luta de vitória".
Mostrando desde as épicas batalhas da costa ocidental da África às sacerdotisas voduns, dinastia de mulheres escolhidas por Dangbé, a escola de Niterói conquistou o seu terceiro título e acalmou os corações daqueles que esperavam a vitória desde o desfile de 2023, quando a Viradouro conquistou o vice-campeonato.
Neste ano, a apuração das campeãs não aconteceu na Apoteose, como costuma ser feito, mas sim na Cidade do Samba, onde ficam os barracões.
Após o anúncio da vitória da Viradouro, a escola fez um minidesfile pelo local e contou com integrantes de outras escolas em sua bateria para comemorar o campeonato.
A quadra da escola, em Niterói, ficou lotada para a comemoração. A festa na agremiação do bairro do Barreto começou antes mesmo do anúncio oficial da vitória.
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